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PM monta gabinete de crise para evitar desabastecimento de combustível em São Paulo

Guilherme Balza*

Do UOL, em São Paulo

06/03/2012 16h33Atualizada em 06/03/2012 17h57

A Polícia Militar de São Paulo, junto com as principais distribuidoras de combustíveis, montou, desde de 8h desta terça-feira (6), um gabinete de crise para impedir que grevistas barrem os caminhões de combustível que não estão participando da greve da categoria.

O principal trabalho da polícia será fazer a escolta dos caminhões que não participam da greve. Os caminhoneiros ligados ao Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo) protestam desde ontem contra a proibição de circular na marginal Tietê em determinados períodos.

Com escassez, usuário estoca combustível

Fazem parte do gabinete o Comando de Policiamento da capital e seu similar da região metropolitana, além da Polícia Militar Rodoviária, da Tropa de Choque, de funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), SPTrans e representantes das distribuidoras.

O gabinete monitora os principais pontos de distribuição de combustível --na Mooca (São Paulo), Mauá, São Caetano, Guarulhos, Barueri e Paulínia-- e aciona as medidas que julgar cabíveis. O principal trabalho da polícia será fazer a escolta dos caminhões que não participam da greve.

As escoltas estão priorizando caminhões que levam combustível para hospitais, serviços de emergência (Polícia Militar e do Corpo dos Bombeiros) e para o transporte rodoviário e aeroportos. 

“Quem diz o que é prioridade são as empresas de distribuição. O esquema da PM já está montado, mas as empresas, que têm a logística, indicam onde precisarmos ir”, afirmou o major Soffner.

Todos os batalhões da Polícia Militar na região metropolitana estão de prontidão para atender as solicitações. Segundo o major, a PM não coagirá os caminhoneiros a encerrar a greve. “Não podemos força-los a voltar ao trabalho. Não é esse o nosso papel. Só vamos fazer a escolta dos que querem trabalhar.”

Durante esta terça-feira, foram realizadas seis escoltas: uma em Mauá, outra em Suzano, e três na capital: nos bairros de Sapopemba, Ipiranga e Bom Retiro. Outros três caminhões foram escoltados do município de Paulínia até o aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital. A prioridade é atender caminhões que abasteçam hospitais, polícia e bombeiros, mas casos de transporte rodoviário e aeroportos também estão sendo atendidos.

A paralisação dos caminhões distribuidores de combustível já causa desabastecimento na cidade de São Paulo e diversos consumidores fazem fila nos postos para encher o tanque de seus veículos. Balanço divulgado pelo Sincopetro (sindicato dos postos de combustível) aponta que combustível já acabou em 55 postos.

Falta de combustível nos postos

Um funcionário de um posto de gasolina na avenida Prof. Francisco Morato, no Butantã, na zona oeste de São Paulo, relatou nesta terça (6) a falta de combustível. “O último abastecimento foi no sábado. Estamos sem gasolina especial desde ontem (5) à tarde”, afirmou Humberto Fialho. “Se até quarta não normalizar, nenhum posto em São Paulo vai ter combustível.” 

Gerentes e proprietários de postos de combustíveis afirmam que estão sem informações sobre a volta do abastecimento. O gerente de um posto na zona oeste de São Paulo, Luís Augusto Corbisier, estima já ter prejuízo de cerca de R$ 6.000 a R$ 7.000.

A veterinária Carina Lourenco Cantagallo conta que já na noite de segunda-feira percebeu que os postos estavam muito cheios. No fim da manhã desta terça, ela aproveitou para também encher os tanques dos carros da família. "Os postos estavam muito cheios, aumentaram os preços já.” 

O presidente do Sincopetro, José Alberto de Paiva Gouveia, foi procurado para comentar a paralisação nos postos de combustível, mas ainda não retornou as ligações da reportagem. Ontem (5), Gouveia afirmou que os postos da cidade não receberam “uma gota de combustível”. Ele estimou que, se o movimento for mantido, os estoques durarão apenas até quarta-feira (7).

Gouveia disse que vai encaminhar um ofício à prefeitura pedindo a volta das negociações com os caminhoneiros. “Não estamos pedindo nem a solução, porque não é problema que nós possamos resolver. Mas que eles pelo menos voltem à mesa de negociação.”

Ontem, o presidente do Sindicam falou por telefone com a secretário dos Transportes, mas as partes não chegaram a nenhum acordo. Não há previsão de reunião para se chegar ao fim da paralisação.

Adesão

O Sindicam afirma que a adesão é de 100%, mas motoristas que tentaram furar a paralisação foram impedidos de trafegar nesta manhã. Segundo informações da Polícia Militar, um boletim de ocorrência foi registrado por um caminhoneiro que teve sua chave tomada quando tentava deixar uma distribuidora em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Em nota com data de ontem, o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), entidade que representa as principais companhias distribuidoras de combustíveis, afirmou que manifestantes também obstruíram o acesso de caminhões-tanques nas bases de Guarulhos e Barueri.

Segundo a assessoria de imprensa do Sindicam, há 255 mil caminhoneiros ligados ao órgão em todo o Estado, sendo 54 mil na capital. A paralisação foi decidida em assembleia no último domingo e, segundo cálculos do Sindicam, há 800 caminhões que fazem o abastecimento de combustíveis parados. Estão sendo abastecidos apenas os serviços de emergência, como bombeiros, polícia, aeroportos e serviços de saúde. Segundo o Sindicam, o ataque na manhã de hoje foi um ato isolado e não representa o movimento.

O Sindicom lamentou as ações. "Infelizmente, estas manifestações se dão de forma violenta, com depredações de veículos e ameaças a funcionários e motoristas", afirmou a entidade em nota. O sindicato disse ainda que tentaria providenciar "meios legais" para garantir proteção a suas atividades. O Sindicom ainda não divulgou uma estimativa inicial dos prejuízos causados pela paralisação.

Desabastecimento em outras áreas

O primeiro segmento a aderir foi o de combustíveis, mas hoje também paralisaram as atividades os caminhoneiros que trabalham com materiais de construção, caminhões-caçamba e devem parar também os caminhões que abastecem os supermercados da capital, segundo o Sindicam.

"A intransigência das autoridades municipais tem levado vários segmentos a aderirem à manifestação", destacou em nota o presidente do Sindicam-SP, Norival de Almeida Silva. 

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo informou que os estoques das empresas de ônibus que atendem a capital paulista são suficientes para garantir o abastecimento da frota até quarta-feira (7).

Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Claudinei Pelegrini, os transportadores não têm condições de arcar com o aumento de custos com a mudança de percurso, definida após a restrição.

Com as interdições, a associação disse que um caminhão que vai de Barueri (SP) para São Paulo, que hoje percorre 32 km, passaria a rodar 143 km. “Quem vai acabar pagando a diferença desse custo é o consumidor final. É combustível a mais, pedágio a mais, horas de trabalho a mais para os caminhoneiros”, enumera Pelegrini.

Prefeitura

Na manhã de hoje, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) afirmou que poderia "aperfeiçoar" a restrição de caminhões na marginal, caso fosse necessário, mas disse não acreditar que haveria mudança no horário da proibição de circulação.

Em nota divulgada hoje, a Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo afirmou repudiar a paralisação e defendeu a restrição nas vias da cidade.

A secretaria disse ainda que está “trabalhando para que o abastecimento de combustível não seja prejudicado” e que “os sindicatos que incitam a greve e tentam marcar posição contra as novas regras de tráfego (...) sempre encontraram um canal aberto com a SMT”.

A Prefeitura de São Paulo procurou ontem o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado (Setcesp) e outras entidades representantes de caminhoneiros para negociar. Segundo o presidente do Sindicam, eles não foram convidados. "Se ele entrou em contato com algum sindicato não foi conosco. O único contato que tivemos com um órgão público foi com o secretário de Transportes, Marcelo Cardinale Branco, que também não deu retorno sobre o que conversamos ontem", afirmou.

* Com reportagem de Ana Paula Rocha e das agências Brasil e Estado