Topo

CRM investiga morte de mulher após lipoaspiração em centro oftalmológico de Maceió

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

09/03/2012 06h00

O CRM-AL (Conselho Regional de Medicina de Alagoas) vai investigar a morte de uma funcionária pública que morreu durante uma cirurgia de lipoaspiração em um centro oftalmológico em Maceió. O procedimento foi realizado na última terça-feira (6), e a família questiona se o local tinha estrutura para realizar o procedimento com segurança.

Segundo familiares, Raquel Martins Damasceno, 47, se submeteu a uma lipoaspiração na barriga e nas coxas e faria também um enxerto nas nádegas do material retirado. Durante a cirurgia, a paciente sofreu uma parada cardíaca e, após reanimada pela equipe, teve de ser transferida às pressas para um outro hospital que tem UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Segundo o laudo emitido pela Santa Casa de Misericórdia, para onde foi levada, Raquel morreu devido a três paradas cardíacas e um quadro de embolia gordurosa. Já o atestado de óbito do IML (Instituto Médico Legal) afirma que a morte teve causa indeterminada.

Segundo apurou o UOL com especialistas, embolia gordurosa é algo raro em uma cirurgia de lipoaspiração e pode ocorrer por alguns motivos, não só por falha do cirurgião. O problema pode acontecer quando um pedaço da gordura entra na corrente sanguínea e vai parar no pulmão, causando a embolia pulmonar e, consequentemente, a parada cardíaca.

Raquel era funcionária pública, tinha três filhas e uma neta. Segundo a família, ela decidiu pela cirurgia meramente por “questões estéticas.” O irmão dela, Raul Martins, afirmou que Raquel pagou cerca de R$ 15 mil pelo procedimento. “A cirurgia deveria ter durado quatro horas. Já estávamos preocupados porque ela estava há oito horas na mesa de cirurgia quando o médico veio nos avisar que tinha ocorrido um problema durante o procedimento e que ela necessitaria ser transferida para um hospital com UTI”, disse.

O irmão cita que Raquel foi questionada sobre a estrutura do Instituto de Olhos de Maceió para a realização da cirurgia. “Minha mãe e eu achamos estranho quando ela disse que faria lá, porque não sabíamos se uma clínica para olhos teria todo o equipamento para uma cirurgia de lipoaspiração. Mas foi um fato que não nos preocupamos, afinal ela estava saudável, praticava exercícios físicos”, contou Martins.

O irmão da vítima afirmou que já está reunindo a documentação para ingressar com uma ação judicial e pretende questionar se o instituto tinha estrutura para realizar cirurgias plásticas. “Vamos deixar passar esses dias para tomar a decisão.”

Investigação

O presidente do CRM-AL, Fernando de Araújo Pedrosa, afirmou que a família de Raquel ainda não fez a denúncia contra a equipe médica, mas, devido à repercussão do caso, informou que vai iniciar as investigações. “Temos acesso aos médicos envolvidos e eles virão prestar esclarecimentos”, disse, destacando que a família da funcionária pública precisa ir ao CRM-AL para denunciar o caso.

Pedrosa afirmou que vai solicitar os prontuários médicos aos dois hospitais, além de exames pré-operatórios e os laudos da morte. Ele disse ainda que o CRM-AL vai realizar inspeção no local em que Raquel foi operada, mas já adiantou que o tipo de cirurgia a qual ela se submeteu não necessitaria ser realizada em um hospital com UTI, e que o cirurgião plástico Valter França é habilitado para realizar cirurgias plásticas.

“Cirurgias de pequeno e médio porte não precisam de hospital com UTI, como é o caso do Instituto de Olhos de Maceió, que possui um centro cirúrgico. A abdominoplastia é de médio porte, e raramente o paciente necessita de um atendimento em UTI no pós-operatório. A meu ver o que deve ter ocorrido foi um acidente raro”, explicou Pedrosa, destacando que o cirurgião plástico é “um dos três mais renomados” da capital alagoana.

Instituto defende estrutura

O diretor do Instituto de Olhos de Maceió, Alan Barbosa, disse ao UOL que a unidade funciona há 15 anos com cirurgias oftalmológicas e cirurgias plásticas. Segundo ele, os cirurgiões preferem operar no instituto para não correr riscos de infecção e para dar mais segurança ao paciente.

“Realizamos cirurgias oftalmológicas, que são limpas, e o centro cirúrgico também é equipado para realizar procedimentos de pequeno e médio porte, como cirurgias plásticas e lipoaspiração. Em quase 16 anos de atuação, que vamos completar em abril, nunca tínhamos registrado caso de óbito, este foi o primeiro”, disse Barbosa, afirmando que a morte de Raquel foi uma “fatalidade”. “A equipe médica estabilizou o quadro da paciente e ela foi transferida com vida do instituto para a Santa Casa, por questões de segurança e porque ela necessitou de cuidados de uma UTI”, afirmou.

O advogado do cirurgião plástico Valter França, Carlos Henrique Ferreira Costa, afirmou que o médico atribuiu a morte da paciente também a uma “fatalidade” e se solidarizou com a família de Raquel. “A lipoaspiração da paciente havia sido adiada do dia 27 de fevereiro para o último dia 6 porque a paciente não havia levado todos os exames pré-operatórios solicitados pelo médico. Valter França é muito cauteloso ao examinar seus pacientes e só opera os que estão aptos, como foi o caso de Raquel, que gozava de boa saúde”, alegou.