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Dono de clínica em Belo Horizonte onde mulher morreu responde a 2 processos por erro médico

Kátia Maciel Dias, 39, segura bebê no colo; Kátia morreu após se submeter a uma lipoaspiração em Belo Horizonte - Álbum de família
Kátia Maciel Dias, 39, segura bebê no colo; Kátia morreu após se submeter a uma lipoaspiração em Belo Horizonte Imagem: Álbum de família

Rayder Bragon

Especial para o UOL Notícias<BR>Em Belo Horizonte

11/07/2011 13h42

Duas mulheres mantêm ações na Justiça de Minas Gerais contra o médico Joshemar Heringer, dono de clínica em Belo Horizonte onde uma mulher morreu na última quinta-feira (7), por supostos erros médicos causados em cirurgias que teriam sido realizadas pelo cirurgião. 

Uma cabeleireira, moradora da cidade de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, que afirma ter sido submetida a uma cirurgia para implante de próteses de silicone em 2006 na clínica de Heringer, diz ter ficado com sequelas do procedimento cirúrgico.

“Eu fiquei quatro meses com os seios abertos, com buracos no peito. Os pontos arrebentavam, as incisões não cicatrizavam e o ferimento abria. Tive de retirar as próteses”, disse a mulher, que voltou à mesa de cirurgia por mais três vezes na tentativa de sanar o problema e hoje convive com cicatrizes no local da cirurgia. 

“Eu perguntava a ele o que estava acontecendo, e ele dizia que não sabia”, disse a paciente, que afirmou ter tomado “muito remédio” para tentar debelar a dor. Ela afirmou ter optado por não procurar mais o médico por “falta de confiança” nele.

“Depois de quatro meses, quando finalmente houve a cicatrização, ele propôs reparar a cirurgia. Mas eu falei à época que jamais ele me tocaria de novo. Eu poderia ter morrido porque o local infeccionou muito.”

Automutilação?

Segundo o marido da cabeleireira, o médico teria cogitado a hipótese de a mulher ter se automutilado. “Em uma das vezes em que ele nos chamou à clínica dois médicos convocados por ele examinaram a minha esposa e sugeriram que ela poderia ter se automutilado. Aquilo gerou um desconforto muito grande e desistimos de continuar a manter contato com ele”, afirmou o homem.

A cabeleireira disse que, além das sequelas físicas, seu estado emocional foi bastante afetado. “É muito dolorido para mim até relembrar o que aconteceu. A família me ajudou muito a superar isso. Eu jamais iria me automutilar. A pessoa quando não tem o que justificar inventa uma história absurda dessa.”

O casal pede na Justiça ressarcimento por danos morais no valor de 600 salários mínimos (R$ 327 mil), e ela aguarda para passar por perícia.

O advogado do médico, Astério Loureiro Júnior, afirmou que seu cliente nega as acusações. “Não houve erro médico nenhum. Ela já havia sido submetida a uma cirurgia em um dos seios para retirada de nódulos cancerígenos e queria igualá-los, mas não tinha como ficar igual”, disse Júnior.

Queloides

No outro caso, cuja ação foi proposta em 2003, a advogada Giane Severina dos Reis afirma que a cliente, após uma mamoplastia realizada na clínica de Heringer, ficou com as auréolas dos seios diferentes uma da outra.

“Uma ficou para cima, e, a outra, para baixo. Ele havia afirmado a ela que era normal e voltaria ao normal quando desinchasse, o que não ocorreu”, disse. Segundo a advogada, a mulher ainda teria ficado com queloides, o que a inibiu de se despir diante do marido e a usar biquíni.

“Ele só se prontificou a reparar a cirurgia depois que a minha cliente entrou na Justiça, mas aí ela não quis mais por ter perdido a confiança nele. Ele tinha sido muito grosso com ela na fase em que ela o procurou”, informou.

A reportagem do UOL Notícias tentou entrar em contato com advogada de Heringer que está cadastrada nesse processo, mas não obteve êxito. Da mesma forma, o dono da clínica foi procurado, mas uma funcionária disse que ele não atenderia a reportagem.

Morte

Na semana passada, uma funcionária pública de 39 anos morreu na clínica de Joshemar Heringer, onde havia sido internada para se submeter, de acordo com parentes, a procedimento de lipoaspiração e a uma abdominoplastia.

Diego Costa Ferreira, genro da mulher, relatou que Kátia Maciel Dias, 39, ligou e pediu a familiares que a buscassem na clínica, localizada no Bairro Santo Antônio, região centro-sul da capital mineira, por ela ter obtido alta, no dia 7 deste mês.

“Eu estranhei porque quando cheguei lá, por volta das 6 horas, não me deixaram entrar. Em seguida vieram duas ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ficamos desesperados”, afirmou Ferreira, que foi ao local acompanhado da namorada, uma das filhas da mulher.

O rapaz disse que tentou obter informações, mas não conseguiu e ameaçou invadir a clínica.

“Quando o dono da clínica nos atendeu, ele não soube explicar a causa da morte. Ele disse que provavelmente ela teria sofrido uma embolia pulmonar. Depois, que foi uma parada cardíaca e, por fim, que ela sofreu um tombo no banheiro”, disse.

Segundo o rapaz, a família ficou revoltada e cobra explicações sobre o que teria ocorrido com a vítima. De acordo com ele, a família pretende entrar na Justiça para que a clínica seja fechada.

“O dono da clínica nos garantiu que tinha todo o equipamento necessário para que, em caso de emergência, ela fosse socorrida. Eu pergunto, por que ele teve de chamar o Samu”, afirmou.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), a clínica não tinha alvará sanitário para o funcionamento.

A assessoria do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais informou que o órgão não foi acionado por familiares da vítima. No entanto, o setor revelou que matérias veiculadas na imprensa serão juntadas para que a presidência do órgão abra uma sindicância.

Se forem encontradas provas de negligência no decorrer da apuração, será aberto um processo contra o dono da clínica. O conselho informou ainda que não há nos arquivos da entidade histórico de queixas contra a clínica nem contra o proprietário dela. E ainda que ela atende a todas as exigências do órgão para o seu funcionamento.

O nome do médico está cadastrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica como aspirante. Porém, de acordo com o órgão, o associado está apto a realizar intervenções cirúrgicas. A Polícia Civil mineira abriu inquérito para apurar o caso.