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Centro oftalmológico é interditado após mulher morrer em lipoaspiração em Maceió

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

09/03/2012 15h21

A Vigilância Sanitária Municipal interditou por oito dias o centro cirúrgico do Instituto de Olhos de Maceió (IOM), dois dias após uma funcionária pública ter uma parada cardíaca durante uma lipoaspiração e morrer em outro hospital, minutos após ser transferida. A decisão foi tomada após inspeção, na tarde desta quinta-feira (8), que constatou que a unidade não apresentou documentos de habilitação para realização de cirurgias plásticas no local. O CRM/AL informou que na próxima segunda-feira (12) deverá iniciar as investigações sobre o caso.

A Vigilância Sanitária Municipal também informou que o centro oftalmológico para realizar cirurgias plásticas deveria estar com uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) móvel na unidade, durante a realização de cirurgias desse porte, o que não ocorria. O IOM deve apresentar a documentação à Vigilância Sanitária nos próximos oito dias, caso contrário terá o centro cirúrgico interditado por tempo indeterminado.

A inspeção no instituto ocorreu depois do registro da morte da funcionária pública Raquel Martins Damasceno, 47, em decorrência de complicações ao se submeter a dois procedimentos de lipoaspiração e um enxerto de gordura nas nádegas na última terça-feira (6). A família da vítima questionou se o centro de olhos é equipado para realizar cirurgias abdominais com segurança.

De acordo com o diretor da Inspetoria de Serviço de Saúde da Vigilância Sanitária Municipal, Renê Gondim, apesar de a direção do hospital e do CRM/AL (Conselho Regional de Medicina de Alagoas) afirmarem que o centro poderia realizar cirurgias de pequeno e médio portes, o hospital deveria estar preparado para complicações cirúrgicas, o que não ocorreu na terça-feira.

“O instituto não possui ambulância e teve de solicitar ao Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] um veículo para transferir a paciente para a Santa Casa de Misericórdia [onde morreu a funcionária pública]. Em situações como esta, a cada minuto que se passa, a chance de não conseguir reverter o quadro de um paciente com complicações cirúrgicas vai diminuindo”, disse Gondim, explicando que notificou o local pela falta de uma ambulância com UTI móvel.

A direção do IOM informou que o centro cirúrgico do instituto está habilitado para realizar cirurgias de pequeno e médio porte com baixo risco de complicações e que por isso não necessitaria de uma UTI. Segundo o diretor, Alan Barbosa, o Instituto de Olhos realiza há quase 16 anos cirurgias oftalmológicas e cirurgias plásticas sem a ocorrência de nenhum óbito até então.

O advogado do cirurgião plástico Valter França, Carlos Henrique Ferreira Costa, afirmou que o médico atribuiu a morte da paciente como uma “fatalidade” e enfatizou que o médico tem 42 anos de atuação e já realizou 15 mil cirurgias plásticas, sem registro de nenhum óbito.

O advogado destacou ainda que a equipe médica que realizou a cirurgia tomou todos os cuidados necessários durante o procedimento. “Ao final da cirurgia a paciente teve uma parada cardíaca e logo foi ressuscitada pela equipe médica, que estabilizou a paciente. Por precaução, o cirurgião entendeu que a paciente deveria ir para uma UTI e providenciou o deslocamento para a Santa Casa, onde Raquel teve a segunda e a   terceira paradas cardíacas e infelizmente os médicos não conseguiram reverter o caso. O fato poderia ter ocorrido em qualquer outra cirurgia.”

Família questiona

Parentes de Raquel Damasceno questionaram se o Instituto de Olhos de Maceió era equipado para realizar abdominoplastias por "ser um hospital oftalmológico". O irmão dela, Raul Damasceno, disse que ele e a mãe perguntaram a Raquel sobre o local da cirurgia e se era apropriado para tal, mas ela disse que "já estava tudo acertado com o médico".

Damasceno contou que Raquel estava saudável quando entrou na sala de cirurgia para se submeter a três procedimentos - duas lipoaspirações, uma na barriga e outra nas coxas, além de um enxerto de gordura nas nádegas. Damasceno disse que a irmã se submeteu aos procedimentos por questões estéticas e que ela estava frequentando academia para praticar exercícios físicos.

A família de Raquel relatou que durante a cirurgia notou que o procedimento estava demorando quando o cirurgião Valter França veio avisar que a paciente teve complicações e necessitava ser transferida para um hospital equipado de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Segundo o laudo emitido pela Santa Casa, a mulher morreu devido a três paradas cardíacas e um quadro de embolia gordurosa. O atestado de óbito do IML (Instituto Médico Legal) não determinou a causa da morte dela.

Especialistas consultados pela reportagem do UOL explicaram que embolia gordurosa ocorre raramente em uma cirurgia de lipoaspiração e que as causas que levam ao problema não necessariamente estão ligadas a erro médico. O problema acontece quando uma placa de gordura entra na corrente sanguínea e vai parar no pulmão, causando a embolia pulmonar e, consequentemente, a parada cardíaca.