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Agência confirma cinco pontos de vazamento de petróleo na bacia de Campos, no Rio

Do UOL, em São Paulo

19/03/2012 20h08Atualizada em 19/03/2012 20h17

A ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) informou nesta segunda-feira (19) que foram identificados, na última semana, novos pontos de vazamento de óleo no campo de Frade, na bacia de Campos, litoral fluminense. O local é explorado pela petroleira Chevron, que registrou um vazamento na área em novembro do ano passado.

Segundo a agência, há cinco pontos pelos quais o petróleo está aflorando. “A ANP, desde o início do evento, em novembro de 2011, vem acompanhando de perto os trabalhos da Chevron Brasil Upstream Ltda. Em 15/3/2012, técnicos da ANP constataram, através das filmagens submarinas, cinco pontos ao longo de uma fissura de 800 metros, de onde se observava o aparecimento de gotículas de óleo, em uma vazão reduzida”, afirma a ANP.

Veja imagens divulgadas pela Chevron

Na última sexta-feira (16), o presidente da Chevron foi convocado para prestar esclarecimentos sobre os novos locais de vazamento. A empresa pediu para interromper as atividades na área a fim de estudar melhor a geologia do litoral e, segundo a ANP, o pedido foi aceito na noite de sexta (16).

“O vazamento vem sendo analisado pelos especialistas da agência, que criou um comitê formado por técnicos da Chevron, da Petrobras e da Frade Japão Petróleo Ltda., que detêm participação na concessão, que apresentarão estudos e informações complementares para subsidiar o completo entendimento do evento em questão. O Ministério de Minas e Energia atuará como observador do Comitê de Avaliação, que será coordenado pela ANP”, diz a agência.

A ANP afirma que “até o momento”, não há elementos que indiquem tendência de aumento do vazamento no campo de Frade. A Marinha está monitorando a área do campo e deve fazer um novo sobrevoo amanhã (20). 

Um sobrevoo realizado na sexta-feira (16)constatou a presença de uma mancha de óleo de cerca de 1km. A Chevron informou em entrevista coletiva que o vazamento foi de 5 litros.

Em nota, a Marinha informou que um inspetor naval da Capitania dos Portos do Rio de Janeiro realizou o sobrevoo e detectou o novo incidente a aproximadamente 130 km da costa, mas classificou a mancha como “tênue”. Os sobrevoos são realizados deste o último dia 4 na região.

Justiça impede executivos de deixarem o país

Dezessete executivos e funcionários da Chevron não podem deixar o Brasil, de acordo com liminar concedida pelo juiz Vlamir Costa Magalhães, da 4ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, em atendimento à ação movida pelo procurador da República em Campos, Eduardo Santos de Oliveira.

A Chevron disse que tanto a empresa como seus empregados “acatarão qualquer decisão legal”, mas que irá se defender da decisão judicial, bem como a  seus empregados.

Novos vazamentos

Mais cedo, o delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal, Fábio Scliar, confirmou a possibilidade de que uma área de 7 quilômetros quadrados do campo de Frade esteja sob risco de novos vazamentos no bloco operado pela petroleira Chevron.

Um novo vazamento foi detectado na semana passada e está a 3 quilômetros do poço que vazou em novembro do ano passado, indicando que toda a área em volta do primeiro poço esteja sob risco. A Chevron admitiu um afundamento na área em que se formou uma fresta de 800 metros da qual houve afloramento de petróleo. O afundamento sugere problemas geológicos na área.

Segundo Scliar, trata-se de uma ocorrência alarmante, já que a empresa não está preparada para responder ao fenômeno. "A situação é grave e está fora de controle. Espero que não haja consequências, mas como é uma situação inédita, a indústria não está preparada para responder. Não se sabe o que fazer, nem como", disse.

Dois possíveis erros podem ter provocado falhas geológicas, segundo fontes que acompanham a investigação. O poço pode ter apresentado problemas na hora da perfuração. Além disso, houve excessos na pressão usada na injeção de fluido de perfuração. "O poço explodiu e depois foi necessário usar mais pressão para abandoná-lo", disse Scliar.

Pesa no caso também a formação geológica da área, mas recente e frágil. Com isso, o petróleo estaria buscando novos caminhos para sair –um deles está vindo da área onde houve novo vazamento. 

Acidente de 2011

O primeiro acidente na bacia de Campos ocorreu no dia 7 de novembro de 2011. O volume do vazamento foi contestado: de acordo com a Chevron, foram derramados 2.400 barris, já ANP calculou em pelo menos 3.000 barris.

Alguns especialistas e o secretário do Meio Ambiente, no entanto, que o volume pode ter alcançado até 15 mil barris.

Semanas após o vazamento --que levou a ANP a proibir a Chevron de realizar perfurações em novos poços--, a então diretora do órgão regulador Magda Chambriard afirmou que a petroleira não havia selado o poço corretamente. "Os perfis de cimentação ainda não mostram a perfeita aderência do cimento ao poço. Quer dizer que o abandono do poço ainda não está completo", disse Chambriard em 9 de dezembro.

A ANP aplicou até dezembro do ano passado três autuações à Chevron referentes ao vazamento de novembro. A última delas trata da não adoção de medidas para a conservação dos reservatórios do poço 9-FR-50DP-RJS no campo de Frade. Anteriormente, a agência havia autuado a companhia pelo não cumprimento do Plano de Abandono do Poço, uma vez que a companhia "não dispunha dos equipamentos necessários à execução do plano que a própria havia submetido à agência", e a segunda autuação decorreu da omissão de informações ao órgão regulador, já que a empresa teria entregado imagens editadas das filmagens feitas por veículo remoto nos pontos de vazamento.

No dia 21 de novembro do ano passado, a petrolífera foi multada em R$ 50 milhões pelo Ibama com base na lei do óleo. Já no dia 23 de dezembro o órgão multou a empresa em R$ 10 milhões por descumprimento das condições previstas na licença ambiental.

A Chevron diz que “uma vez que os fatos forem totalmente examinados, eles irão demonstrar que a empresa respondeu de forma apropriada e responsável ao incidente”.

(Com Agência Estado)