Ameaça de evacuação em Porto Alegre põe em xeque sistema antienchentes
A orientação da Defesa Civil de evacuar uma parte do centro histórico de Porto Alegre coloca em xeque o sistema de proteção contra enchentes. Construído em 1970, a estrutura funciona como uma "muralha" que protege a cidade ao longo de 60 quilômetros. Porém, o rompimento de uma das comportas e alagamentos no centro mostram que o sistema pode não estar funcionando como deveria.
O que aconteceu
Rompimento da comporta 14 aconteceu durante a manhã desta sexta-feira (3) quando o nível do Guaíba ainda estava em 4,50 metros (neste sábado passou de 5 metros). Com isso, a água passou a invadir a ruas e avenidas de Porto Alegre. O sistema foi projetado para suportar até 6 metros de altura, baseado no desastre de 1941.
Centro de Porto Alegre também registrou alagamentos, mesmo com sistema de contenção. A água teria vindo de bueiros e bocas de lobo.
Pesquisadores dizem que a falta de manutenção colocou a segurança do sistema em risco. Parafusos, borrachas e trilhos se deterioraram ao longo da proteção. "Não é uma crença, é uma constatação. Falta manutenção no sistema", entende Fernando Dornelles, professor na Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), observou em coletiva de imprensa que o sistema é de responsabilidade da prefeitura, mas salientou que a barreira está sob pressão.
O sistema está sendo posto à prova. Está sendo estressado. Por isso recomendamos o povo a ficar longe. Nós acompanhamos isso. Insisto que mesmo que com acompanhamento, ser colocado a prova desse jeito, estar sob estresse, durante todo esse tempo, naturalmente isso vai pressionando esse sistema. Que a gente confia. Foi identificado ruptura, mas mobilizamos nossa equipe para identificar e agir.
Eduardo Leite, governador do RS
Falta de atenção ao sistema pode causar colapso. Para Fernando Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, em caso de ruptura, a região central da capital gaúcha inundaria rapidamente.
Temos algumas comportas vazando. Ainda é parcial. Mas podemos dizer que temos problemas em alguns pontos. Seria pior sem ele [sistema], mas melhor seria se não tivéssemos estes problemas.
Fernando Fan, Instituto de Pesquisas Hidráulicas UFRGS
Especialistas entendem que, além de uma manutenção efetiva do sistema, é preciso uma fiscalização frequente da situação climática no estado. Com isso seria possível prever e se preparar melhor a episódios como as fortes chuvas deste ano.
Comportas deixaram vazar água em outra enchente, em setembro de 2023. Ruas e avenidas do centro da cidade ficaram alagadas após a água passar por "frestas" do portão 2 do sistema. Na época, o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), Maurício Loss, disse à RBS TV que não eram feitas reformas na estrutura há pelo menos quatro anos. Porém, anunciou que o sistema passaria por avaliação e manutenção
O Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) é responsável pela gestão e manutenção do sistema. O UOL perguntou o órgão se as manutenções foram feitas, porém não houve retorno. Caso haja resposta, o texto será atualizado.
Como funciona o sistema de segurança de enchentes
O sistema de proteção contra enchentes foi criado nos anos de 1970, abrangendo 60 quilômetros ao longo dos rios Gravataí, Guaíba e nos arroios. O sistema ainda tem um adicional de 2,6 quilômetros do Muro da Mauá, que fica no centro de Porto Alegre.
A obra consiste em um paredão de concreto. A estrutura está entre 40 e 100 metros de distância do Guaíba, com seis metros de altura.
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Quero receberO sistema possui 14 aberturas para acesso entre as áreas protegidas e as margens do Guaíba. Nessas passagens há comportas que são fechadas em caso de enchentes.
Cidade conta com sistema de drenagem. Ao todo são 18 estações de bombeamento que retiram o acúmulo de água de áreas mais baixas.
Comportas e casas de bombas são os pontos críticos do sistema, aponta Dornelles. De acordo com ele, os diques e muro costumam dar conta do volume de água.
Chuva devasta RS
Ao menos 57 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas nos dois estados do Sul, segundo a Defesa Civil. O número é maior do que o registrado na enchente de setembro do ano passado, quando 54 pessoas morreram.
A água invadiu a rodoviária de Porto Alegre e os CTs do Internacional e do Grêmio, além de ruas do centro histórico.
Imagens registradas por moradores e autoridades mostram casas sendo levadas pelas enchentes e pontes destruídas. O Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública na quarta-feira (1º), com prazo de 180 dias — há cidades catarinenses que anunciaram a mesma medida.
Há pelo menos 67 pessoas desaparecidas no Rio Grande do Sul e centenas de ilhadas em ambos os estados. "É o pior desastre já registrado na história do estado", disse o governador Eduardo Leite (PSDB). Segundo ele, algumas regiões receberam mais de 800 milímetros de chuva.
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