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Verão termina com saldo de 140 municípios em emergência pela estiagem no Nordeste

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

19/03/2012 14h22

O verão termina oficialmente às 2h14 desta terça-feira (20) deixando um saldo de pelo menos 140 municípios em situação de emergência por causa de estiagem ou seca em seis Estados da região Nordeste. Ao todo, segundo dados das defesas civis estaduais, quase 4 milhões de pessoas estão em áreas afetadas. Em algumas cidades, a falta de chuva arrasou plantações e as autoridades informam que já há falta de alimentos.

Tecnicamente, a estiagem acontece quando existe a falta ou escassez de chuvas em um intervalo de tempo em que ela era esperada, sem completar um ano. Seca é quando completa um ano sem chuvas num determinado local.

Assim como ocorre todos os anos, os moradores dos municípios atingidos estão sendo abastecidos com caminhões-pipa. A operação, que teve início no começo do verão, foi intensificada e conta com ação dos Estados e do Exército. Outras ações também estão em andamento, como a construção de barragens e adutoras.

O Estado em situação mais crítica é a Bahia, onde 86 municípios decretaram emergência, com 79 deles já homologados oficialmente pelo governo do Estado e seis confirmados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. Segundo o coordenador-executivo da Defesa Civil Estadual, Salvador Brito, o número pode crescer nos próximos dias, já que a chuva ainda não atingiu o semiárido baiano. Ao todo, estima-se que 2,2 milhões de pessoas estejam afetadas no Estados.

O processo de reconhecimento de decreto de emergência dos municípios passa por três etapas. Na primeira, os prefeitos decretam a situação de emergência. Em seguida, cabe aos governos estaduais, por meio das defesas civis, homologarem o decreto e enviarem ao governo federal. Por fim, cabe à Defesa Civil reconhecer o decreto com a publicação no Diário Oficial da União. Os decretos valem por 90 dias, podendo ser renovados por igual período.


“Se não chover nas próximas semanas, até abril, teremos uma das piores estiagens da história. Existe uma previsão de chuva, mas nada muito claro e palpável. Enquanto aguardamos, estamos fazendo as ações emergenciais, com a distribuição de água por carro-pipa. Estamos também com uma parceira com os municípios, para limpeza e ampliação dos reservatórios para que, quando as chuvas venham, a água limpa possa ser armazenada, e em grande quantidade”, disse ao UOL.

Brito informou que já recebeu informações de escassez de alimentos de algumas cidades atingidas. “Existe a preocupação com a perda da safra, que aconteceu em praticamente todos os municípios. E isso gera uma demanda por alimento. Já estamos recebendo pedidos, e a qualquer momento já vamos atender com envio de cestas”, disse Brito, citando que as culturas do feijão e do milho foram as mais afetadas. “Isso gera um desabastecimento das feiras livre. Por conta dessa falta, o feijão está com preço alto.”

O coordenador-executivo da Defesa Civil ainda disse que o Ministério da Integração Nacional se comprometeu em enviar R$ 10 milhões para ajudar nas ações emergenciais. “Se não tivéssemos os programas federais, a situação estaríamos em situação bem pior”, conta Brito.

Outro Estado atingido pela estiagem é o Piauí, onde 25 municípios decretaram emergência até o último dia 8 de março, conforme dados do governo estadual. Desses processos, 12 estão sob análise da Secretaria Nacional de Defesa Civil.
 
Segundo a Secretaria Estadual da Defesa Civil, alguns dos municípios sequer registraram chuva esse ano, e os agricultores sequer iniciaram as tradicionais plantações. Onde a chuva veio, a água em pouca quantidade impediu que as culturas germinassem, o que levou os produtores ao prejuízo. O governo piauiense informou ainda que os municípios vêm sendo abastecidos com caminhões-pipa, e obras de construção de adutoras estão em andamento por todo o semiárido.

Em Sergipe, relatório da Defesa Civil mostra que 13 municípios estão com decretos em vigor por conta da estiagem e dois –Poço Redondo e Poço Verde– decretaram situação de emergência pela seca. Segundo a Defesa Civil, o número de pessoas afetadas este ano pela falta de chuvas chega a 87 mil. Ao todo foram distribuídos 122 caminhões-pipa para os moradores dessas cidades. A operação está sendo coordenada pelo Exército em quatro cidades: Gararu, Frei Paulo, Poço Redondo e Poço Verde.

Outro Estado com municípios sofrendo com a estiagem é Pernambuco, onde 12 cidades decretaram estado de emergência. Ao todo, mais de 400 mil pessoas moram nessas cidades atingidas, entre elas a maior cidade do semiárido nordestino, Petrolina, com 300 mil habitantes. Todos os decretos estão sob análise da Secretaria de Defesa Civil Nacional, ainda sem portarias de reconhecimento.

Paraíba e Rio Grande do Norte informaram que têm um município, cada um, em situação de emergência à espera de reconhecimento federal. Apesar do número pequeno de cidades, os dois Estados conta com programas de abastecimento por meio de carro-pipa. Já Alagoas, Ceará e Maranhão não tem nenhum decreto enviado à Secretaria Nacional de Defesa Civil este ano por conta de estiagem ou seca.

Esperança

Segundo a tradição nordestina, o dia de São José (19 de março) é um termômetro de como será a colheita do meio do ano. Caso não chova nesta data, a previsão é que o inverno será de pouca chuva e muito sofrimento. "Embora não seja científico, é uma crendice do nordestino. E este ano temos poucas informações de chuva na Bahia, pelo menos", disse Salvador Brito.

Segundo a previsão do tempo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais), havia probabilidade de chuva apenas no sul da Bahia. No leste baiano, leste pernambucano, Sergipe e Alagoas havia pouca possibilidade de chuva. Nos demais Estados, a previsão aponta para predominância de sol, para frustração dos sertanejos.