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Após ouvir última testemunha, delegado não descarta indiciar diretores do Hopi Hari por acidente

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

09/04/2012 18h18Atualizada em 09/04/2012 19h58

O delegado responsável pelas investigações sobre o acidente que terminou com morte da adolescente Gabriela Nichimura, 14, no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (SP), afirmou nesta segunda-feira (9) que ainda não definiu quantas pessoas serão indiciadas pelo caso. Álvaro Santucci Noventa Júnior não descartou que, além de operadores do brinquedo, também diretores do estabelecimento podem ser responsabilizados.

“Já disseram que eu indiciaria quatro pessoas; pode até ser que sejam quatro, mas preciso concluir a leitura dos autos e receber o laudo do IC [Instituto de Criminalística] para ter certeza, pois não descartamos que mesmo pessoas da diretoria sejam responsabilizadas”, afirmou.

Segundo o delegado, só com o laudo detalhando informações sobre o local do crime e o sistema de tração na cadeira é que poderão ser definidas as responsabilidades pelo homicídio culposo (sem intenção).

No acidente, ocorrido no dia 24 de fevereiro deste ano, a adolescente morreu ao ser arremessada de uma altura entre 25 e 30 metros  no brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador.

Último depoimento

Santucci falou ao UOL após o último depoimento tomado no caso, o do vice-presidente do parque, Claudio Guimarães, ouvido hoje à tarde na sede do Ministério Público. O delegado não deu detalhes sobre as declarações do executivo, mas disse que foi “o mais esclarecedor” em relação às atribuições da diretoria “sobre o que chega e o que não chega para seus integrantes decidirem”.

Mais cedo, o promotor criminal de Vinhedo, Rogério Sanches, disse que o depoimento do vice-presidente “encerra um ciclo” em que o desfecho, acredita, parece mesmo ser o de homicídio culposo. Segundo o promotor, Guimarães não negou falha humana, mas não apontou funcionários supostamente responsáveis pelo acidente.

Investigação na Corregedoria da Polícia Civil

No último dia 29, a Corregedoria da Polícia Civil em Campinas (SP) instaurou dois inquéritos sobre a morte da adolescente. As medidas, solicitadas pela defesa dos pais de Gabriela, vão analisar se houve falha de peritos do Instituto de Criminalística de Campinas na primeira perícia realizada no brinquedo La Tour Eiffel e também a responsabilidade sobre a divulgação de fotos de Gabriela, já morta, em sites e blogs.

Para o delegado de Vinhedo, o pedido da defesa da família à Corregedoria “foi precipitado” a respeito da ação dos peritos.

Os pais da adolescente retornaram no último dia 31 para a cidade de Iwata, no Japão, onde vivem há 19 anos e de onde acompanharão o inquérito. Eles estavam com as filhas de 14 e de nove anos em férias no Brasil.

Entenda o caso

A adolescente Gabriela Nichimura estava em uma cadeira do brinquedo La Tour Eiffel desativada há dez anos, mas que não continha nenhuma sinalização impedindo o seu uso. Após cair, a garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu e morreu por traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. O caso sofreu uma reviravolta quando a mãe da adolescente mostrou fotos tiradas minutos antes do acidente e verificou-se que a primeira perícia policial no brinquedo havia sido feita no assento errado. Uma segunda perícia, desta vez na cadeira efetivamente usada por Gabriela, constatou que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Em nota, a assessoria do parque afirmou que avaliações preliminares apontaram que sucessivas falhas humanas podem ter sido a causa da tragédia. O parque disse ainda que "cumprirá com suas responsabilidades perante a família, a Justiça e as autoridades técnicas".

O parque foi fechado por cerca de 20 dias para a realização de uma inspeção em suas atrações. Após assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da administração do Hopi Hari com o Ministério Público, o local foi autorizado a reabrir. O acordo determina que os brinquedos West River Hotel e Simulakron, que ainda dependem de adequações, segundo o MP, ficarão interditados. Já o La Tour Eiffel está interditado por tempo indeterminado enquanto corre o inquérito policial sobre o caso.