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Seca se agrava, e sertanejos já sofrem com falta de alimentos no Nordeste

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

06/05/2012 06h00

Com 593 municípios em situação de emergência por conta da seca, o semiárido do Nordeste não sofre apenas com a falta de água, mas também com a escassez de alimentos. Muitas cidades, onde não chove há seis meses, já informaram problemas relacionados à falta de comida, já que grande parte das produções agrícolas --inclusive as familiares-- foi perdida pela falta de chuva.

Imagens captadas por satélite mostram que boa parte do Nordeste enfrenta a maior seca dos últimos 30 anos. É possível perceber que 80% do semiárido da região sofre com a estiagem, o que representa seis vezes o percentual registrado no ano passado. Não choveu nos quatro primeiros meses do ano --como era previsto-- e não há perspectiva de chuvas pelos próximos três meses.

A entrega de alimentos a moradores do sertão, por conta da seca, é algo que não havia ocorrido nos últimos anos, mas que está sendo novamente realizado em 2012. A situação mais grave é a da Bahia, onde 228 municípios estão em situação de emergência.

Segundo a Defesa Civil Estadual, o governo baiano adquiriu pouco mais de 130 mil cestas básicas para distribuição nos municípios. Além delas, o Estado também recebeu mais 4.630 do Ministério da Integração Nacional e 5.000 do Ministério da Agricultura, totalizando 140 mil cestas básicas.

“Esses alimentos devem ser entregues às famílias para durar por pelo menos 30 dias, pois a situação é crítica e temos uma grande demanda. Depois da água, a falta de alimentos é a nossa maior preocupação, mas estamos atuando para não deixar ninguém passar fome”, afirmou o coordenador-executivo da Defesa Civil, Salvador Brito.

Segundo Brito, além dos alimentos, existem outras preocupações com os sertanejos. “Temos outros problemas. Como a estiagem vem se alongando, temos diversas repercussões na natureza, como problemas na agricultura familiar e a captação de água para irrigação. Todo semiárido sofre com essa falta de chuvas” disse.

Cidades em emergência

Bahia228
Rio Grande do Norte139
Piauí102
Pernambuco56
Alagoas34
Sergipe18
Ceará16

No Piauí, onde já são 102 municípios com decretos homologados pelo Estado, não há distribuição de alimentos. Porém, segundo a Defesa Civil, ao invés de cestas básicas, os sertanejos serão contemplados com o Bolsa Estiagem, que vai pagar cinco parcelas de R$ 80 às famílias atingidas. “Nós sabemos da dificuldade que existe no Estado como um todo. Oficialmente não temos relatos de falta total de alimentos, mas pode ser o que esteja acontecendo. A antecipação do Seguro Safra também vai ajudar nessa compra de alimentos”, disse o diretor da unidade da Defesa do Piauí, Jerry Herbert.

O diretor explicou ainda que o Estado pretende ampliar o números de caminhões-pipa para ofertar água a população. “Estamos trabalhando com mais de 200 carros-pipa, e o Ministério da Integração vai contratar mais 300 para amenizar o problema que está gravíssimo. O problema é que, até agora, os R$ 15 milhões anunciados pelo governo federal estão só no papel, não foram liberados. Assim, não podemos aumentar as ações.”

Em Pernambuco, um decreto do governador Eduardo Campos (PSB), publicado no Diário Oficial do Estado neste sábado (5), oficializou decreto de emergência nos 56 municípios do Sertão. Segundo informou a assessoria de imprensa da Coordenadoria de Defesa Civil, a entrega de cestas básicas e de alimentos está sendo feita pela Secretaria de Assistência Social.

No Ceará, o coordenador da Defesa Civil, Hélcio Queiroz, informou que já são 16 municípios em situação de emergência e as demandas por alimento serão discutidas nos próximos dias. “Nós vamos ter uma reunião nesta segunda-feira (7) do comitê de ações de combate à seca, onde vamos definir as realizações que serão feitas nessas cidades. Entre elas, pode ser definida a entrega de alimentos”, disse.

A situação também é grave em Alagoas, onde 34 cidades estão em situação de emergência. Segundo a AMA (Associação dos Municípios de Alagoas), o fornecimento de água por meio de caminhões-pipa continua suspenso e ainda não há entrega de alimentos, apesar de relatos apontarem para perda de produção em vários municípios. "A operação pipa está paralisada porque o recurso acabou há mais de uma semana. Não estamos com distribuição de comida ou água. Estamos providenciando, pedindo ao governador, vê se eles liberam carros e comida pela Secretaria da Assistência Social”, informou Margarete Bulhões, responsável pelo setor de decretos de emergência da AMA.

Em Sergipe, as mais de 100 mil pessoas afetadas nas 18 cidades em emergência estão recebendo o fornecimento de água por carros-pipa. Na Paraíba, apesar da seca ter se intensificado nas últimas semanas, ainda não decretos homologados pelo Estado, o que deve ocorrer nos próximos dias, quando a documentação das prefeituras for entregue ao governo do Estado. No Rio Grande do Norte, 139 municípios decretaram, coletivamente, situação de emergência em abril.