Rocinha 20 anos: de tanque de guerra para "safári de gringos com esgoto a céu aberto"
Há 20 anos, a imagem de um tanque de guerra apontado para a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, correu o mundo. Apesar de o cenário de guerra não ser mais o mesmo, a ameaça militar ainda não saiu da cabeça dos moradores.
"Foi um momento muito tenso. A gente sabia que se desse alguma confusão centenas de pessoas poderiam morrer por um tiro de canhão", disse o criador do porjeto social Rocinha Surfe Escola, Ricardo Ramos. Conhecido como Bocão, o marador foi voluntário no evento da ONU há 20 anos.
Hoje, com o projeto social que ensina os moradores da favela a surfar, além de dar aulas de educação ambiental e inglês, Ramos é um dos principais exemplos de como é possível uma mudança, quando se tem determinação. Bocão afirma, porém, que é preciso mais ação do poder público.
"A ocupação policial existiu. Mas nós precisamos de outro tipo de ocupação: a ocupação da educação, da saúde, do saneamento básico", disse.
A falta de saneamento básico é um dos grandes problemas da favela. Segundo o IBGE, quase 15% das casas da comunidade não possuem banheiro.
"Para inglês ver"
"Fizeram uma coisa para turista ver. Os estrangeiros vêm aqui como se tivessem num safári. Por fora, a favela é bonitinha. Mas é só entrar nos becos para ver o esgoto correndo à céu aberto", declarou Richard Castelo Branco, diretor do grupo de teatro Bando Cultural Favelados e também morador da Rocinha.
Para Castelo Branco, as principais transformações na Rocinha têm sido feitas pelos próprios moradores.
"O nosso maior tesouro é a nossa gente. Se não fossem os próprios moradores da Rocinha que tomassem a frente dos projetos, muita coisa não teria acontecido", disse.
Estrangeiros fazem espécie de "safári"
A comunidade da Rocinha é a mais populosa do país, com 69.161 moradores. Para a Associação de Moradores, porém, o número pode chegar a 220 mil habitantes.
Uma das moradoras mais antigas da comunidade, do tempo em que ainda não tinha nem luz elétrica no local, a comerciante Francisca Araújo, 80, não vê motivos para comemorar as transformações ocorridas nos últimos vinte anos.
"Hoje, não temos mais o tanque aí na frente. Mas em relação ao que a favela realmente precisa nada foi feito. A Rocinha ainda é um péssimo lugar para se morar", afirmou.
A Rocinha é uma das quase vinte favelas ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que contam com militares e com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar.
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