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Risco de contaminação no preparo de sopões é o mesmo de comidas caseiras, diz especialista

Padre Júlio Lacenlotti entrega sopa a morador de rua durante protesto contra possível proibição da distribuição de alimentos em SP - Leonardo soares/UOL
Padre Júlio Lacenlotti entrega sopa a morador de rua durante protesto contra possível proibição da distribuição de alimentos em SP Imagem: Leonardo soares/UOL

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

06/07/2012 23h21

Os riscos de contaminação no preparo de sopões distribuídos para moradores de rua são os mesmos das comidas caseiras. É o que diz André Luzzi, membro do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo, que participou do protesto contra a possível proibição da distribuição de alimento em São Paulo realizado nesta sexta-feira (6), em frente à prefeitura da cidade.

Na semana passada, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana afirmou que a proposta de proibir o sopão em São Paulo tem o objetivo de "coibir a distribuição insalubre dos alimentos". Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, o sopão deve passar a ser distribuído exclusivamente em uma das nove tendas da prefeitura, conhecidas como espaços de convivência social, que atendem pessoas sem-teto na capital.

"Geralmente, são pessoas comuns que se unem e se organizam para preparar os alimentos e, por fim, distribuir para aqueles que passam fome. Vale ressaltar, no entanto, que eles não são profissionais", afirma Luzzi. Ele compara o processo ao preparo de comidas feitas em casa. "Com riscos de intoxicação e contaminação reais, mas muito baixos diante dos benefícios que trazem para aqueles que não têm o que comer."

As opções oferecidas voluntariamente pelas ONGs (organizações não-governamentais) nas ruas de São Paulo, segundo ele, também são bem melhores e mais "salubres" do que os restos de comidas do lixo. "E no desespero da fome, é este o destino de muitos paulistanos que não têm o que comer".

Na opinião dele, a medida da Prefeitura de São Paulo nada tem a ver com a sua preocupação com a insalubridade. "Se essa realmente fosse a questão ela se atentaria mais às comidas preparadas pelos albergues conveniados pela prefeitura", aponta ele. "Antes de cercear o direito das camadas mais necessitadas de comer, é preciso criar políticas públicas de segurança alimentar."

O padre Júlio Lacenlotti, ligado a Pastoral dos Moradores da Rua, também é a favor de uma política de segurança familiar. "Atualmente, muitos moradores de ruas que não conseguem vagas em albergues não têm onde jantar. E passariam a noite com fome e sede se não fosse a ação dessas entidades voluntárias."

Para ele, deixar de dar comida, "diferentemente do que o prefeito Gilberto Kassab acredita", não estimulará a mudança de comportamento dos mendigos. "Se ele quer proibir, ao menos que preserve o direito destas pessoas comerem".

"Sopaço na Casa do Kassab"

Aos gritos de "Fora, Kassab", cerca de 200 pessoas participaram do "Sopaço na casa do Kassab", realizado em frente à Prefeitura de São Paulo na noite desta sexta-feira (6), contra a possível proibição da distribuição de sopa para moradores de rua na capital paulista. A estimativa é do organizador da passeata Luiz Pattoti, 34.

O protesto começou às 17h em frente ao prédio da prefeitura, na região central da cidade, e por volta das 19h seguiu em passeata até a Sé, local onde foi distribuído um sopão vegetariano aos moradores de rua da região. A comida foi organizada pelo Veganusp, grupo criado por estudantes da USP (Universidade de São Paulo). "Conseguimos uma doação de 40 quilos de alimentos do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) para o preparo de um panelão de cerca de 50 quilos de sopa", disse Roberto Parente, 27, estudante da unidade.