Famílias que desocuparam prédio no centro de São Paulo rejeitam albergue e acampam em frente à Cohab
Parte das famílias sem-teto que desocuparam hoje (28) um prédio no centro da capital paulista montou acampamento em frente à Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab), na avenida São João, também no centro. Segundo Osmar Silva Borges, coordenador do movimento Frente de Luta por Moradia (FLM), as famílias permanecerão acampadas no local até um acordo com a prefeitura.
O grupo não aceita ir para os albergues oferecidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social por não concordar com a separação das famílias. Nos albergues, de acordo com Maria do Planalto, uma das coordenadoras da FLM, as pessoas seriam divididas por sexo e as crianças, separadas das mães. “As crianças têm que ficar com as mães. Elas não estão em situação de rua, por isso que a gente não aceita o albergue”.
Caminhões de mudança e um galpão, alugado por 30 dias, foram oferecidos pelo proprietário do edifício e colocados à disposição dos moradores, que rejeitaram a ajuda. Alguns levaram as mudanças para casas de parentes e outros para outra ocupação do movimento, na avenida São João.
De acordo com Osmar Silva Borges, as famílias ocupavam o prédio desde 6 de novembro de 2011. Quando chegaram, 80% delas estavam desempregadas, informou. Mas encontraram no local muitas oportunidades de emprego, que, normalmente, não compensam para quem mora na periferia da cidade. Ele destacou as dificuldades e gastos com trasporte e alimentação para quem mora longe do local de trabalho. “Hoje, 100% das pessoas [que ocupavam o prédio] estão empregadas e todas as crianças estão na escola”, disse.
Rosangela Santana da Cruz, 25, conseguiu o trabalho de ajudante geral na rua Augusta, próximo ao prédio. Ela encontrou comodidade ao matricular a filha de 5 anos, Ellen Ketelen, em uma creche localizada na Praça da República. “O ruim é que a gente sai daqui hoje sem uma expectativa, sem saber para onde vai. O duro não é a gente, são as crianças que estudam aqui na [Praça] da República”, disse.
Taís da Silva Sousa, 19, trabalha em um albergue e vivia na ocupação com as duas filhas, Iasmim Vitória Nunes da Silva, de 1 ano, e Sabrina Nunes da Silva, de 4 anos. As crianças também estão matriculadas na creche da Praça República. “Agora vai ser difícil, elas vão ter que ficar sem escola, sem estudar”.
Taís declarou ainda que, ao deixar a ocupação, terá mais uma vez que morar na rua. “É difícil, nós vamos para a rua com as crianças. Já é a segunda vez que a gente passa por isso. Mas já moramos na rua, é só por uns colchões e abrir um lona”.
Maria Rita Almeida da Silva, 61, morava no prédio com a filha Shirley Silva Rocha, 35, que é promotora de vendas em um mercado de São Bernardo, cidade da região metropolitana de São Paulo. Ela tem três netos: Jonata Silva Rocha, 14, Laurie Silva Rocha, 11, e Letícia Silva Rocha, 9. Maria disse que o albergue seria a última opção de destino para a família.“O ambiente de albergue é ruim, não é um ambiente para criança. Também é ruim porque eles colocam a gente lá e esquecem da gente. Nós estamos lutando é por uma moradia”, ressaltou.
Em nota, a Prefeitura disse que prestou todo apoio necessário às famílias que tiveram de ser transferidas na ação de reintegração de posse. A Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) anotou as famílias que serão encaminhadas para a Central de Habitação a fim de serem cadastradas em programas habitacionais.
Segundo a prefeitura, a Secretaria Municipal de Assistência Social ofereceu abrigo e colocou à disposição o Centro de Referência de Assistência Social Sé, na Avenida Tiradentes, para o cadastramento em programas de transferência de renda e atendimento em outros serviços sociais. “Vale destacar que, anteriormente, 111 famílias deixaram o local depois de serem beneficiadas com o auxílio-aluguel e mais 183 foram para as casas de parentes ou de amigos”, informou.
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