Polícia investiga se médico que faltou a plantão em hospital do Rio recebia salário sem trabalhar
A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito na quarta-feira (9) para apurar se houve fraude na folha de ponto possivelmente cometida pelo neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que foi indiciado por omissão de socorro, na terça-feira (8), após faltar ao plantão de Natal do hospital Salgado Filho, no Méier, na zona norte da cidade. Na ocasião, Adrielly dos Santos Vieira, 10, vítima de bala perdida, teve que esperar oito horas para ser operada. A menina morreu há seis dias.
A chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, determinou que o titular da Delegacia Fazendária, Ângelo Ribeiro, investigue se o suspeito estava recebendo salário --cerca de R$ 4.500 mensais por dois plantões semanais-- sem trabalhar. Se a irregularidade for comprovada, Gonçalves será indiciado por crime contra a administração pública. Em nota, a assessoria do neurocirurgião negou que ele tenha cometido a suposta fraude.
Gonçalves utilizava, segundo a nota, um eventual substituto para assinar a folha de ponto, o que seria, na versão do suspeito, uma prática "comum" entre os médicos do Salgado Filho. Além disso, o acusado argumenta ter faltado aos plantões do mês de dezembro, incluindo o da noite de Natal, porque "queria ser demitido", fato que teria sido previamente informado por ele à direção do hospital.
A investigação sobre o possível crime contra a administração pública surgiu após depoimento do chefe da emergência do hospital Salgado Filho, Ênio Lopes. A testemunha afirmou que "era da mesma escala que Adão há dois anos, mas nunca tinha visto o neurocirurgião", segundo a Polícia Civil.
Menina Adrielly é enterrada no RJ
Ainda de acordo com a polícia, Lopes também disse não conhecer Gonçalves pessoalmente. A partir das informações passadas pelo depoente, o titular do distrito policial do Méier (23ª DP), Luiz Archimedes, decidiu indiciar Adão Orlando Crespo Gonçalves.
Atingida na cabeça
Na última sexta-feira (4), Adrielly dos Santos Vieira, 10, morreu após dez dias internada no hospital Souza Aguiar, no centro.
A jovem, atingida na cabeça por uma bala perdida por volta de 0h15 do dia 25 de dezembro, só foi submetida a intervenção cirúrgica oito horas depois de ser baleada, por falta de médico neurocirurgião. No dia 30 de dezembro, a morte cerebral já havia sido confirmada pelos médicos.
Vieira estava indo em direção à mãe a fim de mostrar a boneca que havia ganhado de presente de Natal. Ela foi atingida na porta de casa e posteriormente encaminhada ao hospital Salgado Filho, no Méier.
O médico escalado para o plantão noturno do dia era Adão Orlando Crespo Gonçalves, que não apareceu.
Segundo a polícia, o neurocirurgião disse que faltava aos plantões há um mês por discordar da escala de trabalho.
O prefeito Eduardo Paes classificou a conduta do neurocirurgião como "irresponsável" e "delinquente" e disse que ele deve ser demitido. A ausência do plantonista também está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio).
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