Primeiro depoimento do caso Gil Rugai é marcado por bate-boca e contradições
Um depoimento tenso que durou três horas e meia marcou o início do júri popular em que o ex-seminarista Gil Rugai é julgado pelos assassinatos de seu pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitino.
O primeiro a ser ouvido foi a testemunha da acusação considerada chave também pela defesa --o vigia da rua em que o casal assassinado morava. Segundo a investigação, ele teria visto Gil Rugai saindo da cena do crime.
Denominado apenas como Domingos, por ter sido incluído no programa de proteção a testemunhas, o vigia confirmou em depoimento ter visto Gil Rugai e outro homem saindo da residência do casal na noite do dia 28 de março de 2004.
Com 1º grau incompleto, no entanto, a testemunha teve dificuldade para explicar à defesa aspectos como a distância a que estava do acusados bem como a descrição das vestimentas de Gil Rugai.
Antes, à acusação, a testemunha afirmou ter "certeza absoluta" que o réu deixara a casa do empresário cerca de 20 minutos após ter ouvido barulho de tiros. As vítimas foram mortas com tiros de uma pistola calibre 380.
O vigia admitiu ter apresentado à polícia versões iniciais em que negava ter visto Gil Rugai na cena do crime. Segundo ele, por medo, não disse nada.
Indagado sobre o que mudou em sua vida após seis anos no programa de proteção a testemunhas --devido a ameaças que alega ter sofrido-- resumiu: "enquanto não levo minha vida tranquila, ando com mais cautela, não ando só, mas com gente conhecida".
Promotoria e defesa falam
Promotor: defesa não abalou depoimento de vigia
Testemunha é vacilante, diz advogado de Rugai
Em mais de uma oportunidade, o promotor do caso, Rogério Zagallo, pediu a interferência do juiz alegando que o advogado da defesa, Thiago Anastácio estava tratando a testemunha de maneira acintosa ou com intimidação. "A testemunha não é tão estudiosa quanto o senhor", disse o promotor ao advogado.
Minutos antes, Anastácio apontou para a bolsa de uma mulher na plateia pedindo ao vigia que lhe dissesse qual a cor. O vigia não soube responder. Em um dos depoimentos, contudo, ele havia dito que Gil Rugai estava com uma capa de cor caramelo no dia do crime.
O vigia também não conseguiu confirmar que o réu usava suspensórios quando deixava a casa --ponto usado pela defesa para questionar a capacidade de identificação visual da testemunha.
O depoimento foi acompanhado por Gil Rugai no plenário ao lado dos advogados. A previsão é que mais quatro testemunhas da acusação sejam ouvidas até sexta, além de nove testemunhas da defesa e uma arrolada pelo juiz.
Após o fim do depoimento, um dos advogados de Gil Rugai, Thiago Anastácio, concedeu entrevista para a imprensa e falou sobre Domingos. "Essa testemunha é absolutamente vacilante. Descreve conversas com pessoas que conhecia, mas não era capaz de descrever a pessoa fisicamente".
Segundo Anastácio, não é "questão de desqualificação da testemunha". O advogado disse que Domingos só conseguiu apontar uma coisa, que viu Gil Rugai na cena do crime, nenhuma das outras questões foi respondida. "Ele não conseguiu responder nenhuma indagação de forma tranquila".
O promotor do caso, Rogério Zagallo, também falou com a imprensa e disse que o fato de o vigia que testemunhou pela acusação não saber dar detalhes sobre a noite do crime não invalida a importância do depoimento dele.
"O depoimento dele foi extremamente importante porque conseguiu mostrar que a pessoa que saiu da casa é o Gil Rugai. Eles [os advogados] deram uma pressionada, uma intimidada, e ele fraquejou em alguns dados, absolutamente periféricos e superficiais", disse. "Não conseguiuram abalar o depoimento forte e contundente do vigia que reconhece Gil Rugai como sendo uma das duas pessoas que saíram daquela casa instantes depois dos tiros". (Com informações de Ana Paula da Rocha)
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