Investigação aponta que 96 caixas de AdeS não continham suco, mas soda cáustica diluída
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais concluiu que houve falha no momento em que o líquido foi colocado na embalagem (envasamento) de 96 unidades de suco de soja AdeS, sabor maçã, na fábrica da Unilever Brasil em Pouso Alegre (390 km de Belo Horizonte). As unidades, segundo relatório divulgado pelo órgão no final da tarde desta sexta-feira (22), foram afetadas por hidróxido de sódio a 2,5% --soda cáustica diluída.
O documento, ao qual o UOL teve acesso, foi encaminhado à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e à fabricante do suco, a Unilever Brasil, e foi elaborado a partir de inspeção realizada na última segunda-feira (18) pela Vigilância Sanitária Estadual e pela Vigilância Sanitária Municipal de Pouso Alegre, cidade onde fica a unidade de produção da Unilever de onde partiu o lote contaminado --o da linha TBA3G. No relatório, os técnicos determinaram que a linha em questão terá de ficar "paralisada até comprovação das determinações" citadas no documento.
De acordo com o relatório, as equipes das duas vigilâncias sanitárias apontaram que a falha se deu durante o processo de envasamento da unidade de 1,5l do suco de maçã, no lote AGB 25, realizado no último dia 25 de fevereiro e com validade até 22 de dezembro deste ano.
Segundo o documento, 96 caixas de suco de 1,5 litro receberam hidróxido de sódio em vez de suco. Diz o relatório: “No entanto, o equipamento foi acionado novamente para o processo de envase. A solução de hidróxido de sódio a 2,5% é utilizada nesse processo de limpeza, e, considerando que existiam ainda embalagens na linha, foram envasadas 96 unidades com hidróxido de sódio, e não do (sic) suco alimento em soja --AdeS, sabor maçã de 1,5l. A empresa não constatou o desvio e o produto foi disponibilizado ao mercado”.
Conforme a inspeção, o estoque de suco no tanque que alimentava a linha de envase estava reduzido, situação característica de fim do processo de envazamento e do momento em que ocorre a limpeza automática –procedimento chamado de CIP (Clean in Place).
Por meio da assessoria de imprensa, a Unilever Brasil informou que só se manifestará sobre o relatório divulgado pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais após posicionamento da Anvisa a respeito. Também via assessoria, a agência confirmou ter recebido a análise de Minas, mas disse que ainda não se posicionou sobre o documento.
Determinações impostas à Unilever
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais apontou cinco procedimentos que devem ser adotados pela Unilever e que foram colocados como condições para que a empresa possa voltar à produção da linha afetada.
Entre as medidas necessárias, estão a revisão completa “de todos os equipamentos, sensores, software do processo AdeS”, o aumento do número de amostras coletadas durante o processo de envase; a alteração do período de retenção dos produtos acabados antes da liberação ao mercado; a revisão e implementação “de procedimento de liberação da produção após o sistema de higienização” e a introdução “de dossiê diário de liberação de qualidade – liberação formal com assinatura dos gerentes.”
50 unidades contaminadas ainda circulam
De acordo com a Unilever, foram afetadas pela solução com soda cáustica de limpeza 96 unidades de 1,5 l do lote AGB 25 do suco AdeS de maçã. O problema, segundo a empresa, se deu por conta de uma falha no processo de higienização da fábrica.
A empresa afirma que prestou assistência médica a 14 pessoas comprovadamente em função de ingestão do suco contaminado.
Apesar de a Unilever afirmar que o problema se limita às unidades do lote em questão, a Anvisa determinou na última segunda-feira (18), de forma preventiva, a suspensão da fabricação, distribuição e comercialização de todos os lotes fabricados na linha TBA3G, identificados com as iniciais AG, provenientes da fábrica da cidade mineira. A linha é uma das 11 da unidade da fabricante de sucos.
Nesta quinta (21), o Ministério Público Federal enviou ofício à Anvisa em que pede informações a respeito das medidas que têm sido tomadas quanto às denúncias de falhas de qualidade na produção dos sucos da marca AdeS. O documento é assinado pelo coordenador da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão (Consumidor e Ordem Econômica), Antonio Fonseca, e endereçado ao diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Brás Aparecido Barbano.
No ofício, Fonseca afirma que a 3ª Câmara expressa "preocupação" com relatos de consumidores que sofreram queimadura na boca e em outras regiões do sistema digestivo após ingerir o suco em condição irregular. "Nesse sentido, apreciaríamos obter informações sobre o tratamento do incidente pela agência reguladora, esclarecendo a imposição de medidas como a aplicação de multa e a retirada de produtos de circulação", diz o coordenador da 3ª Câmara.
Reunião no Ministério da Justiça
Na última segunda-feira (19), representantes da Unilever se reuniram no Ministério da Justiça com representantes da Secretaria Nacional do Consumidor, órgão do ministério, e da Anvisa.
A Unilever apresentou um relatório no qual identificou falhas no equipamento de higienização e também falha humana. A Anvisa e a secretaria só se pronunciarão sobre a responsabilização pela contaminação após a análise do relatório da Vigilância Sanitária de MG.
"Todas as medidas informadas não eximem as responsabilidades da empresa, tanto as previstas no Código de Defesa do Consumidor como nas normas de vigilância sanitária", disse Amaury Oliva, diretor do departamento de proteção e defesa do consumidor do Ministério da Justiça.
Ainda não é possível saber o valor da multa que a empresa receberá, o que ainda depende do relatório. A multa máxima prevista pela Anvisa é de R$ 1,5 milhão, e, pelo Código de Defesa do Consumidor, o valor pode chegar a R$ 6,2 milhões.
"Todos os demais produtos AdeS não correspondentes aos lotes AG permanecerão no mercado, encontrando-se em perfeitas condições para consumo", disse a empresa em nota.
Conforme a Unilever, desde o último dia 13 de março nenhum outro produto fabricado na linha TBA3G foi distribuído e a linha de produção afetada pela contaminação está inativa.
A empresa afirma que já adotou as medidas corretivas e está "colaborando com a Anvisa com o fornecimento de todas as informações necessárias para a revogação da interdição cautelar que possibilitará o retorno da fabricação, bem como a liberação para a distribuição, comercialização e consumo dos lotes da AdeS com as iniciais AG (exceto AGB25).
A orientação da Anvisa é que os consumidores não utilizem os produtos já adquiridos e, em caso de queimaduras ou outros sintomas após consumo, procurem um médico.
Orientações ao consumidor
A solicitação de troca, reembolso ou reparo a quaisquer danos decorrentes do consumo do produto contaminados deve ser feita pelo SAC (serviço de atendimento ao cliente) da empresa por telefone no 0800 707 0044, das 8h às 20h, ou por e-mail pelo sac@ades.com.br.
A Anvisa também dispõe de uma canal de atendimento ao cidadão no 0800 642 9782.
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