Força Nacional exuma 180 corpos enterrados sem atestado de óbito em AL
Os 180 corpos de vítimas da violência em Alagoas que foram enterrados sem atestado de óbito durante a greve dos médicos legistas, em junho, agosto e setembro de 2012, serão exumados a partir desta sexta-feira (5) por uma equipe da Força Nacional.
Somente com as exumações é que as famílias das vítimas receberão o documento, essencial para o recebimento de seguros e pensões e para dar entrada em pedidos de herança. Após receberem os atestados de óbito, os parentes podem pedir na Justiça benefícios, aposentadorias e seguros.
As exumações começam hoje, quase oito meses depois que diversos corpos foram liberados para serem enterrados sem necropsia, pois os IMLs (Instituto Médico Legal) de Maceió e de Arapiraca (a 125km da capital) não tinham estrutura para guardar os corpos em geladeiras durante o período da paralisação dos médicos.
Os trabalhos estavam marcados para ocorrer na semana passada, mas foram adiados devido à falta de equipamentos. As exumações marcadas para esta sexta-feira vão ocorrer no cemitério São José, no bairro do Trapiche, em Maceió.
As equipes devem realizar entre duas e três exumações por semana. Segundo o diretor do IML de Maceió, Luís Mansur, os trabalhos devem durar seis meses, prazo estipulado para que os exames cadavéricos estejam terminados.
Para dar conta da quantidade de exumações, a direção do IML pediu ajuda a Força Nacional e traçou uma cronologia das atividades, que começam pelos corpos que deram entrada primeiro.
A operação Jaraguá, como foi denominado o trabalho da Força Nacional em Alagoas, conta com uma médica legista e um gerente de perícias do Amazonas, que farão os exames durante um mês, com possibilidade de prorrogação. A médica legista também contará com a ajuda de peritos do Estado.
Esta é a primeira vez que um médico legista da Força Nacional é mobilizado para realizar trabalhos em outro Estado.
Durante as exumações, os familiares vão ser chamados para presenciar o trabalho, além de outros profissionais e autoridades policiais.
Corpos no chão
Em junho do ano passado, a reportagem do UOL flagrou corpos jogados no chão da área externa do IML de Maceió, porque as salas de necropsia estavam superlotadas. Nas imagens, corpos empacotados eram vistos no chão ou em macas descobertas, em contato com o sol.
Um mês após liberar os corpos para enterro, sem atestado de óbito, a direção do IML pediu à Justiça a autorização para realizar as exumações. Na época, os parentes assinaram um termo autorizando as exumação posterior.
Até agora, muitas famílias sequer puderam receber pensão do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) porque não têm a documentação para dar entrada no pedido. É o caso da dona de casa Adimar da Silva, 26, viúva de José Cícero dos Santos, 26, assassinado no 23 de junho, em Coqueiro Seco (21 km de Maceió).
“Aprendi a fazer unha [manicure e pedicure] e estou tentando me virar com o que ganho, mas mesmo assim a minha família tem de me ajudar com a alimentação. Não tenho casa própria e o que apuro mal dá para pagar o aluguel”, disse ela, que criticou a demora na exumação do corpo.
“Ele era autônomo, fazia uns bicos, mas pagava o INSS dele. Espero que esse pesadelo termine, porque já sofri demais com a perda do meu marido e ainda por cima fiquei numa situação financeira complicada. É muita humilhação porque somos pobres porque se fôssemos ricos num instante já tinham resolvido”, afirmou.
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