Topo

Polícia indicia 101 por ataques em Santa Catarina

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

12/04/2013 16h39

A Polícia de Santa Catarina apresentou nesta sexta (12), na 3ª Vara Criminal de Blumenau (160 km de Florianópolis), o inquérito com o indiciamento de 101 pessoas suspeitas de participar das duas ondas de violência que atingiram o Estado. Foram 181 incidentes de ataques a ônibus e instalações policiais em dois períodos, um em novembro e o outro entre janeiro e fevereiro.

Segundo o delegado Procópio Batista da Silveira Neto, do Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), os responsáveis pelos ataques, ordenados de dentro das cadeias catarinenses, foram 20 presos da cúpula da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense) --eles seriam os "ministros" do crime. Ao todo, foram indiciados 82 presos, 15 foragidos e quatro advogados.

O inquérito tem 13 volumes e 4.000 páginas. A maioria dos envolvidos também tem ligações com tráfico de drogas. Apesar da violência ter se alastrado por 31 cidades, houve apenas uma vítima, o operário Jean de Oliveira, 22, morto com um tiro na cabeça pela PM (Polícia Militar),  em Joinville (194 km de Florianópolis), sob suspeita de ser um criminoso, num episódio ainda sob investigação.

O PGC foi fundado há 10 anos pelo preso Nelson de Lima, apelidado 70. A polícia estima que hoje o PGC tenha 1.500 membros nas cadeias e 2.000 fora --alguns dos integrantes foram usados para cometer os ataques.

Cadeias

As duas ondas de violência foram precedidas por episódios de maus tratos aos presos das cadeias de São Pedro de Alcântara e de Joinville. Em fevereiro, quando a segunda onda já era maior do que a primeira, o governo do Estado pediu auxílio ao federal e tropas da Força Nacional de Segurança Pública ocuparam sete dos principais presídios.

A força transferiu para cadeias fora do Estado 40 presos escolhidos entre os mais perigosos da facção --todos os ministros e até uma segunda leva, para cortar os laços entre eles.

Para evitar que os grupos que ficaram em Santa Catarina se reorganizassem a Secretaria do Estado da Justiça também remanejou os presos entre as diversas cadeias.

Os ataques cessaram no final de fevereiro. Na ocasião, o governador Raimundo Colombo (PSD) disse que a violência foi debelada pelas forças de segurança do Estado "com apenas um tiro, aquele que matou um marginal em Joinville", referindo-se à morte do operário.

A mãe dele, a faxineira Sueli Onofre, alega que o filho foi morto por engano e processa o Estado.

O delegado Procópio Silveira Neto disse que o incidente de Jean de Oliveira ainda não está esclarecido, mas que não pode afirmar que Oliveira fosse membro do PGC. O inquérito da morte dele, iniciado em 3 de fevereiro, foi prorrogado na semana passada.

O processo contra os 101 apresentado à Vara Criminal de Blumenau abrange 82 suspeitos que estão presos e 15 foragidos. Há quatro advogados presos acusados de intermediários entre detentos e seus comparsas nas ruas.

Segundo o diretor do Deic, delegado Akira Sato, "o sucesso das investigações deveu-se ao trabalho de todos os segmentos da Segurança Pública, Ministério Público e Judiciário", atribuindo à Polícia Civil  70% das prisões dos envolvidos.