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Homicídios crescem pelo oitavo mês consecutivo em São Paulo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

25/04/2013 09h32Atualizada em 25/04/2013 12h58

A cidade de São Paulo fechou o primeiro trimestre de 2013 com aumento de 18% no número de homicídios dolosos (ou seja, com intenção de matar) em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o oitavo mês consecutivo em que os números aumentaram, se comparado aos meses equivalentes no ano anterior.

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Para o cientista político e especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o avanço dos homicídios na capital é fenômeno que se observa pelo menos desde o ano passado.

“Tivemos uma queda nos casos durante 11 anos, a partir do ano 2000, depois do pico e mortes em 1999. Não sabemos ao certo por que houve a queda, mas a guerra velada entre o PCC [Primeiro Comando da Capital] e a polícia vem desde o ano passado e pode ser que continue”, disse.

Segundo as estatísticas mensais divulgadas pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), a capital registrou 305 homicídios de janeiro a março deste ano, diante de 258 de janeiro a março de 2012. Em março passado, foram 125 casos –mais que os 89 de fevereiro e que os 96 de março do ano passado.

O número de vítimas por homicídios dolosos no trimestre também cresceu 18%: foram 325 este ano, diante de 274 no primeiro trimestre de 2012.

Estupros aumentam

Conforme os números, também cresceram na capital os números de casos de estupro: foram 867 este ano, contra 688 de janeiro a março do ano passado, aumento de 26%. Só em 2013, por sinal, os casos de estupro vêm em uma crescente: foram 269 casos em janeiro, 287 em fevereiro e 311 em março.

Roubos crescem

As estatísticas mostram também aumento no número de roubos e latrocínio (roubo seguido de morte) na capital. Ao todo, foram 28.123 casos este ano (9.732 em março, 8.928 em fevereiro e 9.463 em janeiro), contra 27.570 de janeiro a março de 2012 --variação positiva de 2%.

Os roubos de veículos também aumentaram --3,5% de um ano a outro --, ao passarem de 11.309 casos para 11.711. Furtos de veículos na capital tiveram alta de 3% --de 11.170 para 11.543 no primeiro trimestre.


Latrocínios

Os casos de latrocínio quase dobraram: foram 40 este ano, contra 22 no primeiro trimestre de 2012, aumento de 82%. Em relação a fevereiro, houve queda de cinco casos: foram dez casos em março, e 15 no mês anterior.

Um dos latrocínios que mais repercutiram foi o do universitário Victor Hugo Deppman, 19, assassinado em frente ao prédio onde morava, no Belém (zona leste de SP), por um adolescente de 17 anos --que, detido, completou 18 anos três dias após o crime.

O caso levou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a anunciar que seu partido proporá ao Congresso Nacional um projeto de lei que propõe tornar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mais rígido em relação a adolescentes envolvidos em casos de violência considerados graves e reincidentes.

Entre as mudanças propostas na legislação pelo governador está a de que, após completar 18 anos, o jovem sentenciado por crime violento teria de cumprir a pena em uma unidade do sistema penitenciário. Hoje, pela lei, ele pode ficar até os 21 anos em unidades destinadas a menores.

Onda de ataques e grupos de extermínio

Além da proposta de alterações no ECA, outro contexto para o aumento dos índices de violência na capital paulista são as chacinas recentes em cidades da Grande São Paulo e os ataques incendiários a ônibus.

Na noite dessa quarta (24), por exemplo, um ônibus foi incendiado após assalto no Jardim Cumbica, em Guarulhos. Ninguém ficou ferido.

Também nessa quarta, os chefes das polícias Civil e Militar no Estado afirmaram, em entrevista coletiva, que ao menos dois PMs de Osasco (Grande SP) estão presos administrativamente suspeitos de participar de chacinas na cidade e em Carapicuíba, em fevereiro e abril deste ano.

Além dos PMs, dois vigilantes noturnos são investigados e serão, junto com os policiais, alvos de pedido de prisão temporária à Justiça hoje (25).

"Guerra velada entre polícia e PCC vem desde 2012", diz especialista

Para Guaracy Mingardi, o aumento dos assassinatos é reflexo da ação de grupos de extermínio investigados dentro da própria PM --ainda que o comando da corporação e mesmo da Polícia Civil atribua as suspeitas envolvendo policiais a "desvios de conduta que são atos isolados".

“Os grupos de extermínio, depois que se constituem, acabam ganhando uma autonomia que não se esperava que ganhassem –eles podem vir para vingar a morte de alguém e depois é muito difícil parar com esse fenômeno”, declarou.

Na avaliação de Mingardi, houve um “erro de estratégia” por parte do governo estadual em se delegar ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) a investigação das mortes atribuídas a policiais sem que se equipasse o órgão especificamente para esse tipo de apuração.

“O Estado precisa investir em mais gente que investigue esses casos e treinar essas equipes. Se a PM mata em média 200 pessoas por ano na cidade, não se pode simplesmente transferir a investigação dessas mortes ao DHPP sem dar a ele sustentação, pois ali já são investigados os demais homicídios da cidade”, citou.

Procurada pela reportagem, a SSP informou, por meio da assessoria de imprensa, que não deverá se pronunciar, por ora, sobre os dados.