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Colégio centenário sugere rotas para pais evitarem assaltantes na zona sul de SP

O Colégio Marista Arquidiocesano, na região da Vila Mariana, é um dos mais tradicionais da capital paulista - Rivaldo Gomes/Folhapress
O Colégio Marista Arquidiocesano, na região da Vila Mariana, é um dos mais tradicionais da capital paulista Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/05/2013 06h00

Uma onda de assaltos à mão armada nas proximidades do colégio Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, levou a direção da unidade a pedir aos pais de alunos que mudem o percurso ao deixar e buscar os filhos de carro. O objetivo é que eles evitem ruas mais visadas pelos criminosos, especialmente, conforme o colégio, a Loefgreen.

Depoimento de pai assaltado

"É um pânico muito grande esse tipo de situação, e uma sensação de impotência que nos deixa também reféns. Estamos enclausurados."

O Arquidiocesano é um dos mais tradicionais e também o mais antigo colégio da capital paulista: foi inaugurado no atual endereço no local em 1935, mas já atuava na Luz (região central) desde 1858.

O aviso aos pais foi feito por meio de uma circular de uma página assinada pela direção da unidade e com data do último dia 14. O UOL teve acesso ao texto, no qual é pedido a eles que, em função da “reincidência dos fatos”, é importante se manter alerta durante o deslocamento pelas ruas Loefgreen, Joel Jorge de Melo, Jorge Tibiriçá, Santa Cruz e “demais regiões da Vila Gumercindo – área que vai da avenida Ricardo Jafet/Professor Abraão de Moraes até a região do colégio”.

Conforme a circular, “especialmente no período matutino”, é preciso atenção contra a abordagem de dois assaltantes que “aproveitam as paradas em semáforos para render os motoristas e levar seus veículos”.

“Para os pais que têm algum acesso aos responsáveis pela Segurança Pública, pedimos encarecidamente que encaminhem diretamente esta importante e grave situação”, diz trecho da circular.

De acordo com o diretor-geral do colégio, Ascânio João Sedrez, foram ao menos seis assaltos praticados pela dupla, nas três últimas semanas, contra pais de alunos.

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Indagado sobre o caráter pedagógico da circular aos pais, Sedrez definiu: “Seríamos omissos, se, com tanta reincidência nesses casos, não chamássemos os pais também à responsabilidade. É uma medida paliativa, mas, para evitar um mal maior, pedimos que as pessoas tomem mais cuidado e deem repercussão ao problema”, disse. E comparou: “Sabemos que a violência não está restrita à região; somos a ponta de um iceberg”.

Sedrez afirmou que as abordagens dos assaltantes têm sido mais frequentes na Loefgreen –rua que já figurou nas estatísticas da segurança pública como a campeã de roubo de veículos na capital, ano passado. Um dos motivos, acredita, é o congestionamento causado na via em função das mudanças de sentido promovidas em ruas do entorno, como a Francisco Tavares, que antes eram alternativa para chegada ao colégio. As mudanças foram feitas recentemente em função das obras de ampliação da linha 5 - lilás do metrô na rua Domingos de Moraes.

O alvo dos criminosos, segundo o diretor, foram todas picapes do tipo SUV, além de pertences como celulares e documentos das vítimas. Os ataques ocorreram, em maioria, no período da manhã. O colégio já se reuniu com o comando da Polícia Militar na região e com a Polícia Civil para pedir mais policiamento nas imediações.

"Não resolvemos a segurança criando bunkers protegidos", admite diretor

“No colégio, é como se vivêssemos em uma bolha de segurança, com câmeras de seguranças. Acaba virando uma redoma --mas isso é o que acaba acontecendo com as nossas prisões: elas garantem um raio de proteção pequeno, e o problema de segurança não se resolve formando esses bunkers protegidos”, avaliou Sedrez.

Ao todo, entre alunos de educação infantil a ensino médio, além de professores e funcionários, o Arquidiocesano tem uma comunidade de aproximadamente 4.500 frequentadores diários.

Já por medida de segurança, desde o início do ano a instituição conta com “drive-thrus” em dois acessos para que os pais deixem os filhos diretamente dentro do prédio da escola, sob o olhar de funcionários.

 

PM fala em "casos isolados"; delegado admite “ponto crítico”

Em nota, a Polícia Militar informou que houve uma reunião com representantes de unidades escolares da região para discutir a onda de assaltos.

"A PM continuará atuando com os diversos programas de policiamento, e, de posse de informações sobre ocorrência isolada envolvendo mãe de aluno, será realizado um trabalho de inteligênica para identificar a atuação dos indivíduos que praticaram o roubo. Não é caso de alarme e nem onda de assaltos, trata-se de casos isolados", minimizou a nota.

Já pelo 16º DP (Vila Clementino), o delegado titular, Calixto Calil Filho, garantiu que o policiamento no local será reforçado, mas, por outro lado, admitiu que a área do colégio “é considerada ponto crítico”.

“É uma área que atrai muitos automóveis de valor, e não só pelo colégio [há também shopping, faculdade de medicina particular e clínicas e hospitais na região], e isso acaba atraindo a marginalidade. Estamos mapeando esses pontos do entorno e consta que se trata de um ponto crítico –quando se passa de dois ou três casos na semana, por exemplo”, afirmou.

O delegado informou que medidas em conjunto com a PM serão tomadas.

“Antes que a situação piore, estamos reforçando as rondas e nos colocando em contato com a direção do colégio para que os pais, se tiverem algum suspeito, nos tragam informações, registrem o boletim de ocorrência e façam o reconhecimento quando necessário, nem que seja por um retrato falado do assaltante”, sugeriu.