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"Estamos enclausurados e impotentes", diz advogado assaltado ao deixar filho na escola

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/05/2013 06h00

O advogado Carlos André Leite, 49, foi um dos seis pais de alunos que recentemente foram abordados pela dupla de assaltantes nas proximidades do colégio Arquidiocesano.

Em entrevista ao UOL, ele contou que era 6h50 de uma sexta-feira quando deixava o filho, um adolescente de 16 anos, na escola. Perdeu o carro, a carteira e um celular –o veículo, uma picape SUV, foi recuperado cerca de meia hora depois.

Leia, abaixo, o depoimento do advogado.

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“Eu deixaria meu filho na escola, era por volta de 6h50, trafegava pela Loefgreen. Fechou um semáforo, havia um ônibus de um lado, um carro de outro. De repente, só vi aqueles dois rapazes vindo na nossa direção –um na minha, o outro, na do meu filho.

Já no capô do carro, vi que um deles atravessou até mim com a arma em punho. Um tinha capuz, o outro estava só de boné. Não creio que eram menores, deviam ter 20, 20 e poucos anos. E não tinham aquele estereótipo que tanto traçam de bandido: podiam passar bem por dois jovens universitários...

O que veio até mim pediu minha carteira, celular e relógio –desci do carro e entreguei. O outro pediu a mochila do meu filho, que, inadvertidamente, alertou o bandido: ‘Mas aqui só tem material escolar!’. Ele se irritou, meu filho pôs a mochila no chão e, na confusão, o outro assaltante chegou a deixar a arma dele cair no chão.

Nesse meio tempo abriu o semáforo, ele pegou arma e, já dentro do carro, partiram. Creio que, para quem estava logo atrás de mim, é como se a imagem daquilo tudo tivesse congelado.

Os assaltantes cometeram uma burrada: a chave do veículo ficou no meu bolso –ele só funciona até ser desligado. E tenho dois celulares, um ficou no meu bolso.

É um pânico muito grande esse tipo de situação, não te passa nada na cabeça: fiquei estático, agi como eles me pediram, e, graças a Deus, paralisei e só obedeci calmamente. Fiquei foi muito preocupado com meu menino --16 anos, sabe como é: tinha medo que ele reagisse.

Mas a sensação é de total impotência. Você vai e registra um boletim de ocorrência e espera quase duas horas para ser atendido. E pior: com o carro da PM e dois policiais dentro tendo que esperar com você.

Eu e minha mulher já tínhamos sido abordados no trânsito --mas há uns 22, 23 anos, e por trombadinha usuário de drogas, não gente armada e da forma como foi agora.

É como se a insegurança aqui só aumentasse --e de forma dramática. Moro na direção da [estação de metrô] Ana Rosa e sexta à noite teve uma pessoa baleada na minha rua.

Obviamente que fiquei mais atento, nada que eu já não fosse. A diferença é que agora essa sensação de impotência nos deixa também reféns desse tipo de situação. Estamos enclausurados.”