Ritual e protestos marcam velório de índio morto em Sidrolândia (MS)
Continua sendo velado em Sidrolândia (71 km de Campo Grande) o corpo do índio terena Oziel Gabriel, 35, morto durante reintegração de posse de uma fazenda nesta quinta-feira (30). A família se recusa a sepultar o corpo sem que seja feita uma segunda autópsia.
Apesar de o atestado de óbito já confirmar que o índio foi atingido por arma de fogo, parentes alegam que o exame feito logo depois da morte não está bem detalhado. Eles querem saber o calibre do projétil que atingiu o indígena.
Durante o velório, um grupo de líderes terena percorreu a aldeia clamando por justiça. Um cortejo de mulheres e crianças acompanhou o protesto. Em seguida, sob forte emoção, foi realizado um ritual ao redor do caixão.
Índios das etnia guarani kaiowá e kaudiwéu, de Mato Grosso do Sul, e kaingang, do Paraná, foram ao velório prestar solidariedade à família de Oziel. Eles gritaram palavras de ordem, prometendo resistir até a morte em nome do “guerreiro Oziel”.
Jabes Gabriel, 41, irmão de Oziel, disse que está indignado com o que ele considera ter sido um assassinato. “Mataram meu irmão para defender um fazendeiro turco que massacrou nossos antepassados”, disse Jabes.
Os indígenas também acusam a Prefeitura de Sidrolândia e os governos estadual e federal pela violência na desocupação. A crítica também é direcionada ao agronegócio, que responde pela maior parte da economia do Estado.
Onde fica
Sidrolândia está a 71 km de Campo Grande
Disparo
Um índio, que se identifica como Hanaiti Guerreiro, disse que estava ao lado de Oziel no momento do confronto com a polícia. Ele afirma que usavam apenas arcos e flechas quando foram surpreendidos pelos disparos. “Foi a Polícia Federal que disparou”, afirma.
A assessoria de comunicação da Polícia Federal informou que um inquérito será aberto para apurar as circunstâncias da morte. Já a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul divulgou um comunicado em que garante que foi usada apenas arma não letal, com balas de borracha, durante o cumprimento da reintegração de posse.
Ocupação
Mesmo depois da ação policial na fazenda Buriti, um grupo de índios passou a noite acampado na propriedade. Eles também bloqueiam o principal acesso à área. O proprietário da fazenda, o ex-deputado estadual Ricardo Bacha, disse ao UOL que não pretender voltar ao local.
“Assim como fizeram no (complexo do) Alemão, no Rio de Janeiro, é preciso pacificar a fazenda Buriti. Sidrolândia vive um cenário de guerra”, afirmou. Segundo Bacha, não há mais nada a ser feito por vias judiciais, já que a própria Justiça Federal foi favorável ao proprietário.
Índio é morto em desocupação de área invadida no MS
A disputa
A Terra Indígena Buriti é um território que, nos últimos 12 anos, vem passando por indas e vindas, ora com decisões favoráveis aos proprietários, ora aos indígenas. Em 2001, a Funai aprovou a identificação da área como território indígena. Em 2004, a Justiça Federal declarou, em primeira instância, que as terras pertenciam aos produtores rurais.
Funai e Ministério Público Federal recorreram, e, dois anos depois, em 2006, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região declarou a área como de ocupação tradicional indígena.
Os proprietários da área entraram com recurso e, em junho de 2012, tiveram decisão favorável a eles, ou seja, que as terras pertencem aos produtores rurais, não aos índios.
Os índios, que invadiram a área no dia 15 de maio deste ano, disseram que ficariam na área até que o TRF-3 (Tribunal Regional Federal), em São Paulo, julgasse o recurso movido por eles.
A Justiça determinou a reintegração de posse da área, realizada nessa quinta-feira (30) por homens da Polícia Federal e da Companhia de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais (Cigcoe). Houve confronto entre índios e policiais. Além da morte de Oziel Gabriel, outros cinco índios e dois policiais ficaram feridos.
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