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Às vésperas da visita do papa, voluntários têm aulas de francês em igreja da zona sul do Rio

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

13/07/2013 06h00

O salão paroquial da Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, na zona sul do Rio de Janeiro, se enche ao poucos dos biquinhos e erres enrolados do francês, enquanto o francês Bruno Soulard, 51, radicado no Rio desde 1997, rabisca conjugações de verbos básicos como levantar, perder e chamar no quadro montado especialmente para a aula. “Ça va”, pergunta? “Oui”, respondem os alunos, que copiam freneticamente.

As aulas começaram em fevereiro, em inglês, por iniciativa de três membros do grupo de jovens que queriam ajudar os voluntários da comunidade a receber os romeiros da Jornada Mundial da Juventude (evento que acontece no Rio entre os dias 23 e 28 de julho e que contará com a presença do papa Francisco) da melhor forma possível.

Todas as segundas, às 19h, cerca de 40 alunos se reúnem no salão, trocando os Pais-nossos por conjugações. Um dos maiores eventos católicos do mundo, a Jornada deve levar cerca de 2 milhões de pessoas ao Rio na esteira da visita novo papa e tem causado frenesi nas paróquias que se apressam para os últimos preparativos.

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A mudança para o francês aconteceu há um mês e meio, quando Pedro Boechat, 24, um dos idealizadores do curso e coordenador da Jornada na igreja, descobriu que a Nossa Senhora da Glória seria um dos centros da peregrinação na língua de Voltaire. “Daí deixamos o inglês de lado e mudamos rápido para o francês”, explica. 

No começo, o estudante de estatística e ciências atuariais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que estuda o idioma há dois anos e fazia o papel de professor na turma de inglês, pensou em ministrar as aulas sozinho.

Ao comentar a ideia com o seu professor particular, Soulard, acabou angariando mais um voluntário. “Frente à catástrofe, resolvi me apresentar”, diverte-se o professor, que intermedeia as lições com referências a “eles”, os peregrinos. “Eles podem perguntar que horas devem se levantar, então vocês podem responder da seguinte forma”, diz, com o sotaque carregado, desafiando os alunos a identificar a hora marcada em um relógio tamanho família desenhado no quadro.

Ao todo os alunos, em sua maioria senhoras que tiveram aulas de francês na infância, na época que o “bonjour” era mais comum que o “good morning” nas escolas brasileiras, terão oito aulas --o suficiente, segundo o professor, para uma comunicação básica.

“Ah, é tão bom. Eu fazia francês quando menina, cheguei a viajar a Paris. Mas isso faz mais de 30 anos, estava tudo esquecido”, recorda a aposentada Isolina Vieira Lopes Balmant, 66, que vai receber duas francesas e casa. Caderno a tiracolo, ela diz que as aulas a animaram não só a falar com os visitantes, mas a voltar ao idioma. “Quem sabe não continuo estudando depois que a Jornada acabar?”

Como parte do curso de guerra, a última aula, que será ministrada na próxima segunda-feira (15), oito dias antes do começo da Jornada, será só de vocabulário. Entre a lista elaborada por Boechat junto ao professor, estão palavras básicas do cotidiano e relacionadas à igreja, como papa, bispo, peregrino, vigília e afins. E o Largo do Machado se prepara para ficar repleto de “bonjour, madames/monsieur” e “merci beaucoup”.