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Índios decidem manter a ocupação da Aldeia Maracanã, no Rio

Grupo voltou a ocupar área o antigo prédio do Museu do Índio, que fica no complexo esportivo do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro - Fabio Teixeira/UOL
Grupo voltou a ocupar área o antigo prédio do Museu do Índio, que fica no complexo esportivo do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro Imagem: Fabio Teixeira/UOL

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

06/08/2013 20h26

Representantes de 21 etnias indígenas e apoiadores dos índios vão manter a ocupação no antigo prédio do Museu do Índio, no Maracanã, zona norte do Rio, ao menos até o próximo sábado (10), quando novamente o grupo se reúne com a secretária de Cultura do Estado, Adriana Rattes.

Nesta terça-feira (6), os dois lados se reuniram no local, também batizado do Aldeia Maracanã pelos ocupantes, para definir como será a gestão do edifício, que deve ser transformado em um centro de referência indígena. Adriana garantiu que não haverá invasão da Polícia Militar para retirar os ocupantes do imóvel.

O local voltou a ser ocupado na tarde de segunda-feira (5) depois que o governo do Estado decidiu devolver o imóvel aos índios que viviam na área até março deste ano, quando foram retirados em uma ação de reintegração de posse.

A chegada de 60 PMs do lado de fora do museu chegou a interromper a reunião. Eles disseram ter ido ao local por causa da suposta ameaça de o grupo "Black Bloc" fechar a Radial Oeste.

Porém, após conversar com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a representante do governo estadual ordenou que os PMs deixassem a entrada do imóvel, dando prosseguimento à negociação com o grupo.

“A ideia é que eles fiquem aqui e construam esse projeto do centro de referência indígena. Não há nenhuma intenção de o governo tirá-los daqui. Temos de combinar agora como essa ocupação se dará. Esse é um processo que vai exigir várias conversas, várias reuniões. Vamos construindo coletivamente essa proposta até encontrar um consenso”, disse a secretária.

Ao fim da reunião, a dúvida dos grupos indígenas era se poderia permanecer no prédio do museu sem correr o risco de uma invasão policial.
Adriana disse que a ideia do Estado não é deixar que o local vire “moradia” dos grupos, mas que o governo não vai mais impedir a ocupação. No entanto, disse a secretária, ela será feita com a participação da pasta.

“O desejo do Estado é de que esse local não seja mais usado como local de moradia. Não faz a menor diferença se eles passarem mais algumas noites aqui. O que não queremos é que, no médio e no longo prazo, eles fiquem dormindo aqui porque vai chegar um momento em que vamos desocupar para fazer obras [de recuperação do prédio]”, disse a secretária.

Propostas

Adriana apresentou aos indígenas duas propostas de gestão do prédio e da área do Museu do Índio.

Segundo ela, independente do tipo de gestão que for definido, o local será dedicado à cultura indígena. O prédio está em processo de tombamento, segundo a secretária, e pode ser assinado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) ainda nesta semana.

A primeira proposta é a terceirização do local por meio de concessão de uso para uma instituição que represente a causa indígena. Essa organização, explicou a secretária, teria de ser uma que representasse o movimento da Aldeia Maracanã.

A outra proposta seria a criação de uma OS (organização social) que seria gerida pelo centro de referência indígena, que, obrigatoriamente, teria de ter um conselho com representantes de todas as etnias do movimento e outras instituições como universidades, governo, entre outras.

As propostas ainda serão debatidas pelos índios. Um dos representantes indígenas Carlos Tucano, disse que os grupos vão avaliar as melhores alternativas e que muito tem de ser dialogado entre os membros do movimento.

“Primeiro o governo disse que ia demolir quando comprou a área, depois que ia virar um estacionamento e depois que ia tombar para virar um museu olímpico, então mudou de ideia. Consideramos uma vitória. Não somos contra a Copa, somos contra a injustiça contra nós”, disse Tucano.