PM diz que moradores contaram que traficantes esconderam corpo de Juan
No terceiro dia de julgamento dos policiais militares acusados pela morte do menino Juan Moraes, 11, e de Igor de Sousa, 17, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o comandante do 20º batalhão da PM do município, coronel Sérgio Luiz Mendes Afonso, afirmou que o serviço reservado da corporação apurou, junto a moradores da comunidade do Danon, que o corpo do menino continuava na favela após sua morte, pois tinha sido recolhido por traficantes.
Ele falou por mais de duas horas sobre a dinâmica dos fatos da noite do crime e de como foi a investigação interna sobre o sumiço do garoto. Segundo ele, policiais do serviço reservado questionaram moradores da comunidade e alunos da escola onde Juan estudava. Atualmente, o coronel está no departamento de atendimento de urgência da PM.
"Eles [agentes] foram à escola para saber dos colegas sobre o comportamento de Juan. Os colegas falaram que o corpo estava na comunidade, que traficantes o esconderam. Disseram que Wesley e Juan estavam com Wanderson, que ia comprar drogas no beco, quando começaram os tiros", disse o coronel sobre as vítimas.
Na investigação, o serviço também relatou, segundo o comandante, que o pai do garoto era viciado e que tinha dívidas com traficantes, que possivelmente esconderam o corpo do menino.
Antes de ouvir o comandante, a defesa colocou áudios de gravações do 190 naquela noite, onde denunciantes chamaram a PM por causa de um grupo de supostos traficantes armados que chegavam na comunidade naquela noite.
Os defensores pediram que Afonso dissesse se era comum se dividirem para fazerem ações de combate, como a que ocorreu naquela noite --Isaías Souza do Carmo e Edilberto Barros do Nascimento ficaram na posição de tiro e Ubirani Soares e Rubens da Silva na viatura, para a retaguarda.
"É normal se dividirem. Se entenderem que há a possibilidade, que não há risco, é normal", afirmou.
Já o promotor Sérgio Ricardo Fonseca questionou se isso seria prudente e correto, já que a informação era de que vários traficantes estariam no local.
"Vou dividir a resposta. Se é prudente? Não é. Se é correto? Depende da avaliação deles do que está ocorrendo, se arriscam se é necessário, se coloca em risco, depende da avaliação deles para resolverem”, disse. “É imprudente, mas correto.”
Testemunhas dispensadas
Outras quatro testemunhas que seriam ouvidas na tarde desta quarta foram dispensadas. Ainda nesta tarde, o perito Miguel Arcanjo prestará depoimento novamente porque uma falha técnica deixou sem áudio a oitiva de terça (10).
Após o testemunho do perito, os quatro acusados serão ouvidos pela Promotoria e pela defesa.
Ao todo, 13 testemunhas foram ouvidas, sendo uma de acusação e outra, o delegado Ricardo Barbosa, ex-titular da DH (Delegacia de Homicídios) de Nova Iguaçu, arrolada tanto pela defesa dos réus quando pela promotoria.
No segundo dia do julgamento, o delegado descartou a possibilidade de troca de tiros entre os policiais e traficantes na comunidade. Apesar do adolescente Igor Afonso ter sido encontrado com uma arma na mão, não há provas de reação da vítima.
O delegado titular da delegacia de Comendador Soares, Cláudio Nascimento, que deu início às investigações, disse não acreditar que a ocultação do corpo do menino tenha sido feita por traficantes da favela, uma vez que os policiais militares não teriam deixado o local. Além dos delegados, ontem foram ouvidos o perito que analisou os ossos do corpo de Juan e uma moradora da comunidade.
O primeiro dia de julgamento, na segunda-feira (9), foi marcado pelo atraso do início da sessão e um acordo entre a Promotoria e a defesa sobre a presença de Juan no local.
A mãe do menino disse que PMs a procuraram em sua casa após a morte de seu filho. Emocionada, Rosineia Maria Moraes, prestou depoimento no julgamento dos policiais militares acusados do crime. "Estava no hospital [com Wesley] e minhas vizinhas me ligaram dizendo que viram homens lá me procurando e também homens fardados", disse.
Julgamento
Os policiais militares Isaías Souza do Carmo, Edilberto Barros do Nascimento, Ubirani Soares e Rubens da Silva são acusados das mortes dos adolescentes.
Os PMs também são acusados de tentativas de homicídio contra Wesley Felipe Moraes da Silva, irmão de Juan, e Wanderson dos Santos de Assis e ocultação de cadáver, pois o corpo de Juan foi encontrado somente dez dias após os crimes, que ocorreram na noite de 20 de junho de 2011 na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
As vítimas foram mortas em uma suposta ação do 20º Batalhão da Polícia Militar na favela. Sete jurados vão avaliar as teses da acusação e defesa para decidir sobre o futuro dos acusados. Ao todo, Promotoria e defesa chamaram 35 testemunhas. A previsão é de que o julgamento dure quatro dias.
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