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'Nenhum policial sai às ruas dizendo que vai matar', diz advogado de PM preso em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/10/2013 19h12

“Nenhum policial sai às ruas dizendo ‘vou matar alguém’. Foi um acidente." A afirmação é do advogado Fernando Fabiani Capano, que defende o soldado da PM (Polícia Militar) Luciano Pinheiro Bispo, 31. Nesta terça (29), Capano apresentará à Justiça o pedido de liberdade provisória do PM, preso em flagrante na madrugada desta segunda (28) depois de atirar no estudante Douglas Martins Rodrigues, 17, nesse domingo (27). Bispo foi atuado por homicídio culposo (sem intenção de matar).

Morador do Jaçanã (zona norte) e funcionário de uma lanchonete em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), Douglas, aluno de 3º ano do ensino médio,  foi atingido no tórax durante uma abordagem do soldado e de outro PM. Eles atendiam uma ocorrência de som alto na Vila Medeiros e, segundo o advogado, sentiu “atitude suspeita” dos adolescentes –no caso, do estudante do irmão de 12 anos.

Segundo o advogado, o soldado “estava um pouco nervoso, ontem”, mas, hoje, “acabou ficando mais tranquilo”. “Porque ele sabe que se tratou de uma fatalidade.

O que houve foi um acidente, são microssegundos em que é difícil você ponderar, no calor dos acontecimentos, detalhe por detalhe”, afirmou. “Então a porta da viatura bateu na arma, e a arma disparou –mas prefiro esperar a perícia do Instituto de Criminalística”, completou.

Capano contradisse versão dada mais cedo pelo porta-voz da PM, major Mauro Lopes, sobre a posição em que a arma deveria ser segurada pelo policial.

Em entrevista ao telejornal "Bom Dia São Paulo", da "Rede Globo", Lopes afirmara que a abordagem correta determina que os policiais segurem a arma com o cano para baixo. Pela descrição do advogado à tese de acidente, dificilmente ela estaria nessa posição.

“A própria PM treina os policiais para que eles não abordem o suspeito com a arma para baixo –em eventual confronto, isso pode ser fatal [ao policial]”, declarou o advogado. “Particularmente, entendo diferente do que o major disse."

Indagado se Douglas e o irmão teriam ameaçado o soldado e o outro PM, o advogado negou. “Mas eles estavam em atitude suspeita: um saiu para um lado, outro por outro lado, e ali [a rua Bacurizinho], sabe-se, é ponto de venda de drogas”, disse.

Ainda conforme o advogado, o soldado, há dois anos na corporação, “já foi inclusive laureado por bom comportamento e bons serviços prestados”. Capano não soube dizer, entretanto, quando a honraria foi concedida ao cliente.

Procurada, a PM informou que abriu um inquérito policial militar sobre o ocorrido e que “detalhes da investigação, inclusive a respeito do armamento do PM, serão divulgados no final das apurações”.

A morte do estudante causou revolta entre os moradores da região. Eles realizaram um protesto no final da tarde de ontem no qual três ônibus de transporte coletivo e um veículo Gol foram incendiados. Também foram registrados atos de vandalismo em lojas, agências bancárias e mobiliário urbano, além de saques no comércio.

Douglas foi enterrado hoje à tarde no cemitério Parque dos Pinheiros, no Jaçanã.

"Por que o senhor atirou em mim?"

Um irmão de 12 anos de Douglas disse hoje que a vítima não esboçou reação à abordagem dos policiais. "[Os PMs] Já chegaram dando tiro de dentro do carro. Não falei nada, não teve  nem reação do meu irmão", disse o irmão de Douglas em entrevista ao SPTV, da Rede Globo.

A mãe do jovem, Rossana de Souza, disse ao telejornal que o filho cursava o 3º ano do ensino médio e era funcionário de uma lanchonete do bairro de Pinheiros, na zona oeste. "Ele acordava todo dia às 4h30 para ir trabalhar. Voltava, tirava uma sonequinha e ia para a escola", lamentou. "Ele ainda perguntou: 'Senhor, por que o senhor atirou em mim?' Nem ele sabe por que tomou um tiro", disse. "Eles [policiais] não sabem a dor que estou sentindo", desabafou