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Copa e eleições favorecem nova onda de protestos em 2014, dizem especialistas

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

17/12/2013 06h00Atualizada em 17/12/2013 11h51

Às vésperas do novo ano, especialistas entrevistados pelo UOL apostam que a onda de manifestações que tomou as capitais e diversas outras cidades brasileiras pode se repetir em 2014. E a Copa do Mundo e as eleições seriam os fatores para isso ocorrer.

O sociólogo, mestre em história e doutor em ciência política Luís Antônio Vital Gabriel afirma que o fato de 2014 ser um ano eleitoral vai contribuir de forma decisiva para isso.

"Como todo ano eleitoral, há maior tendência de ocorrerem movimentações, reivindicações, porque é um momento em que a classe política está mais atenta às demandas sociais por ser um período de avaliação dos governos por meio das eleições", afirma o professor das Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo.

O pesquisador lembra que o fato de outros grupos políticos almejarem disputar um espaço na estrutura de poder também contribui para que "a classe política fique mais sensível às demandas que emergem da sociedade brasileira".

Luís Antônio acrescenta o fator Copa do Mundo às razões que o fazem acreditar que o próximo ano assistirá a uma nova onda de protestos no Brasil.

De tarifa a gasto com Copa, protestos mobilizam população

"Em junho, os manifestantes prometeram que em 2014 seria um ano de grandes manifestações, reivindicando dos governos, de todos os âmbitos, que façam investimentos da mesma qualidade nos serviços públicos como foi investido na Copa", diz. 

Durante a onda de protestos pelo Brasil em junho, a expressão "imagina (sic) na Copa" foi usada pela população para sugerir que situações do cotidiano poderiam ficar mais complicadas em 2014.

Na opinião do sociólogo e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Eduardo Oyakawa, os altos gastos com a construção dos estádios despertou na população --especialmente na classe média, segundo ele-- um sentimento de indignação que foi determinante durante os protestos registrados no meio do ano.

"Os gastos exorbitantes com os estádios criou a sensação das classes médias de que elas estavam sendo espoliadas pelos Estados, pagando impostos altos e com contrapartidas quase nulas ou que deixavam muito a desejar em relação ao transporte público, à educação, à saúde", avalia.

Onda de manifestações

A onda de protestos que sacodiu o país teve início no começo de junho deste ano, com uma série de protestos promovida em São Paulo pelo MPF (Movimento Passe Livre) contra o aumento do preço da passagem do transporte público, que passou de R$ 3 para R$ 3,20.

A violência com que as manifestações foram reprimidas pela Polícia Militar despertou um sentimento de indignação que levou milhares de pessoas às ruas, não apenas da maior cidade do país como também de outras capitais e municípios brasileiros.

A pressão popular levou dezenas de governos municipais e estaduais a voltar atrás em relação ao reajuste do valor da tarifa do metrô, trem e ônibus.

Em meio aos protestos pela redução do preço da passagem do transporte público, outros cartazes eram vistos. Fim da corrupção, mais verba para a educação e a saúde, não à "cura gay", à PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37, que tiraria o poder de investigação do Ministério Público, e 33, que reduziria o poder do STF (Supremo Tribunal Federal), eram algumas das novas reivindicações.

Para algumas, a reposta foi a esperada pelos manifestantes. Foi o caso do projeto conhecido como "cura gay", que previa autorizar psicólogos a oferecer tratamento para a homossexualidade. A proposta foi aprovada na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, presidida pelo deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), mas acabou sendo arquivada pela Casa.

Os manifestantes também reivindicaram pela saída do parlamentar da liderança da comissão, mas ele continua à frente dela até hoje.

Vitória das ruas

Apesar disso, pesquisadores avaliam que a população saiu vitoriosa das ruas. "Eles [o povo] saíram vitoriosos porque a grande maioria das pessoas reivindicou de forma pacífica. Todos concordavam que a democracia se faz com o povo na rua. Foi um grande avanço na política social no país", afirma Eduardo Oyakawa.

Luís Antônio acredita que as manifestações marcaram uma "retomada das jornadas populares de participação". "A população vinha um pouco afastada da política cotidiana. De modo muito claro, a juventude se mostrou bastante ativa, o que nos apresenta um quadro importante de que essa juventude vem se preocupando com questões políticas e sociais", analisa.

Oyakawa classificou as manifestações como "eficientes" à medida que muitas tiveram êxito. "Fica claro que essa força [das ruas] foi sentida pelos políticos. As elites políticas ficaram assustadas. Nós temos agora uma ideia da sociedade civil muito mais forte, conhecendo seu poder de reivindicação", diz.

Ele destaca ainda o papel da classe média, que se fortaleceu, de acordo com ele. "Eu tenho a impressão que essa classe média percebeu a sua força. Qualquer tipo de aumento indevido já começa a deixar a população mais alerta", avalia Oyakawa.