Movimento Passe Livre faz ato em defesa da tarifa zero em Brasília
Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) fizeram hoje (30) mais um ato em defesa da passagem de ônibus grátis. Cerca de 30 integrantes e apoiadores do movimento se reuniram na Rodoviária do Plano Piloto, no centro da capital federal e a poucos quilômetros do Estádio Mané Garrincha, onde apresentaram aos usuários do transporte público que passavam pelo local suas propostas de como viabilizar a chamada tarifa zero.
Para o MPL, o transporte deve ser tratado como um direito de todo cidadão e deve ser gratuito, como já ocorre nos sistemas públicos de saúde e de educação. Presente em todas as capitais e nas principais cidades do país e responsável pelas primeiras manifestações de junho do ano passado, o movimento considera obrigação do Estado prestar o serviço de transporte, efetivando o livre direito de ir e vir de todos.
"O Estado tem dinheiro suficiente para isso, para dar um transporte público de qualidade a todos os usuários. Manter a cobrança da passagem é limitar o direito de ir e vir das pessoas", disse o estudante da Universidade de Brasília (UnB) Cristiano Henrique. Embora não faça parte do MPL, Cristiano apoia a causa.
Durante o que classificaram de aula aberta à participação popular, alguns dos militantes usaram a aparelhagem de som montada sem autorização prévia da administração da rodoviária para demonstrar aos interessados que a proposta de um sistema de transporte público gratuito e de qualidade é possível. Lembrando que diversos governos já subsidiam as empresas de ônibus, arcando com parte dos custos operacionais, um dos integrantes do grupo ironizou a situação, apontando para uma fila de ônibus disponibilizados pelo governo do Distrito Federal para transportar, de graça, torcedores que se dirigiam ao estádio onde França e Nigéria jogam, neste momento, partida válida pelas oitavas de final da Copa do Mundo.
A proposta do MPL é que o poder público assuma a prestação do serviço, que passaria a ser fornecido por empresas públicas, que assumiriam a responsabilidade pelos trabalhadores rodoviários e seriam financiadas por um fundo de transporte ao qual seriam destinados recursos locais, federais e, no caso do Distrito Federal, interestaduais. As empresas públicas, por sua vez, ficariam subordinadas a conselhos paritários compostos por usuários, rodoviários e representantes do governo. Esses últimos, no entanto, não teriam poder de voto nas decisões. Se necessário, os governos teriam de criar taxas ou aumentar as já cobradas de grandes empresas e dos contribuintes mais ricos para complementar o fundo, diz o movimento.
"A tarifa zero é possível. O que o movimento quer discutir é como implementá-la. Temos uma concepção de como fazer isso. O governo [do Distrito Federal] tem outra; empresários têm outras e outros setores da sociedade civil têm, cada qual, a sua", reforçou Paulo Henrique Duques, o Paique. Ele explicou que, em atos como o de hoje, o movimento apresenta sua proposta, "que é, sim, classista e anticapitalista, pois está vinculada [aos interesses] dos trabalhadores e usuários".
Para Paíque, a adoção da tarifa zero exige apenas vontade política dos governos e que a população assuma a questão como seu direito."A adoção da tarifa zero implica uma disputa política. Até a implementação do SUS [Sistema Único de Saúde], não tínhamos experiência em um sistema de saúde pública, mas ele foi implementado e, apesar de problemas de gestão, deu certo", acrescentou.
O ato do MPL atraiu a atenção de várias pessoas que passavam pela rodoviária ou que esperavam por seus ônibus. Curiosa com a proposta, a bacharel em direito Renata Clara observava o ato com atenção. Moradora do Paranoá, ela defendeu mudanças no transporte público da capital. "Melhorou um pouco, mas ainda precisa melhorar muito mais. Os preços das passagens são muito altos, e a qualidade do serviço não corresponde ao que gastamos. Mas acho impossível uma tarifa gratuita, pois há muita gente para usar o serviço e, se fosse grátis, também seria uma porcaria, a exemplo do que acontece na saúde", afirmou.
Já a empregada doméstica Benedita Cunha de Almeida ficou empolgada com a proposta da gratuidade. "Acho sim que é uma ideia possível. As coisas mudam, e o governo podia mesmo oferecer ônibus de graça, como já acontece em algumas cidades. Hoje, para um trabalhador, os preços são um absurdo e a qualidade é péssima", disse Benedita, que mora na região administrativa de Samambaia.
O aposentado Pedro Neto, também comentou o peso do gasto com transporte no bolso das famílias de menor poder aquisitivo. "Quem ganha salário mínimo sofre muito com o transporte. Enquanto isso, o povo continua esperando o serviço melhorar. Não acredito que seja fácil um governo adotar uma ideia como essa, mas, no futuro, quem sabe?"
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