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Campinas e Americana disputam água de manancial no interior de SP

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

08/07/2014 14h25

A decisão do governo de São Paulo de permitir que Campinas capte água do rio Jaguari para garantir seu abastecimento pode iniciar uma disputa com a vizinha Americana pelo manancial. A medida foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no começo de julho, durante visita a Campinas.

Isso porque Americana tira água do rio Piracicaba, formado pela junção do Jaguari e do Atibaia. Com a ampliação da captação de água em Campinas, haverá menos água para formar o Piracicaba e, portanto, menos água disponível para Americana.

A questão não seria um problema em épocas de vazão normal, onde os rios têm água suficiente para abastecer ambas as cidades. Mas, com a seca que atinge todo o Estado, a situação pode ameaçar o abastecimento de Americana.

O projeto de transposição do governo prevê a construção de uma adutora no Jaguari, ligando o manancial ao rio Atibaia, onde Campinas faz a captação de sua água. A intenção é ampliar a captação em 1,5 metro cúbico por segundo. Atualmente, a cidade capta cerca de 4 metros cúbicos por segundo do Atibaia. A água do Jaguari aumentaria em quase 40% a água disponível, funcionando como uma reserva complementar.

Já houve aprovação para a construção, que será bancada pelo governo do Estado. O projeto aguarda, no momento, estudos de viabilidade técnica e de custos para a obra. A adutora terá 20 km de extensão.

Abastecimento

Procurado, o DAE (Departamento de Água e Esgoto) informou, via assessoria de imprensa, que ainda não foi avisado sobre a intenção do governo estadual. “Não fomos comunicados oficialmente”, disse a instituição, ressaltando a situação do manancial é "preocupante".

O volume de água do ponto de captação de Americana, que geralmente é de 12 metros cúbicos por segundo, está, hoje, por conta da crise hídrica, com metade da vazão. Desse total, 4 metros cúbicos por segundo chegam pelo Jaguari. A cidade retira, hoje, aproximadamente 1 metro cúbico por segundo de água do manancial, segundo dados do DAE.

Segundo o diretor do DAE Rumoaldo Kokol, no entanto, a retirada de água pode refletir na calha do rio, onde as bombas de captação estão instaladas. “Teoricamente, tudo o que for mexido no Jaguari ou no Atibaia prejudica a vazão do Piracicaba, que é onde Americana faz a captação. Claro que Americana pode ser prejudicada, especialmente se tirarem uma quantidade muito grande de água antes de o rio chegar à cidade”, afirmou.

Outro lado

A Sanasa, responsável pela captação de água em Campinas, foi procurada, mas se limitou a declarar que não iria comentar o assunto, embora tenha admitido que a captação de água do Jaguari é uma alternativa que irá ajudar no abastecimento da cidade.

A Secretaria de Recursos Hídricos de São Paulo também foi procurada, mas apenas disse que o tema está em estudos. O órgão foi questionado, mas não informou se há estudos que comprovam que o abastecimento de Americana não será comprometido.