Moradores de bairro onde 12 foram mortos pela PM são ameaçados, diz Anistia
A Anistia Internacional lançou campanha mundial, quarta-feira (18), para denunciar que moradores da comunidade na Estrada de Barreiras, no bairro do Cabula, em Salvador, estão sofrendo supostas ameaças de policiais militares. O local é o mesmo onde, no último dia 6, 12 jovens foram mortos e seis foram feridos a tiros por policiais da Rondesp (Rondas Especiais da Polícia Militar). Na ação, um sargento ficou ferido de raspão.
A "ação urgente" pede ação de ativistas em mais de 70 países, com mobiliação para que enviem e-mails, cartas e telefonemas às autoridades baianas. A organização cobra apuração “completa, rápida e imparcial” das mortes; e a proteção às testemunhas e lideranças que têm se manifestado sobre o tema.
No comunicado, a Anistia pede que as mensagens sejam encaminhadas ao governador Rui Costa (PT) e ao secretário de Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa. As mortes estão sendo apuradas pela Polícia Civil e também pelas promotorias Estadual e Federal.
Versão contestada
A versão oficial da PM diz que policiais reagiram após serem recebidos a tiros por um grupo de homens a caminho de um assalto a banco. A versão de moradores dada à Anistia é de que as vítimas estavam rendidas quando foram assassinadas.
Para a organização, há evidências de que houve alteração da cena do crime, o que fez com que a perícia não fosse adequada.
O assessor de direitos humanos da Anistia Internacional Alexandre Ciconello esteve em Salvador na semana passada e diz que o clima na comunidade de Cabula é de medo. “A população está muito assustada. Depois das mortes, a polícia ficou rondando o bairro de forma intimidatória”, afirma.
Para o assessor, a morte dos 12 jovens é algo que merece o conhecimento internacional pela gravidade da situação. Para Ciconello, os indícios e relatos apontam que a versão da polícia não é verdadeira.
Uma das contradições apontadas é que apenas dois dois 18 mortos e feridos tinha passagem pela polícia. Além disso, cerca de 30 homens teriam disparado contra os policiais –segundo a versão oficial--, mas apenas um policial teria sido ferido de raspão.
“As informações de moradores é que não houve nenhum tipo de confronto: os jovens foram rendidos e executados. Não havia nenhum grupo criminoso. A polícia tende a criminalizar a vítima para tentar justificar. Apenas duas das vítimas tinha passagem pela polícia, por briga no carnaval. Isso corrobora com as informações de que eram jovens que estavam nas ruas”, afirma.
Perícia
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que não há novidades no caso, que é investigado pelo chefe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), delegado Jorge Figueiredo.
Segundo a SSP, muitas pessoas (não foi informado quantas) já foram ouvidas e, no momento, o resultado da perícia nas armas dos policiais é aguardado.
O órgão disse que os policiais militares envolvidos no episódio continuam atuando porque não haveria elementos, até o momento, que comprovem que as mortes se trataram de uma execução.
Logo após as mortes, o governador defendeu a ação dos policiais e disse que não havia motivo para afastá-los das ruas. Ele comparou a ação a de "um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol."
Sobre denúncias de ameaças, a SSP disse ainda que não houve denúncias formalizadas, e que a Corregedoria da PM está acompanhando o caso.
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