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Com cerimônia típica, família se despede de Eduardo, morto no Alemão

Paula Bianchi

Do UOL, em Corrente (PI)

12/04/2015 19h15

Cerca de 300 moradores da pequena cidade de Corrente, no sul do Piauí, participaram neste domingo (12) de um protesto contra a morte de Eduardo, 10, atingido por um tiro de fuzil na cabeça na soleira da porta da sua casa no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. À frente do cortejo, os pais do menino, que chegaram à cidade junto com o corpo no dia 5, carregavam uma pequena cruz de metal branca com o nome completo da criança.

Durante a caminhada, Terezinha de Jesus e José Maria falavam ao microfone plugado a um carro de som de uma rádio local e lembravam o caso, pedindo justiça. Os dois e dezenas de familiares e amigos usavam camisetas com o rosto do menino.

A família cobriu o túmulo de cimento sem lápide nem inscrições com flores de plástico e o cercou de velas. À frente, cimentaram a cruz enquanto duas rezadeiras entoavam cantigos de despedida.

Após o ato, parte do grupo seguiu com a família para a casa da irmã de Terezinha, Lurdes, no bairro Vermelhão, na periferia da cidade, para acompanhar a "visita de sétimo dia" em homenagem a Eduardo. Antes, participaram de uma missa na igreja católica do bairro.

É tradição da cidade e do interior do Estado receber os amigos e vizinhos em casa com um lanche após a celebração que marca o sétimo dia do enterro de um ente querido. Há, contam os vizinhos, quem mate um boi especialmente para a ocasião.

Na mesa, montada com capricho no quintal de Lurdes ainda antes das 6h, duas bacias cheias de farofa dividiam espaço com biscoitos doces e salgados, chá, café e leite.

Os vizinhos chegavam, cumprimentavam Terezinha e o marido, sentavam nas cadeiras espalhadas pelo quintal, comiam e partiam. Lurdes e as filhas se revezavam para manter as garrafas térmicas cheias de café.

A vizinha Adalgisa Francisca, 61, que também teve um filho assassinado em um caso até hoje não resolvido, fez questão de ir à visita, mas preferiu ficar em silêncio. "Abracei a Tereza, mas não falei nada porque não consigo, não sei. Que palavra de consolo você diz para uma mãe que, como eu, não tem como se consolar?"

"A gente passa por tudo nesta vida, mas não espera ter que enterrar um filho de 10 anos de idade", refletia o pai de Eduardo, José Maria, entre um cumprimento e outro.