Obras de metrô no Rio já tiveram morte, crateras e vazamento de cimento
Iniciadas em 2010, as obras de metrô da Linha 4, que irão ligar a zona sul do Rio de Janeiro à Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade, têm um histórico de atrasos e acidentes. Apenas em 2014 e 2015, quando as perfurações chegaram ao bairro de Ipanema, já foram registradas uma morte, o aparecimento de crateras, rachaduras em prédios e até um vazamento de cimento.
O acidente mais recente foi registrado nesta quarta-feira (22), quando um homem de 87 anos ficou gravemente ferido depois de ser atingido por um dos anéis de concreto que formam os túneis do metrô, estocados na praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Agrícola de Souza Bethlem caminhava ao lado da praça quando as peças de cimento tombaram na calçada. Segundo a assessoria do Hospital São Lucas, em Copacabana, o idoso, internado no CTI (Centro de Tratamento Intensivo), teve graves lesões no tórax e no crânio.
O consórcio responsável pela obra não soube informar o que ocasionou a queda das placas– uma das peças que tombaram tinha cerca de 8 toneladas -, atribuída pelo secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, a uma “movimentação de terreno”, cujas causas estão sendo investigadas pelo governo.
O acidente mais grave, no entanto, ocorreu em maio do ano passado, quando um operário morreu e outro ficou ferido após o rompimento de um duto de ar comprimido no canteiro de obras da rua Gastão Baiana, em Copacabana. Segundo a Polícia Civil, com o rompimento do duto, a pressão do ar projetou os funcionários para longe, causando a morte de Abrahão Gonçalves de Almeida, 44, e deixando Rafael Carvalho Ferreira, 30, ferido.
Antes disso, também em maio, surgiram buracos em frente aos prédios 132, 133, 137 e 141 da rua Barão da Torre. Com o afundamento, formaram-se duas crateras na via, e o portão do edifício de número 137 cedeu. Não houve feridos, mas muitos moradores preferiram deixar suas casas, com medo de que o prédio desabasse.
À época, o subsecretário municipal da Defesa Civil, Márcio Mota, considerou que o afundamento foi causado por uma falha geológica por onde estava passando o tatuzão, equipamento usado na perfuração do metrô. As perfurações foram paralisadas e retomadas somente em novembro.
Já em janeiro deste ano um vazamento de cimento pegou de surpresa quem passavam pelas esquinas das ruas Barão da Torre e Farme de Amoedo, também em Ipanema. O material jorrava de um buraco ao lado das obras do metrô, se espalhando pela rua. Segundo o Consórcio Linha 4 Sul, ocorreu um vazamento de polímero durante a escavação de um túnel.
A movimentação da obra causou ainda o aparecimento de rachaduras em alguns prédios de Ipanema. Doris Wine, 50, moradora da Barão da Torre, diz que as primeiras rachaduras apareceram há cerca de dois anos, quando iniciaram as obras do metrô a região.
O governo do Estado informou que vai vistoriar as áreas de estocagem de todas as obras do metrô. Segundo Osório, o consórcio responsável pela construção poderá ser punido caso seja constatado descumprimento de normas de segurança. O grupo terá que apresentar um laudo técnico com explicações das causas da movimentação no solo.
Em nota, o consórcio responsável pela linha 4 informou que “incidentes não são impossíveis de ocorrer”, uma vez que a obra é complexa e realizada em uma área próxima ao lençol freático que alterna entre rochas e solos arenosos. “Um dos principais desafios da engenharia da Linha 4 do Metrô é fazer as intervenções necessárias em áreas densamente povoadas e edificadas, com o menor impacto possível à comunidade”, afirma a empresa.
O consorcio afirma ainda que as rachaduras nos prédios não apresentam riscos e que os imóveis em que ocorrem estes problemas são vistoriados e reparados.
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