"Ele tem tratamento VIP", diz mendigo que faz cama para cão dormir no Rio
Todas as noites, Cláudio Alcir Almeida Santos, 45, conhecido nas ruas de Copacabana como Barba, põe a cama de seu escudeiro fiel, Negão, um vira-lata resgatado por ele na Feira de Tradições Nordestinas de São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro, onde foi abandonado. Há uma semana, a cena afetuosa chamou atenção da atriz e produtora cultural Jaqueline Winter, que fotografou a dupla dormindo na esquina entre as ruas Barata Ribeiro e Siqueira Campos, na zona sul da cidade.
A imagem, que mostra o cão repousando em uma cama improvisada, com direito a cobertor, ração e dois vasilhames com água limpa, fez sucesso no Facebook --até a tarde desta sexta-feira (15), já havia sido compartilhada mais de 6.000 vezes. Alheio à fama repentina na internet, Barba, nascido na Bahia e morador de rua há 37 anos, espantou-se com a aproximação da reportagem do UOL. "O que eu fiz?", questionou ele, no momento em que foi abordado.
Informado sobre o sucesso da foto nas redes sociais, Barba abriu um sorriso e disse a Negão: "Viu, meu filho, você está famoso!". A amizade entre os dois começou há cerca de dois meses. Barba contou que, alguns dias após o animal ter sido encontrado, ainda pensou em desistir da adoção. "Eu tentei levá-lo de volta à feira, mas quando eu o deixei lá, ele veio correndo atrás de mim. Ele não queria mais ficar lá e me seguia para todo o lado", relatou, com expressão de orgulho.
O sucesso nas redes sociais está bem distante da realidade socioeconômica vivida por Barba, que está desempregado há dois anos, mas diz arrecadar cerca de R$ 750 com doações e pequenos bicos. Apesar disso, o cachorro tem alimentação regular, banho semanal, vacinas em dia, água mineral e, na visão de seu dono, o mais importante: carinho.
"Os moradores de Copacabana me ajudam muito. Eu só consigo cuidar do Negão com a ajuda deles. Eles dão ração, comida, pagam o banho", afirmou. "Ele tem tratamento VIP aqui."
Quando as doações não são suficientes, Barba diz gastar quase R$ 200 com ração. Com limpeza e higiene, o custo semanal é de aproximadamente R$ 50. Os valores somados representariam praticamente um terço de sua arrecadação mensal. "Viver na rua não é fácil. A gente não vive... A gente sobrevive. Mas nem por isso eu vou deixar de cuidar dele", declarou.
"Se eu tiver que deixar de comer para ele comer, não tem problema: eu deixo", completou Barba. O morador de rua disse ainda que já recebeu propostas de moradores que desejavam acolher o seu cão de estimação. "Já me ofereceram dinheiro por ele, mas eu recusei. Para tirar ele daqui vai ter que me levar junto", disse.
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