Após 10 anos, assalto ao BC do CE tem 26 esperando julgamento e 2 foragidos
O assalto ao Banco Central em Fortaleza completa dez anos nesta quarta-feira (5) com 26 réus à espera do julgamento de duas ações penais que ainda correm na 11ª Vara da Justiça Federal do Ceará. Dois dos executores foram condenados, mas nunca foram presos.
Os números do maior assalto a banco já realizado no país impressionam não só pela quantia roubada --R$ 164,8 milhões--, mas também pelo total de participantes do crime e do pós-assalto. O caso teve, ao todo, 133 pessoas denunciadas em 28 ações penais --26 já julgadas.
Apesar da centena de denunciados, apenas 36 participaram diretamente do roubo ao banco, ocorrido entre a noite do dia 5 e manhã de 6 de agosto de 2005. Os outros se envolveram posteriormente.
Um dos fatos que chamou a atenção dos investigadores foi a quantidade de pessoas que passaram a tirar dos assaltantes parte do dinheiro roubado.
“Logo depois do furto, tanto policiais corruptos que tinham alguma informação como outras quadrilhas estavam sequestrando e extorquindo os que participaram. Alguns conseguimos identificar e prender”, disse o delegado Antônio Celso dos Santos, que por cinco anos comandou a investigação do caso.
Policiais corruptos e laranjas
Uma das explicações para a demora na avaliação judicial foi a complexidade da investigação e dos desdobramentos pós-assalto. “A investigação foi complexa por conta dessa quantidade de pessoas envolvidas. Foram 36 que assaltaram, mas identificamos laranjas, pessoas que ajudaram na fuga, que ocultaram e que ajudaram a comprar bens. Tivemos advogados indiciados por intermediar falcatruas, além de policiais corruptos”, disse.
O delegado conta que, dos 36 que executaram o crime, apenas dois nunca foram presos: José Antônio Artenho da Cruz, conhecido como “Bode” (condenado a 27 anos e sete meses de prisão), e Juvenal Laurindo (16 anos de prisão). Os dois vivem no sertão cearense, no meio da caatinga, supostamente ainda praticando crimes. “São áreas difíceis. Já tentamos prendê-los várias vezes, mas eles sempre contam com informações dos moradores sobre qualquer movimentação estranha”, afirma.
Para o delegado, o trabalho de investigação foi concluído com êxito graças a uma cooperação entre Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.
“Foi uma surpresa a competência, a celeridade e o profissionalismo, tanto da Justiça Federal quanto do MPF [Ministério Público Federal]. O juiz [Danilo Fontenele] estava totalmente comprometido, lia tudo o que a gente tinha dentro do inquérito. Ele conhecia a fundo [o caso] e sempre teve uma atuação rápida e eficiente. Sem essa agilidade, com uma quadrilha desse tamanho, espalhada por várias partes do pais, trocando de telefone todo dia, provavelmente não se teria esse resultado”, ressaltou.
O líder
O mentor do assalto ao Banco Central foi Antônio Jussivan Alves dos Santos, vulgo "Alemão". Em um dos três processos em que foi denunciado, já foi sentenciado e pegou 35 anos e dez meses de prisão por furto, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e uso de documento falso.
Preso, Alemão ainda espera ser julgado em processos em que é acusado de lavagem de dinheiro e por falsificação de documentos --esse último na Justiça estadual.
“Foi ele quem teve a ideia de fazer o furto e, para isso, teve informações de um ex-vigilante do banco que era amigo de um vigilante que passou as informações de lá de dentro”, afirmou.
Para ele, não há dúvidas que foi o vigilante José Edilson quem passou as informações de dentro do banco, sem envolvimento de nenhum outro funcionário do banco. “Isso foi comprovado em vários depoimentos, em momentos diferentes, sem que as pessoas tivessem tido contato entre si. Esse vigilante foi encontrado morto supostamente por ter cometido suicídio --ele estava amarrado em casa, com a porta fechada. Isso ocorreu depois de ele ter sido extorquido, sequestrado duas vezes e o irmão dele ter pago o resgate”, disse o delegado.
Relembre o caso
O plano do assalto foi traçado três meses antes do furto. Para ter acesso ao cofre do Banco Central, as três quadrilhas decidiram alugar uma casa próxima à sede do prédio. De lá, eles cavaram um túnel de 80 metros que deu acesso ao cofre do banco. Para ter localização exata de onde estava o dinheiro já usado, eles contaram com informações de um vigilante do prédio.
Para não levantar suspeitas, uma empresa de fachada de venda de grama foi montada para justificar o fluxo de pessoas e a saída de sacos de terra retirada do chão durante as escavações. Até brindes foram feitos e dados para conquistar os vizinhos.
O túnel era revestido por tábuas de madeira, sacos de areia e lonas plásticas e ficava iluminado por lâmpadas, com direito a sistema de refrigeração.
Na noite do dia 5 de agosto de 2005, uma sexta-feira, o grupo chegou ao objetivo e fez um buraco no chão do banco. Eles fizeram o furo na parte de trás do cofre e impediram a captação de imagens por meio de pedaços de madeira.
Segundo a polícia, o dinheiro levado eram notas de R$ 50 que estavam foram de circulação e foram retiradas até a manhã do sábado. Em seguida, os assaltantes fugiram com o montante já dividido para várias partes do país. O crime só foi descoberto na manhã segunda-feira seguinte.
Números do assalto:
• R$ 164,8 milhões roubados
• R$ 40 milhões recuperados
• Três quadrilhas envolvidas (uma do Ceará e duas de São Paulo)
• 28 ações penais federais, 26 já julgadas
• 133 denunciados pelo MPF
• 26 réus aguardam julgamento
• 94 condenados na 11ª Vara de Justiça Federal do Ceará
• 16 absolvidos
• quatro acusados mortos
• dois executores foragidos
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