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Para polícia, está claro que houve fraude em morte de adolescente no Rio

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

29/09/2015 23h19Atualizada em 30/09/2015 08h25

O delegado Rivaldo Barbosa, titular da DH (Delegacia de Homicídios) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmou que a perícia no local da morte de um jovem de 17 anos no Morro da Providência, centro da capital fluminense, na manhã de terça-feira (29), foi refeita após a divulgação de um vídeo que mostra a ação após a morte do rapaz, para apurar a possibilidade de ter ocorrido um homicídio. "Está claro que existiu uma fraude processual. Diante dessa situação, vamos analisar a possibilidade de execução e não mais homicídio decorrente de intervenção policial", declarou. "Se essas pessoas fizeram tanto a fraude quanto o homicídio, responderão na medida da sua culpabilidade."

O adolescente aparece ensanguentado e estirado no chão em vídeo filmado por moradores e divulgado à tarde. Nas imagens, um PM da UPP da Providência, acompanhado de três colegas fardados, coloca uma pistola na mão do jovem e dispara dois tiros em sequência. Antes, outro PM aparece dando um tiro para o alto com a própria arma.

Segundo o porta-voz das UPPs, o major Ivan Blaz, Eduardo Felipe dos Santos Victor foi morto durante um confronto entre policiais militares e traficantes que atuam na favela, por volta das 9h. No entanto, o delegado Rivaldo Barbosa disse que a fraude processual flagrada no vídeo coloca em suspeita a versão dos PMs.

A ocorrência começou a ser registrada como homicídio decorrente de intervenção policial na 4ª DP, por volta das 14h. "Em determinado momento chegou o vídeo, que foi analisado, e por decisão da Chefia de Polícia Civil, todo o procedimento foi encaminhado para a DH", explicou o delegado. As investigações serão conduzidas pelo delegado de plantão, André Leiras.

Ainda na noite desta terça, o delegado de plantão vai colher novos depoimentos dos policiais que estavam no local. Cinco PMs deixaram a 4ª DP (Praça da República), no centro, com destino à DH, que fica na Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade. No momento da transferência, um grupo de dezenas de moradores da Providência entrou em confronto com policiais do Batalhão de Choque da PM que cercavam a delegacia. Os moradores gritavam "assassinos" e "fora UPP". A unidade foi instalada na favela em abril de 2010.

De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, nos depoimentos dados na delegacia do centro, os PMs relataram uma situação de "total incoerência" com relação ao que foi mostrado no vídeo. "Eles relataram que houve um auto de resistência", disse.

Segundo o delegado André Leiras, da DH, dois policiais serão presos em flagrante ainda esta noite por fraude processual. "Já é possível identificar que eles cometeram esse crime pelo vídeo", afirmou. Os outros três que participaram da ação serão alvo de inquérito para que "a conduta individualizada de cada um" seja apurada.

Em nota, a CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora) informou que a Corregedoria Interna da Polícia Militar determinou a abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar para analisar a permanência dos policiais na Corporação. A apuração ficará a cargo da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar. O porta-voz das UPPs disse que "muito provavelmentes" eles serão expulsos da PM.

"O comando da Polícia Militar avalia como gravíssima a atitude dos policiais e não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta", informou a nota.

Passagens pela polícia

O jovem morto na manhã desta terça tinha três passagens pela polícia, uma por tráfico de drogas, uma por ameaça e outra por injúria.

Para o delegado, no entanto, essa informação não é relevante para as investigações. "A gente pode ter uma pessoa que tem passagens e não ofereceu resistência à polícia, como uma pessoa que não tem passagem e ofereceu", declarou.

Elogios aos moradores

O delegado elogiou a atitude dos moradores que registraram a ação dos PMs em vídeo. "Em que pese essa situação ser muito triste, a gente quer parabenizar a população por ter filmado", declarou.

Ele se comprometeu ainda em oferecer apoio policial e, eventualmente, a entrada no programa de proteção à testemunha caso a pessoa se sinta ameaçada.

"É muito importante que os moradores tragam mais informações, mais testemunhas, para que a gente possa entender a dinâmica do evento", completou.