Topo

Ressabiados com lama no rio, mineiros preferem comer em pratos de plástico

Hotéis e restaurantes de Governador Valadares como a pizzaria Waldinelly estão servindo seus cardápios em copos e pratos de plásticos - Gustavo Maia/UOL
Hotéis e restaurantes de Governador Valadares como a pizzaria Waldinelly estão servindo seus cardápios em copos e pratos de plásticos Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, em Governador Valadares (MG)

20/11/2015 11h00

A desconfiança com relação à água captada do rio Doce em Governador Valadares, a mais populosa das cidades de Minas Gerais a ser atingida pela onda de lama de rejeitos da mineradora Samarco, fez com que hotéis e restaurantes do município servissem pratos, copos e talheres de plásticos para hóspedes e clientes. A medida também tem como objetivo economizar água, diante do risco de um novo período de desabastecimento.

A água voltou a cair nas torneiras do restaurante Sabor Mineiro, no bairro de Nossa Senhora das Graças, no domingo (15), após uma semana de interrupção do serviço. A proprietária do estabelecimento, Cleuza Antunes, 59, no entanto, decidiu não usar o líquido captado pelo SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), autarquia da prefeitura.

“Os clientes não aceitam que a gente use água deles. O movimento até caiu nestas semanas. Acho que o povo está cismado. Por isso comprei caixas e mais caixas de copos, pratos e talheres de plástico. Até as toalhas de mesa de pano eu tive que trocar por outras de plástico para não ter que lavar. Gastei R$ 300 com essa história”, afirma Cleuza.

A empresária conta que também teve que comprar garrafas de água mineral para os empregados. “Tem água? Tem. Mas você vai brigar por água numa fila?”, questiona, referindo-se aos centros de distribuição de água montados pela prefeitura. “Nós precisamos ser ressarcidos”, declara.

De passagem por Governador Valadares, o vendedor Márcio Alves, 37, que mora em Nova Friburgo (RJ), disse ter se sentido mais seguro ao ver que o restaurante estava usando objetos de plástico. “A gente se preocupa com a água, com uma possível contaminação. A tragédia de Mariana veio trazendo tudo de ruim para as outras cidades. Dá mais segurança ver que o que a gente está comendo não entrou em contato com a água”, afirma Alves.

Segundo a gerente de um hotel no centro que pediu para não ser identificada, a ordem é economizar: “a gente não sabe até quando eles vão continuar o abastecimento e fica inseguro porque tem o risco de outra barreira romper”, justifica. A lavanderia do estabelecimento está fechada há duas semanas.

Durante esta semana, o hotel foi abastecido por uma carga trazida por um caminhão-pipa, que custou R$ 1.200. Segundo funcionários da unidade, alguns hóspedes ameaçaram sair do hotel caso a água utilizada fosse a do SAAE.

Eduardo Peralva, 33, dono do Hotel Center, no centro do município, conta que a água está vindo “meio amarronzada” e que, por isso, não está sendo utilizada na limpeza dos pratos e nem na feitura das comidas. A solução foi apelas para os utensílios descartáveis. “Todos os hóspedes estão entendendo porque a situação está muito crítica”, diz.

No restaurante Anonelli’s, em Nossa Senhora das Graças, a gerente Melina Marques, 29, conta que depois de lavados com a água da torneira, os utensílios são higienizados com álcool em gel.

O que é transtorno e gasto extra para uns, vira lucro para outros, como José Hilário, 62, dono do supermercado Quintão, situado no bairro de Gran Duquesa. “As vendas de utensílios aumentaram consideravelmente nos últimos dias”, conta.