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Povoado que fugiu de enchente em 1979 fica ilhado por lama de barragens

Caetano Manenti

Do UOL, em Mariana (MG)

08/11/2015 05h30

Não é fácil contar a história do pequeno povoado de Gesteira, interior do município de Barra Longa (MG), sem começar por desastres. Em 1979, acossados por uma enchente rio Gualaxo do Norte, que vazou do seu leito sobre a cidade, sua centena de habitantes subiu morro acima. O refúgio virou morada definitiva quando o povo dali ganhou esse seguro pedaço de terra como caridade de um fazendeiro da região. Gesteira, assim, foi dividida em duas: a Velha, a de baixo, e a Nova, a de cima.

Barra Longa fica distante 60 quilômetros de Mariana e foi bastante atingido pela lama das barragens rompidas de Fundão e Santarém - o acidente ocorreu na última quinta-feira, no subdistrito de Bento Rodrigues, que faz parte de Mariana. Os dejetos invadiram boa parte das ruas principais de Barra Longa e chegou ao município pelo rio Gualaxo,

Desde a madrugada desta sexta-feira (6), Gesteira Velha praticamente não existe mais. Suas quinze famílias perderam suas casas, seu pequeno grupo escolar de oito alunos e sua quadra de futebol. De pé, para contar mais uma história de resistência, sobrou apenas a antiga igreja, suja até o quinto metro de altura. Pelo menos ninguém foi engolido pela avalanche.

Prova de que subir o morro era uma boa ideia, Gesteira Nova manteve-se limpa. Porém, sem estradas, seus moradores ficaram ilhados, sem luz e, principalmente, sem água. "Graças a Deus vocês trouxeram água", agradeceu dona Ni Pinto Bento, de 73 anos, à Cruz Vermelha. Ela explicou que a questão da sede estava especialmente delicada ali. Afinal, a severa estiagem persiste e do poço de onde ainda se buscava alguma água, agora só sai lama. Para piorar, o povo de Gesteira está acostumado a viajar para fazer suas compras semanais sempre às sexta-feiras, e a tragédia foi na quinta. As despensas estavam vazias.

Quem vive ali desde a década de 70 não tem dúvidas de afirmar que o estrago dessa semana foi muito maior que aquele de 1979. "Dessa vez, o barulho foi tão forte que parecia que tava acabando". Acabando o quê, Dona Ni? "O mundo, uai!", confessou, aliviada e com um lindo sorriso no rosto.