Após ataques a Paris, muçulmanas relatam agressões em Curitiba
Duas mulheres muçulmanas afirmaram ontem terem sido vítimas de agressões e preconceito em Curitiba (PR) na última semana. Luciana Schmidt Velloso relatou que, na última sexta-feira (20), recebeu uma pedrada na perna no bairro Jardim Botânico. Paula Zahra contou que, no mesmo dia, sofreu uma cusparada no bairro Água Verde. Antes das agressões, ambas teriam sido xingadas por serem muçulmanas.
Elas concederam entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (23), na Mesquita Imam Ali Ibn Abi Tálib, no centro da capital paranaense. De acordo com Omar Nasser Filho, diretor de Comunicação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, a entidade, como instituição representante dos muçulmanos, vai apresentar as denúncias para a Polícia Civil, as Comissões de Direitos Humanos da OAB e da Assembleia Legislativa do Paraná e do Conselho Estadual da Igualdade Racial. “Trata-se de uma violência grave em dois aspectos, porque é contra a mulher e tem caráter religioso-racial”, diz Nasser.
De acordo com as duas, o preconceito contra os muçulmanos – a islamofobia –se amplificou após atentados como os que ocorreram em Paris no dia 13. “Estava andando próximo da minha casa, quando um senhor que estava com uma criança, que imagino que seja sua neta, me xingou e jogou uma pedra na minha perna. Eu fiquei assustada e saí correndo”, afirma Luciana Schmidt Velloso. “Antes era constrangedor, agora se tornou amedrontador.”
“Após a morte de Osama Bin Laden e, mais recentemente, nos atentados contra o Charlie Hebdo, sofri preconceito e até fui agredida no ônibus. Na última semana, uma pessoa pôs a cabeça para fora do ônibus, começou a me xingar e cuspiu em mim”, diz Paula. “Meu filho de nove anos não está indo para a escola por causa do bullying. As pessoas dizem que a mãe dele é uma mulher-bomba”, afirma.
Conforme Nasser, as mulheres são alvos mais fáceis em razão do uso do véu. “São facilmente identificadas”, diz. O objetivo da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná é aumentar a exposição sobre esses acontecimentos e impedir novas ocorrências. “Não buscamos vingança ou conflito. Queremos que pensem muito antes de agir com violência ou preconceito.”
Segundo a coordenadora do Núcleo de Igualdade Étnico-Racial do Ministério Público do Paraná, Mariana Bazzo, as situações mais comuns de intolerância religiosa dizem respeito às religiões afro-brasileiras e ao islamismo. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, esses processos correm em sigilo e, por esse motivo, não é possível divulgar os números estaduais.
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