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Garoto é xingado de 'bicho' em bar do Rio após pedir comida, diz cliente

Fachada do Bar 20, em Ipanema - Bianca Caravelos/Arquivo Pessoal
Fachada do Bar 20, em Ipanema Imagem: Bianca Caravelos/Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

20/10/2016 18h19

Um dos donos do Bar 20, em Ipanema, zona sul do Rio, teria chamado de "bicho" um menino que pediu o pagamento de uma refeição a uma cliente no fim da tarde desta quarta (19).

O caso foi denunciado em post no Facebook pela designer de acessórios Bianca Caravelos. Ao UOL, ela disse que estava no bar com três amigas quando o menino se aproximou para pedir um prato de comida. Ela aceitou pagar a refeição. No entanto, o dono teria se recusado a atendê-lo, alegando que isso lhe causaria problemas e que naquele horário o almoço já não era mais servido.

Segundo o relato de Bianca, quando ela já procurava outro local para comprar a refeição, ouviu do dono do bar: "Cuidado com a sua carteira. Isso é bicho, não é gente." (Leia o relato de Bianca na íntegra ao fim da reportagem)

Com isso, a designer contou ter deixado o Bar 20 e comprado a refeição para o menino em um estabelecimento ao lado. Segundo ela, o homem que recusou o atendimento não vestia o uniforme usado pelos garçons. Depois, ao ver uma foto dos dois donos do bar, ele identificou o homem como um deles. 

"Estou com ódio de mim por não ter chamado a polícia e insistido, mas perdi a força diante de tamanha atrocidade. Boicotem esse bar, compartilhem esse relato. Um prato de comida não se nega a ninguém, ainda mais a um menino", escreveu ela.

Bar não comenta o assunto

O UOL ligou para o Bar 20 duas vezes na tarde desta quinta (20). Na primeira, um homem que não quis se identificar disse não saber do caso e limitou-se a informar que o almoço é servido entre 12h e 15h. Na segunda, outro homem atendeu e confirmou ser o gerente, mas também não quis dar seu nome e afirmou desconhecer os eventos relatados por Bianca.

Segundo a designer, o menino era branco e deveria ter entre 10 e 12 anos de idade. Vestia uma bermuda e uma "camiseta surrada".

"É importante que as pessoas se conscientizem e pensem duas vezes antes de abrir a boca para fazer uma ofensa a uma criança que, provavelmente, já deve ouvir isso todos os dias."

Para o coordenador da comissão de direitos humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil-São Paulo), Martim de Almeida Sampaio, com base no relato de Bianca, o menino foi discriminado e ofendido. Segundo ele, há a possibilidade de o funcionário ter cometido crime de injúria por ter recusado o atendimento em função da "origem econômica" do garoto. A pena para o delito é de um a seis meses de prisão, ou multa. 

Além disso, ao chamá-lo de "bicho", o funcionário do bar teria desobedecido também o Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual "é dever de todos zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor".

O Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90) ainda prevê que um fornecedor de produtos e serviços não pode recusar atendimento, o que é considerado prática abusiva. Já a lei da economia popular (lei 1.521/51) diz que é crime "sonegar mercadoria ou recusar vendê-la a quem esteja em condições de comprar a pronto pagamento", com pena de seis meses a 2 anos de prisão, e multa.

"Este atendente tirou a condição humana dele", disse Sampaio. "Seria necessário registrar um boletim de ocorrência para que o Ministério Público instaurasse um inquérito e depois entrasse com uma ação para apurar esta discriminação."