Protesto, invasão e ameaça de greve: o dia de mobilização de policiais do RJ
Milhares de servidores das forças de segurança pública do Rio de Janeiro escreveram nesta terça-feira (8) um novo capítulo da crise econômica do Estado. Reunidos sob sol forte em um protesto que durou mais de sete horas, policiais militares e civis, integrantes do Corpo de Bombeiros, além de agentes penitenciários e socioeducativos fizeram do ato um recado aos deputados estaduais da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado), que à tarde teve a sede invadida por centenas de manifestantes.
Isso porque, segundo o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), os parlamentares fluminenses vão iniciar no próximo dia 16 as discussões sobre o pacote de medidas de austeridade enviado pelo Governo do Estado ao Legislativo estadual na última sexta (4).
O plano tem 22 de projetos de lei, entre eles iniciativas impopulares como a elevação da contribuição previdenciária de servidores ativos, inativos e pensionistas para 30% dos salários. O objetivo, segundo o governo, é reequilibrar as contas públicas e superar o estado de calamidade, decretado em junho.
Ao desocuparem o Palácio Tiradentes, no Centro da capital fluminense, por volta das 17h, os manifestantes prometeram retornar daqui a oito dias para fazer pressão pelo arquivamento das propostas e cobrar a instauração de um processo de impeachment contra o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), "por dano ao erário".
"Hoje ganhamos a batalha, mas ainda temos que ganhar a guerra", disse um deles.
"Acabou o amor, isso aqui vai virar um inferno", repetiram os manifestantes ao longo da manifestação. O grito de guerra serviu como síntese do clima de indignação e revolta demonstrado diante e dentro da Alerj. A relação entre os policiais militares destacados para fazer o policiamento e os participantes do ato, no entanto, foi de tranquilidade.
O comportamento pouco lembrava o da mesma polícia em outros protestos ocorridos na cidade. No mês passado, por exemplo, um ato contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que cria um teto de gastos públicos terminou em confronto.
"Nós também estamos lutando por vocês", diziam os manifestantes aos seus colegas fardados. Estes, por sua vez, não escondiam o desconforto em atuar contra os companheiros e ofereceram pouca resistência no momento da invasão, pouco antes das 15h.
Rindo, um dos PMs disse à reportagem que não teria como segurar os participantes do ato, que entraram pelo portão principal, diante da rua Primeiro de Março --uma das principais do Centro, a via ficou interditada do meio da manhã ao fim da tarde.
Responsável pelo policiamento na Alerj, o coronel Rodrigo Sanglar, comandante do Batalhão de Grandes Eventos, negociou com os invasores e até deu sugestões sobre os termos de uma das reivindicações dos manifestantes, que chegaram a ocupar o plenário da Casa e depredaram a sala da vice-presidência --o caso será investigado pela Polícia Civil.
Na saída do grupo de manifestantes, Sanglar acompanhou e cumprimentou os servidores, cantando com eles o Hino Nacional.
Ao ver um capacete e uma máscara anti-gás nas mãos do repórter do UOL, um policial brincou: "larga isso aí, rapaz, não vai precisar disso aqui dentro não. Parece até black bloc".
Antes de resolverem sair do Palácio Tiradentes, os manifestantes deixaram claro que faziam questão de sair pelo portão da frente, "de cabeça erguida". "Não vamos sair pela porta dos fundos, escondidos", disse um deles, arrancando aplausos dos companheiros.
Queremos sair como heróis
Mobilização via redes sociais
Apesar de o ato ter sido marcado para começar as 10h, os primeiros manifestantes começaram a chegar ao local às 6h30. No horário previsto, já havia milhares de pessoas concentradas na frente do prédio do Legislativo estadual. Um carro de som servia de plataforma para discursos inflamados. A mobilização, contaram os servidores, ocorreu principalmente por redes sociais como o WhatsApp e o Facebook.
"Cada um de nós é um Tiranossauro Rex. Não vai ter essa história de pacificação. Se mexer no meu salário, vai dar ruim", disse um policial militar, do alto do carro de som, ouvindo aplausos e gritos. "Quem encara bandido de fuzil, não tem medo de bandido de terno", completou outro, também ovacionado.
Em outra fala, um manifestante declarou que "se sacanearem a polícia, não vai ter Réveillon", em uma referência a possível paralisação das tropas. Outro comparou o ato a uma "queda da Bastilha moderna", em referência ao marco histórico da Revolução Francesa, em 1789. Participantes do protesto exibiam faixas com frases como "servidores não pagarão o pato" e "Juntos somos fortes: policiais e bombeiros sem respeito = Rio sem segurança".
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