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Disparo de estilingue atinge menino, que fica cego e não consegue cirurgia

Francisco da Costa levou Ulisses imediatamente ao Hospital Regional de Taguatinga após o olho ser atingido - Francisco da Costa/Arquivo pessoal
Francisco da Costa levou Ulisses imediatamente ao Hospital Regional de Taguatinga após o olho ser atingido Imagem: Francisco da Costa/Arquivo pessoal

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

16/11/2016 06h00

Um menino de apenas sete anos ficou cego do olho direito após ser atingido por uma pedra, arremessada de um estilingue, no Distrito Federal. O acidente aconteceu enquanto Ulisses Rodrigo Silva brincava com um colega da mesma idade em um parque no Recanto das Emas, região administrativa que fica a 21,6 km do centro de Brasília. Segundo a família, a situação do garoto poderia ser revertida caso a Secretaria de Saúde fornecesse a cirurgia. Só que até o momento, duas semanas após o ocorrido, nada foi feito.

Francisco da Costa, pai do menino, conta que a família levou-o imediatamente ao Hospital Regional de Taguatinga no dia 2 de novembro. De lá, foram encaminhados ao Hospital de Base, que fica na Asa Norte. No local, o oftalmologista teria receitado três colírios e em seguida, liberado o garoto para ir para casa. A atitude dos servidores, segundo o pai, mostrou claramente o descaso com a saúde pública no Distrito Federal.

“Deveriam ter pelo menos o internado. Meu filho voltou para casa com os olhos sangrando e com muita dor. Nem conseguiu dormir direito. O acidente aconteceu por volta de 16h. Desde então, estamos correndo contra o tempo”, relata Costa.

No dia seguinte, a família retornou ao Hospital de Base. Lá, veio o diagnóstico: a criança estava com ferimentos graves no cristalino, a lente natural do olho e que se localiza atrás da íris (parte colorida dos olhos), e precisaria de uma cirurgia para reverter a situação.

A família então ficou esperançosa, já que o procedimento poderia fazer com que a visão da criança voltasse. “Naquele momento, ficamos emocionados. Nosso filho poderia voltar a enxergar. O procedimento, segundo a médica, seria uma vitrectomia. Uma nova lente seria implantada, o que iria substituir a que ficou ferida”, conta o pai.

Algumas horas depois, veio a má notícia. "Entregamos o encaminhamento da cirurgia e soubemos que não há mais vagas para esse ano para a primeira consulta, antes do procedimento. Ou seja, não há nenhum prazo para o procedimento no meu filho. E o final já sabemos, né? Quanto mais o tempo passar, mais a situação dela ficará difícil. Eu me sinto muito impotente”, desabafa Francisco.

Ulisses garoto cego - Francisco da Costa / Arquivo Pessoal - Francisco da Costa / Arquivo Pessoal
Família de Ulisses alega que hospital dificulta marcação de cirurgia
Imagem: Francisco da Costa / Arquivo Pessoal

O casal, que tem mais quatro filhos, é de origem humilde. A mãe de Ulisses, Leia Oliveira é gari, e o pai está desempregado. Segundo Leia, a família não tem como arcar com o procedimento na rede particular, já que a cirurgia pode chegar a custar R$ 15 mil. O garoto, que cursa a segunda série, está sem ir à escola desde o acidente. “Ele chora muito. Sente saudade de brincar, estudar e de ver os coleguinhas. Como mãe, meu coração fica partido. Mas não vou desistir dos nossos direitos”. A família garante que vai entrar na Justiça contra a Secretaria de Saúde.

Saúde nega falta de atendimento

Em nota, a direção do Hospital de Base negou a falta de atendimento e cirurgia. Em um trecho da mensagem, a pasta afirma que a família deve procurar o Ambulatório de Vitrectomia do hospital para marcação da cirurgia e diz que o garoto ainda não realizou o cadastro para poder ser operado.

“O cadastramento pode ser feito com o pedido médico que recebeu na última consulta, em qualquer Unidade Básica de Saúde, de preferência a mais próxima da residência. O paciente deve levar o cartão do SUS, comprovante de residência e o pedido de cirurgia do médico para realização da Vitrectomia”, disse a Secretaria que não deu prazo para a realização do procedimento.

No entanto, a família garante que Ulisses já foi cadastrado e enviou ao UOL um pedido de acompanhamento de oftalmologista para o ambulatório. “É mais fácil eles jogarem a culpa para a gente do que facilitar a cirurgia para o meu filho. Ele é só uma criança, sabe? Além disso, podemos assegurar já que fomos até lá mais de quatro vezes. A secretaria é falha. Não tem um sistema de qualidade”, rebate a mãe do garoto.