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Elize fugiu de casa no PR após ser abusada pelo padrasto, diz tia em júri

Primeiras testemunhas de defesa do caso de Elize Matsunaga foram ouvidas nesta quinta (1º) - Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo
Primeiras testemunhas de defesa do caso de Elize Matsunaga foram ouvidas nesta quinta (1º) Imagem: Mister Shadow/ASI/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

01/12/2016 21h37

Assassina confessa do empresário Marcos Matsunaga, 42, a bacharel em direito Elize Matsunaga, 35, foi vítima de abuso sexual por parte do padrasto quando tinha em torno de 14 anos e morava em Chopinzinho, no interior do Paraná. A informação foi revelada nesta quinta-feira (1º) no júri popular de Elize pela parente mais íntima dela, Roseli de Araújo, tia da ré, primeira testemunha a depor como indicação da defesa e única parente a visitar Elize na prisão.

Ao final do quarto dia de depoimentos, no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), o juiz Adílson Paukoski aceitou pedido da defesa para que Roseli pudesse dar um abraço de consolo na sobrinha –durante, no máximo, cinco minutos, e em uma sala reservada.

De acordo com a tia, que é técnica em enfermagem no Paraná, Elize fugiu de casa quando tinha entre 14 e 15 anos e foi descoberta em Gravataí (RS) pelo conselho tutelar da cidade paranaense. A essa época, contou Roseli, a mãe, que havia deixado as três filhas –Elize e duas irmãs –com os avós maternos para trabalhar em outra cidade, voltara com um namorado. Eles passaram a dividir o mesmo terreno, mas em casas separadas: Elize e as irmãs com a mãe e o padrasto numa, e os avós na outra.

Indagada pela defesa e, ao final, pelos jurados, sobre o porquê da fuga de casa, na adolescência, Roseli afirmou que a própria sobrinha contou, ao voltar para a família, que teria sido violentada pelo padrasto.

“A gente desconfiava disso quando ela fugiu, porque, por mais que houvesse dificuldades [financeiras] em casa, ela não sairia. E como ele sempre estava em casa, e ela ficava sozinha com ele, às vezes, pensamos que pudesse ser isso. Mais tarde, ela confirmou”, afirmou.

A tia afirmou que ela e a avó pagaram o curso de técnico em enfermagem para Elize, em Curitiba, período em que a sobrinha morou em um pensionato da própria escola. Ao deixar o curso, trabalhou em um hospital da capital paranaense antes de atuar como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná. Conforme relato de Roseli, a família só teria descoberto que Elize se tornara garota de programa após o crime, em maio de 2012.

Na prisão, Elize chora ao lembrar da filha e se diz "arrependida"

A tia da ré disse que Elize levou Matsunaga até Chopinzinho para apresentá-lo como namorado à família. Depois, ela ainda iria ao casamento da sobrinha, em São Paulo, e na festa de aniversário de um ano da filha do casal.

Sobre a vítima, a técnica em enfermagem disse ser “uma pessoa educada, gentil”, mas admitiu ter sentido diferença de tratamento entre o casal na festa de um ano da bebê –cerca de um mês antes do crime.

Após a prisão de Elize, Roseli ainda cuidaria da filha dela, no apartamento onde o casal morava, por mais dois meses. Nesse período, disse, os avós paternos e o irmão de Matsunaga ainda visitariam a criança, até ela retornar ao Paraná para trabalhar. Depois disso, conseguiu ver a garota apenas mais uma vez nos últimos quatro anos –em um horário agendado pelos pais do empresário.

Se teria tentado outras visitas? “Sim, mas ou diziam que os avós estavam viajando, ou a dona Sueli [avó paterna] me pediu que falasse com a advogada de Elize. Até hoje não tive resposta”, comentou. Indagada por um jurado –em pergunta que é lida pelo juiz –qual o sentimento dela em relação aos sogros da sobrinha, resumiu: “Não tenho raiva deles, mas fico triste porque não me deixam ver a criança”, respondeu.

Roseli é a única parente que visita Elize na Penitenciária de Tremembé, onde ela aguardava julgamento desde 2012. Vai uma vez por mês. Ela explicou que as duas irmãs da ré não a visitam porque, ambas, têm filhos pequenos. Os pais de Elize são falecidos –a mãe morreu em decorrência de um câncer em fevereiro deste ano.

Qual a reação de Elize nessas visitas? “Ela chora bastante quando fala da filha, que não vê desde que foi presa. E sempre me diz que se sente arrependida pelo que fez”, mencionou.

Atualmente, a guarda da criança é alvo de ação judicial que corre sob segredo de Justiça. Por essa razão, a advogada Juliana Santoro, presente no júri pela defesa da ré, afirmou em plenário estar impossibilitada de dar detalhes sobre o caso.

“Só vi Elize chorar quando a polícia chegou ao apartamento”, diz ex-empregada

Empregada da residência dos Matsunaga havia menos de um mês, à época do crime, Neuza Gouveia da Silva foi a última testemunha a ser ouvida no dia –a segunda indicada pela defesa.

Ela afirmou ter visto ao menos duas brigas entre o casal, em uma das quais quando o empresário chamou o sogro de “vagabundo”. A testemunha afirmou que Elize não teve mudança de comportamento durante os dias em que disse que o marido estaria viajando –quando ele já estava morto, na realidade --, mas se lembrou de que ela mal comia durante as refeições em casa.

“Ela me pedia para colocar os pratos de um jeito normal, para duas pessoas, mesmo sozinha”, destacou. Foi Neuza quem limpou o quarto, na segunda após o crime – praticado, segundo Elize, no sábado à noite anterior --, onde Matsunaga teria sido esquartejado. Mas ela negou ter visto manchas de sangue ou qualquer outro sinal que indicasse a prática de um crime ali.

Questionada se era comum ver Elize chorando ou triste enquanto o marido estaria desaparecido, ela definiu: “Só a vi chorar quando a polícia chegou ao apartamento”, relatou, referindo-se ao dia em que os policiais foram prender a então patroa.