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Pelo menos 31 presos são encontrados mortos em prisão em Roraima

A penitenciária tem 1.475 presos, mas capacidade para 750 detentos - Reprodução/Facebook/SESP-RR
A penitenciária tem 1.475 presos, mas capacidade para 750 detentos Imagem: Reprodução/Facebook/SESP-RR

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

06/01/2017 09h40Atualizada em 06/01/2017 19h22

Pelo menos 31 presos foram encontrados mortos na manhã desta sexta-feira (6) na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista. De acordo com o governo de Roraima, que administra a unidade, o caso foi registrado por volta das 2h30 (4h30 no horário de Brasília). A penitenciária é a maior do Estado.

Inicialmente, o número de mortos anunciado era de 33. No final da tarde, porém, a Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania de Roraima informou que o número foi revisto após o início do processo de perícia e identificação dos corpos no IML.

Conforme a assessoria de imprensa governo, que negou ter havido uma rebelião ou mesmo fuga, os próprios detentos teriam provocado as mortes durante uma briga de facções. Ainda segundo a assessoria, o caso envolveu presos ligados ao Comando Vermelho e ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção mais numerosa na penitenciária, após alguns deles quebrarem cadeados e invadirem a ala onde ficavam homens de menor periculosidade. A maior parte das vítimas foi decapitada.

Segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) de Roraima, havia 1.475 presos na unidade no momento dos crimes de hoje --a capacidade é para 750 detentos. Do total, mais da metade (898) é de presos provisórios, ou seja, à espera de julgamento. Outros 458 detentos estavam no regime fechado, e cem, no semiaberto.

Em fotos que teriam sido tiradas por presos e enviadas a parentes, através de redes sociais, é possível ver uma série de mutilações em corpos dos detentos mortos. Em pelo menos dois casos, os corações das vítimas foram arrancados e colocados ao lado do corpo para serem fotografados.

Outras imagens retratam cadáveres amontoados em um corredor da unidade tomado pelo sangue.

Mortes se somam ao massacre de Manaus

As mortes em Roraima ocorrem quatro dias após rebeliões em Manaus terminarem com 56 mortos --a pior matança de presos desde o massacre do Carandiru, em São Paulo, quando 111 foram assassinados em outubro de 1992 por ação da Polícia Militar. Segundo as autoridades do Amazonas, o massacre foi realizado pela facção Família do Norte, ligada ao Comando Vermelho, contra integrantes do PCC.

Segundo o secretário de Justiça e Cidadania de Roraima, Uziel de Castro Júnior, as informações preliminares são as de que membros do PCC "possivelmente tenham cometido esses crimes".

"Não existem facções de outras organizações criminosas no local [além do PCC]", disse Castro Júnio à rádio BandNews. Ele declarou que as autoridades ainda não sabem o que motivou a série de assassinatos, mas alegou que equipes verificariam a situação in loco.

Mais tarde, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, declarou que as mortes não foram uma retaliação do PCC às rebeliões de Manaus. "Não é, aparentemente, uma retaliação do PCC em relação à Família do Norte", disse.

Em outubro do ano passado, uma briga atribuída pelas autoridades ao PCC e ao Comando Vermelho terminou com dez mortos no mesmo presídio em Roraima. Na ocasião, outra rebelião, na Penitenciária Ênio dos Santos Pinheiro, em Porto Velho (RO), deixou oitos presos mortos.

Às 9h30, equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do GIT (Grupo de Intervenção Tática) estavam dentro do presídio para “realocação dos internos e conferindo a real situação”, segundo a assessoria da Sejuc. Ainda segundo a pasta, a situação já estava "sob controle".

A Secretaria Estadual de Segurança informou que representantes do governo de Roraima se reuniriam de manhã para definir que ações seriam adotadas. A governadora Suely Campos (PP), conforme a assessoria da pasta, teria conversado por telefone sobre a situação com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Não foram divulgados detalhes dessa conversa, nem quando o IML (Instituto Médico Legal) concluiria a retirada de corpos do presídio.

Secretário-adjunto nega que havia presos do CV em unidade

Ao UOL, hoje, o secretário-adjunto de Justiça e Cidadania de Roraima, major Francisco Castro, negou que ainda houvesse presos do Comando Vermelho na penitenciária. "Há dois meses foi feita a divisão, e os do CV foram para Cadeia Pública, onde estão cerca de 300 presos", disse, citando que o PCC é a facção que tem o maior comando de presos no Estado e ficaram a "preferência" da colônia.

Ainda segundo ele, às 9h15 (11h15 de Brasília) equipes do Instituto de Criminalística estavam entrando no local para fazer uma contagem e confirmação do número de presos mortos e iniciar o processo de identificação.

Por outro lado, o presidente da seccional de Roraima da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rodolpho César de Morais, classificou as mortes de presos como uma "tragédia anunciada" e afirmou que apenas medidas paliativas teriam sido tomadas desde a rebelião que deixou dez mortos no fim do ano passado, como a transferência de líderes do CV, Cadeia Pública. "Mas os soldados do grupo ficaram lá", observou.

Terceira maior matança em presídios

A matança de hoje em Roraima é a terceira maior em número de vítimas em presídios brasileiros. A pior delas foi em 1992, quando uma ação policial terminou com 111 presos mortos no caso que ficou internacionalmente conhecido como massacre do Carandiru, em São Paulo. Veja:

  • 111 mortos em São Paulo - Carandiru - 1992
  • 56 mortos em Manaus - Compaj - 2017
  • 31 mortos em Boa Vista - Penitenciária Agrícola de Monte Cristo - 2017
  • 31 mortos em Benfica (RJ) - Casa de Custódia de Benfica - 2004
  • 31 mortos em São Paulo - Penitenciária do Estado - 1987
  • 27 mortos em Porto Velho - Urso Branco - 2002
  • 18 mortos em São Luís - Pedrinhas - 2010

Colaboraram Carlos Madeiro, de Maceió, e Luan Santos, de Boa Vista 

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