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Rompimento de barragem da transposição do Velho Chico deixou rastro de destruição em PE

Canal do eixo leste da transposição - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Canal do eixo leste da transposição do rio São Francisco
Imagem: Beto Macário/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Sertânia (PE)

23/03/2017 04h00

O rompimento parcial da barragem do Barreiro, no último dia 3, deixou um rastro de destruição e prejuízo a cerca de 60 famílias do sítio Maia, em Sertânia (PE). Inicialmente tratado como vazamento, o incidente no reservatório feito para acumular água do recém-inaugurado eixo leste da transposição do rio São Francisco foi bem maior do que o que chegou a ser divulgado inicialmente.

Os estragos podem ser vistos no caminho da barragem, na PE-320 --chamada de rodovia Escritor Maximiano Campos, pai do ex-governador pernambucano Eduardo Campos. Com a água, uma ponte foi levada pela força das águas e, para atravessar, é preciso passar por um desvio ao lado.

Nos terrenos vizinhos, é possível perceber um rasto de pedras e escombros arrastados pela água. A água, contam os moradores, chegou a uma distância superior a 5 km. Não houve relato de feridos.

Antônio Pereira, 70, morador do sítio e dono de uma das propriedades mais próximas à barragem, conta que a água destruiu sua plantação inteira de macaxeira, que ocupava um hectare (equivalente a 10 mil m²). Além disso, seus pés de laranja e de acerola foram todos destruídos.

Até mesmo árvores como mangueiras foram derrubadas e estão no chão. Algumas das que ficaram de pé acabaram sendo parcialmente soterradas por pedras e areia. A água ainda levou cerca de 400 metros de cercas nos entornos e que agora terão de ser refeitas.

Cerca rompida - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Pequenos agricultores consertam cerca após rompimento de barragem em Sertânia (PE)
Imagem: Beto Macário/UOL
"Quando botar num papel, o prejuízo vai ser muito grande. Sem contar que tive um trabalho grande para limpar e ajeitar toda a terra, e agora está tudo destruído", conta Pereira, emocionado, ao falar do local onde vive com a mulher desde que nasceu.

O trabalhador rural afirma que somente com a destruição da macaxeira pode perder, em longo prazo, R$ 60 mil. Ele afirma que o local possuía 2.000 covas plantadas, e cada uma delas serviria para produzir dez quilos do produto. Cada quilo, diz, é vendido por R$ 3. “É muita tristeza, nunca pensei ver isso”, afirma.

"Foi muita água e muito prejuízo"

O também agricultor João Aluízio Ferreira, 50, teve um cacimbão --como se chama um poço aberto-- destruído, além de 200 metros de cerca levados. "O grande problema agora é que os animais estão soltos, e todos nós temos grandes chances de perdermos eles, pois eles podem ser roubados ou mesmo debandar por aí e nunca mais acharmos", diz.

No dia do acidente, ele conta que uma de suas cinco vacas foi levada pelas águas, mas sobreviveu. "Ela está viva, pareceu um milagre. Ela foi levada e apareceu mais à frente", lembra.

Já o agricultor José Zito, 30, foi além da reclamação e abriu um boletim de ocorrência na delegacia de Sertânia no último dia 10. Ele conta que, com a água, chegou a perder ovelhas e carneiros, além de ter a máquina forrageira danificada.

"Eu já procurei notas fiscais, testemunhas, relato do banco de tudo o que eu tinha e vou conversar com o advogado para entrar na Justiça. Foi muita água e muito prejuízo. Até agora os engenheiros viram tudo, mas não prometeram nada, nem disseram valores que vão pagar", conta.

Reconstrução da rodovia Escritor Maximiano Campos - Eduardo Knapp/Folhapress - Eduardo Knapp/Folhapress
Obra de reconstrução da rodovia Escritor Maximiano Campos, que foi atingida pelo rompimento de barragem em Sertânia (PE)
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
Indenizações serão pagas, diz governo

O Ministério da Integração Nacional informou que tem monitorado e acompanhado de perto a ocorrência. “O objetivo é garantir que a população afetada pelo vazamento da água da estrutura receba o quanto antes as devidas indenizações, cuja responsabilidade de pagamento é das empresas responsáveis pela construção da barragem”, informa.

Segundo o órgão, o consórcio Bacia do São Francisco --formado pelas construtoras S.A. Paulista e FBS-- já realizou o cadastramento das propriedades a serem ressarcidas e acionou a empresa seguradora do empreendimento. “Os peritos já estiveram em campo para avaliação. A previsão é que, em até 30 dias, esse processo seja concluído, e os valores identificados. O próximo passo é o pagamento às famílias, que será realizado imediatamente ao final deste procedimento”, afirma.

Ainda segundo o ministério, as empresas responsáveis pela obra já fizeram um dique provisório dentro do reservatório, que “está intacto e estável, garantindo com naturalidade a operação do sistema”. “O projeto de recuperação definitiva da barragem deve ser finalizado até o próximo mês para que sejam iniciadas as obras”, finaliza.