A Hora

A Hora

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Após indiciamento, governo Lula tenta atrair órfãos do bolsonarismo

Após o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas nesta quinta-feira (21), o governo Lula começou a desenhar uma estratégia para tentar isolar o bolsonarismo, atraindo políticos que chegaram a orbitar o ex-presidente, mas nunca aderiram ao extremismo do núcleo duro da gestão passada.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Esse movimento visa a efeitos de curto, médio e longo prazos. O objetivo mais imediato do governo ao tentar isolar o bolsonarismo é conseguir uma melhor posição para articular com o Congresso. Isso passa por negociar emendas e mostrar benefícios que os deputados e senadores obteriam em caso de se aliarem ao Palácio do Planalto.

Em outras palavras, o governo vai tentar priorizar antigos e potenciais aliados com os recursos dos quais ainda dispõe, aproveitando a fragilidade da oposição bolsonarista.

A médio prazo, o Palácio do Planalto estuda fazer uma reforma ministerial que fortaleça os laços de partidos do centro, cedendo espaço mais generoso a partidos que já estão na Esplanada, como MDB e PSD. Esse movimento, se bem-sucedido, daria mais conforto ao governo nas votações do Congresso e fortaleceria a chapa presidencial na eleição de 2026.

É justamente neste horizonte de longo prazo —de daqui a dois anos— que o Planalto pensa ao observar a proximidade de Bolsonaro com dirigentes do União Brasil e PP. Com o bolsonarismo enfraquecido, há uma intenção no governo em afastar essas legendas da órbita da extrema direita.

Mesmo que não consiga formalizar uma aliança com esses partidos, o Planalto trabalhará para evitar que eles integrem a chapa bolsonarista na eleição presidencial de 2026.

A aliança de Bolsonaro com Ciro Nogueira, presidente do PP, já deu sinais de força —o senador declarou apoio ao ex-presidente mesmo após o indiciamento desta quinta: "Há coisas a respeito das quais tenho certeza e uma delas é sobre a inocência de Jair Bolsonaro", declarou Nogueira.

Mas o Planalto não descarta a possibilidade de grupos dentro do PP se aproximarem, mesmo sem uma chancela oficial de Nogueira.

Continua após a publicidade

O caminho em que autoridades governistas buscarão essa aproximação são políticos do Nordeste, região onde Lula teve votações mais expressivas e onde, portanto, tem mais apelo para negociações políticas.

O PL, partido do próprio Bolsonaro, enfrentará dilemas pela frente, inclusive pelo indiciamento também de seu presidente, Valdemar Costa Neto. A legenda tem a maior bancada da Câmara, mas suas maiores lideranças terão meses de tensão com o eventual avanço do inquérito policial.

Os indiciados

A PF indiciou, além de Bolsonaro e Costa Neto, outros militares centrais na trama golpista como os generais Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice em 2022, e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

Também foram incluídos na lista final da PF nomes que foram autoridades no governo Bolsonaro. Entre eles estão o general Mario Fernandes, que chegou a ser ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, e Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira, ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa.

Da assessoria mais próxima de Bolsonaro foram indiciados Marcelo Câmara, Mauro Cid, Tércio Arnaud (do gabinete do ódio) e Filipe Martins.

Continua após a publicidade

Apresentado o indiciamento da PF, a Procuradoria-Geral da República decidirá se apresenta denúncia dos indiciados ao Supremo Tribunal Federal. Caso apresente, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, decidirá se a aceita ou não —e só então os implicados virariam réus. Tudo isso deve ocorrer apenas no ano que vem.

Cortes na Defesa

Mas uma derrota —no âmbito político-orçamentário— a caserna já sofreu. O Ministério da Fazenda confirmou ao podcast que dos R$ 30 bilhões que serão cortados no orçamento de 2025, R$ 3 bilhões sairão dos cofres do Ministério da Defesa.

As medidas que acarretarão essa redução são várias. Uma delas é a criação de idade mínima para aposentadoria do militar, hoje inexistente. A partir de 2025, será preciso completar 55 anos no mínimo para obter o benefício.

Outra medida é o recolhimento de contribuição extra dos militares para a Previdência.

E uma terceira mudança é a extinção do "morto ficto", a figura jurídica que dá direito a pensão a familiares de um militar que tenha sido expulso das Forças Armadas. Mesmo que continue vivo, ele é considerado morto juridicamente pela instituição com os benefícios compatíveis com um militar que de fato faleceu.

Continua após a publicidade

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes