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Proposta de Crivella de blindar escolas é solução contra violência? Especialistas dizem por que não

A estudante Maria Eduarda Alves foi morta dentro de uma escola no Rio - Arquivo pessoal
A estudante Maria Eduarda Alves foi morta dentro de uma escola no Rio Imagem: Arquivo pessoal

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

05/04/2017 04h00

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), prometeu na última segunda-feira (13) blindar muros e paredes de escolas da rede municipal para protegê-las de confrontos armados. A medida é uma resposta ao trágico episódio envolvendo a estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, baleada dentro do colégio Jornalista Daniel Piza, na última quinta-feira (30), em Irajá, zona norte carioca. A reportagem do UOL ouviu especialistas em educação, segurança e em engenharia de materiais sobre a eficácia da proposta. Eles foram unânimes: o projeto não evitará novos possíveis casos de violência entre os muros das escolas em áreas de risco.

Segundo a administração municipal, a estrutura dos colégios será reforçada com argamassa especial, importada dos Estados Unidos, e afixada com espessura de 3 a 4 cm. Ainda não há, porém, prazo e custo definidos para a realização desse projeto. A prefeitura também não tornou público estudo ou laudo técnico que comprove a eficiência da blindagem, sobretudo na proteção contra armas de grosso calibre.

A proposta do prefeito não foi bem recebida pelo Sepe, sindicato que representa os professores e profissionais da educação no Estado e no município. Para Marta Moraes, coordenadora da entidade, a blindagem provocará "sensação de aprisionamento" na comunidade escolar.

"Em vez de promover a formação de crianças e adolescentes, o verdadeiro papel das escolas, isso vai gerar uma sensação de aprisionamento. Vai oprimir alunos, professores e funcionários. Não resolve o problema, é uma reação primitiva", opinou.

Marta afirmou que, em vez de blindar escolas, Crivella deveria negociar com a Secretaria de Segurança Pública a proibição de operações policiais no entorno das escolas cariocas, em especial nos horários de entrada e de saída dos alunos. "Há muito tempo a gente vem denunciando isso. Alunos morrem no entorno das escolas por causa dessas incursões. Não há uma política de segurança pública efetiva para isso."

Especialistas ouvidos pelo UOL também fizeram críticas ao projeto do ponto de vista técnico e operacional. O professor do IME (Instituto Militar de Engenharia) Ricardo Weber, que é doutor em Ciência dos Materiais, afirmou que "escolas não são como carros". Para impedir o deslocamento de munições perfurantes em ambientes que não são totalmente fechados, explicou ele, seria necessário fazer cálculos e avaliar a estrutura de cada escola, caso a caso. Há, portanto, uma série de variáveis — como o tipo de material utilizado e a velocidade de cada disparo.

"Você precisa ter um material resistente a ponto de quebrar a ponta do projétil [o que faz com que ele se espalhe pela barreira de proteção]. Não conheço essa argamassa especial, mas só isso não é suficiente. Não basta apenas embolsar a parede. Isso precisa ser testado, calculado e homologado pelo Exército. Uma estrutura pode ser feita com tijolo de barro ou de concreto, por exemplo, ou com diferentes materiais disponíveis para construção. E cada munição tem uma velocidade diferente", disse.

Escolas e a guerra do tráfico

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, a capital fluminense possui hoje, no total, 1.537 unidades escolares. Muitas delas estão em regiões em que há conflitos entre a polícia e traficantes. O Executivo carioca ainda não definiu quantas escolas receberão a blindagem.

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Para Paulo Storani, antropólogo e ex-capitão da divisão de elite da PM, o Bope (Batalhão de Operações Especiais), a proposta de Crivella é paliativa, pensada apenas no "curto prazo". "Eu proponho uma reflexão: qual será o próximo passo? Cada cidadão que tiver uma situação financeira um pouco melhor vai começar a blindar sua residência? Chegará o tempo em que não sairemos mais às ruas por medo da violência? A capacidade dos nossos governantes de compreender o problema não vai além do curto prazo."

Segundo o especialista, o grande problema do Rio atualmente é a quantidade de fuzis nas mãos de traficantes. Para ele, medida mais eficaz passa pelo controle das fronteiras e pela repressão ao tráfico de armas, o que envolveria outras esferas de governo, sobretudo a União. "Essa é uma resposta que o Crivella pode dar diante de sua competência. Por mais absurdo que possa parecer, é uma resposta. Mas a menina [Maria Eduarda] só morreu porque havia um fuzil na mão de um traficante durante combate com as forças policiais", declarou.

Diferentemente do que defende a coordenadora do sindicato dos professores, Storani diz que não é possível limitar a atuação policial no entorno de escolas. "Por que a prefeitura não solicita às facções criminosas para não traficar perto de escolas em horário de entrada e saída de alunos? Infelizmente, o crime continua. Quando a polícia deixa de atuar, o crime se consolida cada vez mais", comentou.

O secretário de Conservação e Serviços Públicos, Rubens Teixeira, afirmou que Crivella está "diretamente empenhado" no projeto. "Ele é o padrinho da ideia", resumiu. O secretário não soube informar questões como custo da argamassa, prazo de entrega e se há ou não necessidade de aquisição por licitação.

Sem dar detalhes, o secretário disse, contudo, que a medida possui respaldo técnico e citou experiência militar do prefeito. "O prefeito entende muito bem dessas questões técnicas e conhece bem as armas de fogo porque ele foi da Infantaria do Exército. Foram oito anos de Infantaria", disse o secretário, que também atuou nas Forças Armadas e é engenheiro formado pelo IME.

A prefeitura agendou para esta quarta-feira (5) reunião com as principais autoridades de segurança pública do Estado. Embora o tema da violência urbana não seja de responsabilidade municipal, Crivella afirmou que deseja negociar a elaboração de um plano integrado de atuação.

Para a coordenadora do Sepe, o sindicato dos professores deveria participar do encontro. "Eles precisam ouvir os principais envolvidos, que são os professores, alunos, pais e a comunidade escolar. São eles que sofrem diariamente com essa situação."