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Duda queria chegar à seleção de basquete, mas morreu por bala perdida no Rio

Aluna do 7º ano, Duda queria ser jogadora de basquete - Reprodução/Facebook
Aluna do 7º ano, Duda queria ser jogadora de basquete Imagem: Reprodução/Facebook

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

01/04/2017 04h00

Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, sonhava em ser jogadora de basquete. Mas bebia água em um bebedouro no intervalo de um treino no pátio da sua escola na tarde de quinta-feira (30), na zona norte do Rio, quando foi atingida por três tiros de fuzil: dois na cabeça e um no quadril. Morreu na hora enquanto os colegas, assustados, corriam para dentro do ginásio para se proteger.

Os tiros, parte de um conflito entre PMs e criminosos da região, atravessaram os muros da Escola Municipal Jornalista Daniel Piza. Irmão mais velho de Duda, como era conhecida pela família, Uidson, 32, contou 22 marcas de disparos na parede. “Tem uns buracos tão grandes que dá para ver dentro do colégio”, diz, inconformado. “Minha mãe está como se estivesse morrendo.”

Caçula de quatro irmãos, Duda cresceu na favela da Pedreira, parte do Complexo do Chapadão, uma das áreas mais violentas da cidade. Desde que começou a treinar basquete, passou a colecionar medalhas e chegou a ser convidada para estudar em uma escola particular no centro da cidade, com bolsa de 90%.

Preferiu não ir – os pais não teriam como completar o resto da mensalidade nem pagar as passagens, e ela também não queria se afastar da família e dos amigos do bairro. “Ela dizia que ia para seleção, que ia tirar a gente daqui, que ia dar uma vida melhor para nossa mãe”, conta Uidson.

O diretor Luiz Menezes conta que ela chegou ao colégio em 2015, “adolescente meio difícil, rebelde”. A aluna, que estava agora no sétimo ano, reprovou no sexto, mas com o tempo foi se adaptando, melhorou as notas, “conquistou todo mundo”. “Ela tinha uma postura de crescimento, amadurecimento. ”

Luiz diz que está acostumado com os tiroteios – tão logo começava um conflito, os professores afastavam os alunos das janelas e os levavam para os corredores, justo para evitar que uma bala perdida como a que encontrou Duda acertasse alguém. “Nunca achei que a escola seria devassada desse jeito. Lá fora a gente sabia da violência, da dificuldade, mas sempre achamos que estando lá dentro as crianças estavam seguras, nós estávamos seguros."

Maria Eduarda será enterrada neste sábado (1º) em um cemitério no bairro Jardim da Saudade, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Uidson passou a tarde de sexta (31) se dividindo entre os preparativos do funeral e de uma manifestação que organizou com os moradores do bairro contra a morte da irmã. “Isso não vai ficar barato.”

Enquanto falava com a reportagem, era com frequência parado pelos vizinhos que prestavam solidariedade. “Estamos todos de luto com vocês”, dizia uma vizinha; “Ainda não consigo acreditar”, completava outra.

Mãe de Duda, a auxiliar de serviços gerais Rosilene Alves, 52, apenas chorava. Passou a manhã na porta do IML (Instituto Médico Legal) com o agasalho branco e rosa que a filha usava na hora da morte, perfurado por parte dos tiros, na mão. "Mataram meu bebê.”