Temer diz que "pequenos grupos" bloquearam rodovias e avenidas e não cita greve
O presidente Michel Temer (PMDB) divulgou nota oficial na noite desta sexta-feira (28) comentando as manifestações ocorridas durante todo o dia. O texto não cita nenhuma vez a greve geral convocada por centrais sindicais em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, em tramitação no Congresso e defendidas pelo presidente na nota.
"Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente", diz a nota assinada pelo presidente, que foi alvo de protestos. Em Fortaleza, manifestantes levaram um boneco de Temer com dentes de vampiro.
Em São Paulo, onde ocorre o maior ato contra as reformas, manifestantes foram impedidos pela Polícia Militar de chegar perto da residência do presidente na cidade, no bairro de Alto de Pinheiros, à noite.
Os organizadores estimam que ao menos 70 mil pessoas participam da manifestação na capital paulista. "[É] a maior greve geral dos últimos 30 anos", declarou um dos organizadores dos protestos na capital paulista, Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
No comunicado, o presidente defendeu a importância das reformas dizendo que "o trabalho em prol da modernização da legislação nacional continuará, com debate amplo e franco [...] no Congresso Nacional". Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei da reforma trabalhista, que segue agora para o Senado.
Temer também citou os confrontos entre policiais militares e manifestantes no Rio de Janeiro, classificando-os como "fatos isolados de violência", "lamentáveis e graves".
Ao focar nos protestos, a estratégia do Planalto é tentar esvaziar o impacto da greve geral desta sexta. Horas antes da divulgação da nota, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), disse ao UOL que os atos foram "pontuais" e que, ao contrário do esperado, podem "encorajar" deputados e senadores a aprovarem as mudanças nas leis trabalhistas e na Previdência pretendidas pelo governo Temer.
"Se nos tivéssemos aquelas multidões que nós tivemos quando mobilizamos em busca do impeachment, teria repercussão [no Congresso]", declarou Serraglio.
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Além da nota oficial, Temer gravou nesta sexta um vídeo para o Dia do Trabalho, que circulará apenas nas redes sociais no próximo dia 1º. Em cerca de dois minutos, o vídeo deve fazer a defesa da "modernização trabalhista" e evitará falar da reforma da Previdência.
Segundo interlocutores, a fala de Temer tem um tom de otimismo de que com as medidas implementadas pelo seu governo o emprego será retomado.
Nesta sexta, o presidente passou o dia no Palácio do Planalto, onde recebeu informações do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) sobre os protestos no país. Ele também se reuniu com os ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) e Dyogo Oliveira (Planejamento), e não participou de eventos públicos.
Ele viaja para São Paulo neste sábado (29) pela manhã. Não há compromissos oficiais na agenda do presidente para a próxima segunda-feira.
Abaixo, leia a nota na íntegra:
Nota oficial
As manifestações políticas convocadas para esta sexta-feira ocorreram livremente em todo país. Houve a mais ampla garantia ao direito de expressão, mesmo nas menores aglomerações. Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente. Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro.
O governo federal reafirma seu compromisso com a democracia e com as instituições brasileiras. O trabalho em prol da modernização da legislação nacional continuará, com debate amplo e franco, realizado na arena adequada para essa discussão, que é o Congresso Nacional. De forma ordeira e obstinada, o trabalhador brasileiro luta intensamente nos últimos meses para superar a maior recessão econômica que o país já enfrentou em sua história. A esse esforço se somam todas as ações do governo, que acredita na força da unidade de nosso país para vencer a crise que herdamos e trazer o Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento social e do crescimento econômico.
Michel Temer, Presidente da República
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