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Após bombas em frente à casa de Temer, black blocs e PM têm confronto no largo da Batata

28.abr.2017 - "Querem que todo mundo vire ambulante que nem a gente, sem direito nenhum garantido", afirma o vendedor Luiz Gustavo Silva, de 37 anos, que foi ao Largo da Batata com um isopor de bebidas e acabou vestindo uma camisa laranja com frase "Nenhum Direito a Menos", distribuída pelo Sindipro-SP (que representa os professores do ensino particular na capital paulista).  - Aiuri Rebello/UOL - Aiuri Rebello/UOL
"Querem que todo mundo vire ambulante que nem a gente", diz o vendedor Luiz Gustavo Silva no largo da Batata
Imagem: Aiuri Rebello/UOL

Aiuri Rebello*

Do UOL, em São Paulo

28/04/2017 16h45Atualizada em 28/04/2017 23h05

Após confronto em frente à casa do presidente Michel Temer em São Paulo, black blocs e policiais da Tropa de Choque voltaram a se enfrentar perto dali, no largo da Batata, por volta das 21h40 desta sexta-feira (28). A estação Faria Lima do metrô chegou a ficar fechada e há lixo e focos de incêndio espalhados pela avenida Brigadeiro Faria Lima. No trajeto entre o Largo e a casa do presidente, a poucos quilômetros dali, vários conflitos entre manifestantes e PMs foram registrados. O vandalismo de blac blocks também deixou postes arrancados, vidraças quebradas e lixo queimado por todo o caminho. Alguns manifestantes ficaram feridos.

Mais cedo, ao chegar à casa do presidente Michel Temer, a manifestação vinda do largo da Batata encontrou um bloqueio policial a cerca de 100 metros da residência. Alguns manifestantes tentaram forçar um dos pontos da barreira, e os PMs revidaram com bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e balas de borracha. Black Blocs partiram para o confronto em meio à correria nas ruas do bairro com paus, pedras e rojões.

Os organizadores declaram o fim do ato na esquina da avenida Professor Fonseca Rodrigues com a praça Pedro Vaz instantes antes da confusão na barreira policial começar, a poucos metros dali. Por volta das 20h30, parte dos manifestantes recuou do conflito para a esquina, onde lideranças ainda faziam discursos em um carro de som para uma multidão. Outra parte, com pessoas mascaradas e munida de pedras, voltou e avançou contra a barreira policial. Após cerca de 15 minutos de conflito, a PM subiu para a esquina onde estava a maioria dos manifestantes e dispersou a multidão. A Força Tática se posicionou com escudos e um dos caminhões da Tropa de Choque perseguiu os manifestantes com jatos de água até a Praça Panamericana. Os confrontos entre black blocs e PMs se espalharam pelas ruas de Pinheiros, até a dispersão final por volta das 22h30 a no Largo da Batata. 

O presidente está em Brasília e deve chegar a São Paulo apenas na manhã deste sábado. 

Diversos sindicalistas, lideranças de movimentos sociais e políticos de oposição participaram da manifestação em São Paulo. Pelo carro de som que puxava a multidão em direção à casa do presidente, passaram os deputados federais Ivan Valente (PSOL-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP), além dos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ) e do vereador Eduardo Suplicy (PT-SP). "Hoje nós paramos o Brasil", gritava o deputado Ivan Valente. "Vocês estão de parabéns, o recado para Brasília é claro: não às reformas", afirmou o congressista.

Ato começou pacífico

Os manifestantes deixaram o largo da Batata, no bairro de Pinheiros, por volta das 18h30. Durante o trajeto, a marcha foi embalada por discursos e gritos de "Fora Temer" e "Ista, ista, ista, abaixo a reforma trabalhista". De acordo com os organizadores, por volta das 18h30 havia cerca de 70 mil pessoas no largo da Batata. A Polícia Militar presente no local não divulgou estimativa de público.

Ao menos 21 pessoas foram detidas na capital nesta sexta-feira em ações ligadas aos protestos contra reformas.

Agência bancária é depredada em ato no Largo da Batata, em SP

UOL Notícias

Atos de vandalismo durante o protesto

Enquanto manifestantes se concentravam no Largo da Batata, a cerca de 300 metros dali, na avenida Brigadeiro Faria Lima, um funcionário de uma lanchonete contou ter sido atingido por uma pedra. Segundo ele, a pedra foi atirada por um integrante de um grupo de pessoas com os rostos cobertos.

28.abr.2017 - Agência do banco Itaú na avenida Pedroso de Morais, na zona oeste de São Paulo, foi depredada por manifestantes na noite desta sexta-feira. Um grupo caminhou em direção à casa do presidente Michel Temer para protestar contra as reformas do governo, mas foram impedidos por policiais militares, que fizeram um bloqueio a cerca de cem metros da casa do presidente. Houve confronto - Aiuri Rebello/UOL - Aiuri Rebello/UOL
Agência do Itaú na av. Pedroso de Morais, é depredada por manifestantes
Imagem: Aiuri Rebello/UOL

De acordo com este funcionário e o segurança da mesma lanchonete, o grupo era formado por dezenas de pessoas de idades variadas, todas com os rostos cobertos. Muitos aparentavam ser adolescentes, segundo eles.

O mesmo grupo apedrejou parte do letreiro da lanchonete e os vidros da fachada de uma agência bancária localizada na mesma quadra. Lixeiras e sacos de lixo também foram incendiados na mesma região, mas foram apagados por bombeiros que vinham em seguida. Policiais militares, alguns munidos de escudos e acompanhados de pelo menos quatro carros da corporação, seguiam logo atrás.

Agência bancária é depredada na avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, nesta sexta (28)  - Ari Ferreira/Estadão Conteúdo - Ari Ferreira/Estadão Conteúdo
Agência bancária é depredada na avenida Faria Lima, durante manifestação no largo da Batata
Imagem: Ari Ferreira/Estadão Conteúdo

Concentração no largo da Batata

Um dos organizadores dos protestos em São Paulo, Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), afirmou, durante manifestação no largo da Batata, na tarde desta sexta (28), que esta é a “maior greve geral dos últimos 30 anos”. "Se em um dia de greve geral, sem ônibus, trem, metrô, milhares de pessoas vieram à manifestação, é prova de que o movimento grevista é legítimo e consegue passar um recado forte pro governo golpista", disse. Durante discurso em carro do som, o ativista também afirmou que "se não retirarem a pauta de reformas, vamos invadir e tomar o Congresso Nacional".

A manifestação foi marcada no local por diversos movimentos sociais e sindicatos, como o MTST, o Sindipro-SP (que representa professores do ensino particular de São Paulo) e a FPSM (Frente Povo Sem Medo) e parte da greve geral contra as reformas anunciadas pelo governo Temer. Manifestantes argumentam que os projetos em questão retiram direitos dos trabalhadores ao alterar pontos da CLT (Consolidação das Lei do Trabalho) e endurecer as regras para conseguir a aposentadoria.

"Os professores entenderam que era hora de aderir", afirma Luiz Antônio Barbagli, presidente do Sinpro-SP. "Essa reforma trabalhista que foi aprovada nada mais é do que uma precarização das relações de trabalho, sem nenhuma contrapartida para o trabalhador. Além do que, a reforma da Previdência, do jeito que está, vem para acabar com a aposentadoria de quem trabalhou a vida toda", diz ele.

Na concentração, havia muitas famílias com idosos e inclusive crianças. "Essa já é a quarta manifestação em que trazemos ela, para desde cedo ela entender o que é democracia e exercitar a cidadania, só assim esse país vai mudar", diz Thiago Carneiro, analista de TI de 38 anos, que compareceu ao protesto com a filha de 2 anos, a mulher, a cunhada e a mãe. "Até concordo que a legislação trabalhista e a Previdência precisam ser reformadas em alguns pontos, mas do jeito que foi feito e nem por um governo sem legitimidade que nem esse", afirma o analista.

O advogado Nabil Hobaiua, de 48 anos, compareceu ao protesto com a filha Nathalie, de 14 anos. "Ela achou importante vir e eu dou a maior força, fiz questão de vir junto", afirmou. "É nosso futuro que estão roubando né, precisamos lutar para defender nossos direitos", completou Nathalie.

Presidente emite nota

Nesta sexta, o presidente passou o dia no Palácio do Planalto, onde recebeu informações do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) sobre os protestos no país. Ele também se reuniu com os ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) e Dyogo Oliveira (Planejamento), e não participou de eventos públicos. 

Ele viaja para São Paulo neste sábado (29) pela manhã. Não há compromissos oficiais na agenda do presidente para a próxima segunda-feira.

Abaixo, leia a nota na íntegra:

Nota oficial

As manifestações políticas convocadas para esta sexta-feira ocorreram livremente em todo país. Houve a mais ampla garantia ao direito de expressão, mesmo nas menores aglomerações. Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente. Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro.

O governo federal reafirma seu compromisso com a democracia e com as instituições brasileiras. O trabalho em prol da modernização da legislação nacional continuará, com debate amplo e franco, realizado na arena adequada para essa discussão, que é o Congresso Nacional. De forma ordeira e obstinada, o trabalhador brasileiro luta intensamente nos últimos meses para superar a maior recessão econômica que o país já enfrentou em sua história. A esse esforço se somam todas as ações do governo, que acredita na força da unidade de nosso país para vencer a crise que herdamos e trazer o Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento social e do crescimento econômico.

Michel Temer, Presidente da República

(*Colaborou Bernardo Barbosa, em São Paulo)