"Não é pelo fato de ser gay que devo ser atacado", diz homem agredido com ácido
“Eu espero várias coisas: que o responsável seja pego e que isso sirva como exemplo para evitar outros casos como o meu. Não é pelo fato de ser gay que devo ser discriminado ou atacado." O desabafo é de um homem de 40 anos que foi atacado com uma espécie de ácido em um bairro nobre de Curitiba (PR), na noite de domingo (14). "Esse movimento não é só por mim, mas para que não aconteça de novo com outras pessoas. Não é justo.”
Segundo o relato do rapaz, o agressor teria jogado o líquido –ainda não identificado pela polícia– após uma suposta tentativa de assalto e teria proferido ofensas homofóbicas. Ele sofreu queimaduras no tórax, braços e rosto e estaria correndo o risco de perder a visão de um dos olhos. “Eu trabalho com informática, e meu olho é muito importante. Tudo isso por causa do ódio”, lamenta.
O homem foi encaminhado ao Hospital Evangélico em Curitiba, considerado referência para o tratamento de vítimas de queimaduras. Segundo a instituição, ele está em tratamento e segue internado em um quarto comum (não está na UTI). “Todas as medidas necessárias para o restabelecimento da saúde do paciente estão sendo tomadas através do trabalho de uma equipe multidisciplinar”, informam.
Por meio de nota, a Polícia Civil disse que a investigação está a cargo do setor que cuida de vulneráveis, ligado à DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Curitiba. A polícia afirma ainda estar ouvindo testemunhas e que as investigações avançam. “Outros detalhes não serão repassados para não atrapalhar as diligências policiais”, diz o comunicado.
Mobilização
O empresário Marcos Vinicius Santos, 47, é amigo da vítima há 15 anos. Ele foi o responsável por levar o caso à polícia e a entidades que atuam em favor da causa LGBT em Curitiba. “Entendemos que foi um ataque por causa da orientação sexual dele, até porque ninguém anda com ácido no bolso”, argumenta.
Um grupo de pessoas encontrou o homem ferido, chamou uma ambulância e fez os primeiros contatos com os amigos, entre eles, Santos. “Em um primeiro momento, achei que tinha sido um trote", diz o empresário, que, depois de verificar a gravidade do ocorrido, optou por denunciá-lo às autoridades. "Nós não podemos nos calar. É um caso que não pode passar em branco”, diz.
Segundo ele, há uma preocupação adicional além da com a recuperação física do amigo. “O cuidado hoje é também com o seu estado emocional, além dos ferimentos que precisam ser tratados.”
Vigília
Em 17 de março, foi comemorado o Dia Internacional contra a Homofobia, em alusão à retirada da homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID).
Na ocasião, na capital paranaense, foi realizada uma vigília em memória e em homenagem a vítimas da homofobia, na praça Santos Andrade. O objetivo foi o de esclarecer a sociedade sobre a situação do grupo. “Grande parte da LGBTfobia é decorrente da ignorância”, afirma Márcio Marins, coordenador da Associação Dom da Terra Afro LGBT, uma das entidades organizadoras do ato.
O caso ocorrido no último domingo se soma a uma série de atos violentos que ocorrem em nível nacional. “O Brasil é o país que mais mata lésbicas, gays, travestis e transexuais em todo o mundo. Só em razão da identidade de gênero ou orientação sexual que foge à norma conservadora da sociedade”, afirma.
“Há o reconhecimento de que esse grupo está em uma situação de vulnerabilidade. É preciso exigir um tratamento diferenciado, mas não um privilégio”, reforça Marins.
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