Setor imobiliário entrega a Doria plano para implantar "bonde moderno" no centro de SP
A Prefeitura de São Paulo avalia a possibilidade de construir uma linha circular interligando os principais pontos do centro da cidade. Um dos modais de transporte em análise é o VLP (Veículo Leve sobre Pneus), espécie de "bonde moderno".
De autoria do escritório do arquiteto Jaime Lerner, o projeto foi encomendado e pago pelo Secovi-SP (sindicato das empresas do mercado imobiliário e condomínios no Estado de São Paulo) e entregue à prefeitura.
Reunião realizada no gabinete do prefeito João Doria Jr. (PSDB), no dia 6 de abril último, tratou do projeto, com a presença de Lerner, do arquiteto Paulo Kawahara e dos secretários municipais Heloísa Proença (Urbanismo e Licenciamento) e Sérgio Avelleda (Transportes).
Por meio de sua assessoria de comunicação, a prefeitura confirmou que analisa o projeto e que apenas uma agenda oficial do prefeito teria tratado do assunto até agora, mas não quis dar mais detalhes.
Conforme apurou o UOL, o projeto está concentrado nas mãos de Proença, que assumiu a pasta de Urbanismo na gestão Doria com o apoio de entidades do setor imobiliário, como o Secovi.
Linha circular com 12,8 km de extensão
Conforme a proposta apresentada, a linha circular somaria 12,8 km de extensão total, dividindo-se em dois sentidos. No sentido horário, teria 5,8 km de extensão e 18 paradas. No sentido anti-horário, seguiria por 7 km, com 20 paradas.
O objetivo é que faça o transporte entre as principais localidades e equipamentos culturais do centro, como a praça da República, os largos do Arouche e do Paissandu, a Estação Pinacoteca, a Sala São Paulo e o Theatro Municipal. A extensão e a direção do traçado final estão em discussão. A linha teria semelhanças com a linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) Carioca, que interliga áreas da região central do Rio.
No caso de a escolha recair no VLP (outros modais, como VLT e mesmo uma linha exclusiva de ônibus, são cogitados), as composições utilizariam vias de tráfego (ruas e avenidas) já existentes na região e poderiam compartilhar o espaço com os veículos que hoje por ali circulam. Não haveria desapropriações de imóveis nem interferências na paisagem do entorno. A linha também seria um incentivo à menor circulação de automóveis na região.
O VLP correria numa vala central e seria alimentado por energia elétrica via catenárias (ligadas à rede aérea de energia, como no caso dos trólebus e dos antigos bondes paulistanos, que circularam pela última vez na capital paulista em 1968, cedendo espaço para os automóveis).
Um dos fabricantes mundiais de VLP oferece composições de três e até seis carros interligados, com capacidade para até 358 passageiros.
Eduardo Della Manna, coordenador executivo de legislação urbana do Secovi-SP, disse ao UOL que o projeto é uma "contribuição que o sindicato queria dar para a cidade de São Paulo" e atende a uma convocação do próprio Doria à participação cidadã. A entidade disse não ter outro interesse além do de contribuir com o desenvolvimento e a melhoria da atratividade da região central.
"Na percepção do Secovi, a implantação de um modal como esse no centro, com os outros modais de transporte já existentes, como o trem e o metrô, contribui para o reflorescimento da região", frisa Della Manna.
Para ele, seria mais um indutor de desenvolvimento de áreas degradadas e abandonadas, citando a região da Luz que ficou conhecida por cracolândia, onde a prefeitura e o governo estadual têm agido para a "revitalização urbana", de forma questionada por entidades e especialistas.
O arquiteto Paulo Kawahara, sócio do escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados e um dos autores da ideia, ressalva que se trata, antes, de "um conceito que está sendo avaliado" e, por isso, poderá ser alterado e mesmo rejeitado na íntegra pela prefeitura paulistana.
Kawahara pontua que o projeto, sozinho, não "é suficiente" para revitalizar o centro de São Paulo. "São necessárias outras ações no campo social, econômico, ambiental."
O arquiteto afirmou ainda que o escritório de Lerner não foi contratado pela gestão Doria e não está, portanto, trabalhando em propostas urbanísticas para a chamada região da cracolândia, como já foi noticiado.
Um cálculo inicial citado pelo Secovi-SP indica que cada km de VLP construído teria o custo de R$ 80 milhões. Considerando o projeto para a linha com 12,8 km de extensão, o custo total chegaria a R$ 1,024 bilhão.
Questionamentos
O arquiteto e urbanista Moreno Zaidan, bacharel e mestre pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) e especialista em planejamento urbano, explica que o projeto depende de algumas ponderações e respostas preliminares para questões: com que propósito a linha vai funcionar, que tipo de viagem vai atender, como isso estará articulado na rede geral de transportes e para qual faixa de velocidade?
"Só depois dessas questões resolvidas", diz Moreno Zaidan, "é que se vai ver a questão do desenho urbano desse equipamento na superfície de uma área, como a do centro, que tem alta circulação de pedestres, veículos, comércio. Como serão as estações?". Ele frisa que se pode resolver essas questões "bem ou mal".
Um outro questionamento ao projeto, segundo o especialista, seria o de sua real necessidade para a cidade. "Ele é de fato uma prioridade? Não seria mais importante investir esse dinheiro em outros corredores de transporte? Isso precisa ser discutido."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.